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É preciso ter muita coragem, diz Isabelly Morais sobre ser narradora

Saiu no site REVISTA CLÁUDIA:

 

Veja publicação original: É preciso ter muita coragem, diz Isabelly Morais sobre ser narradora

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Por Alessandra Balles

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Mineira de 20 anos fez história ao ser a primeira mulher a narrar um gol de Copa na TV brasileira

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“A sobra é do Golovin, na esquerda, Zhirkov, Golovin mais uma vez, tem cruzamento pintando, chega de cabeça… Gooooool! Da Rússia!” Com essas palavras e seu sotaque mineiro, Isabelly Morais, 20 anos, fez história no último dia 14 de junho. Ela é a primeira mulher a narrar um gol em uma Copa do Mundona TV brasileira. “Demorou demais, já tinha passado da hora [de ter uma mulher narrando]”, disse a CLAUDIA nesta quarta (20).

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A repercussão foi ainda maior três dias depois, no primeiro jogo do Brasil. Além dela, outras duas mulheres, Vanessa Riche e Bárbara Barbosa, goleira da seleção, formaram a equipe de transmissão na FOXSports. “Eu esperava que tivesse um certo barulho por ser um canal grande, internacional, mas não desse tamanho. Estou muito feliz com a forma como as pessoas abraçaram a ideia de ter uma mulher como narradora. Dá um recado de que é possível.”

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Filha mais velha de três irmãs, perdeu o pai quando tinha 4 anos. A mãe trabalha em uma escola e faz bolos para vender. “Ela está orgulhosa, acompanhando meu empenho e minha dedicação. O mesmo com os meus amigos, que me viram chegar desde o começo da faculdade empolgada com o jornalismo esportivo. Meu namorado também, porque ele trabalha com futebol e acompanha muito de perto a minha carreira.” O namorado é Marcello Neves, repórter que acompanha a seleção da Espanha neste Mundial.

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O gosto pelo futebol veio do avô. “Eu via meu vô vendo os jogos, isso me influenciou, mas ninguém me ensinou as regras, foi o hábito de assistir e de ler reportagens mais de análise sobre o assunto.”

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Estudante do sexto período de jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais, Isabelly saiu aos 17 anos da casa da família, em Itamarandiba, cidade de cerca de 35 mil habitantes no interior de Minas. Sempre teve o sonho de trabalhar com jornalismo esportivo, mas nunca tinha pensado em ser narradora. “É difícil você se projetar em algo que não tem exemplo, né? Eu não via as mulheres narrando, achava que era inalcançável. Eu sempre gostei de narração de rádio, como os narradores conduzem o jogo, os perfis, mas nunca pensei nisso pra mim.”

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Sua trajetória como narradora surgiu por acaso, por sugestão do jornalista José Augusto Toscano, seu chefe na rádio Independência, em Belo Horizonte. Quando ela entrou em contato via Facebook com ele pedindo um estágio, ele perguntou se Isabelly narraria futebol. Começou na rádio em julho de 2017. Foi produtora, repórter de campo, comentarista e apresentadora até estrear, em novembro do ano passado, como narradora no jogo entre América e ABC. “Narrar na rádio é muito mais difícil e desgastante, precisa ser bem mais rápido, descrever mais, criar uma cena. Na TV, você cansa quem está assistindo se falar o tempo todo, dá para respirar. São duas formas de se conhecer como profissional da voz.” Para Isabelly, não dá para dizer se homens ou mulheres narram melhor. “A voz feminina é mais leve, mais aguda, mais suave. Tem uma pegada especial e peculiar. É bela. Não devemos tentar imitar a narração masculina. O que já deveria existir há muito tempo é a coexistência dos dois.”

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NA TELA DA TV

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Isabelly chegou a FOXSports por meio do projeto “Narra Quem Sabe“, liderado pela jornalista Vanessa Riche e que selecionou três narradoras para compor o time que participa da cobertura da Copa. As duas colegas de Isabelly são Manuela Avena e Renata Silveira. “Nós três nos apoiamos muito. Qualquer uma que narrar a final da Copa, vamos ficar felizes, porque representamos todas.”

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“O futebol é um ambiente machista, não tenho a menor dúvida. Se um homem faz uma análise e fala bobagem, ok. Se a mulher fala algo que alguém discorde, dizem que está errando porque é mulher, então é um tipo de justificativa que se usa. Tem muita mulher que gosta de futebol e é neglicenciada. Em rodas de conversa, ela começa a falar e não levam muito em conta porque é mulher. É muito machista, a gente tem que se atentar a isso. Tenho certeza que há várias Isabellys pelo Brasil, meninas que se interessam pelo jornalismo esportivo. Tem Isabellys sobrando, mas faltam Toscanos, que identificam as pessoas e dão oportunidade. Nosso momento é de discutir o empoderamento feminino. O lugar da mulher no mercado de trabalho e onde ela quiser.”

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ESTAR PREPARADA

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O resultado da seleção da emissora foi divulgado no dia 12 de maio e, desde então, ela intensificou sua preparação para a Copa e é acompanhada por fonoaudióloga. “Estudo muito, os jogadores, os confrontos entre as seleções. Às vezes nem uso todas as informações, mas estar bem preparada me deixa mais confortável. É um período de muita dedicação, de desgaste, de cansaço, mas, durante a transmissão, me sinto tão bem e tranquila”, diz, sempre falando rápido.

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Tentar estar sempre bem preparada faz parte da sua vida profissional. “Quando a gente sonha, tem que sonhar com metas, mas estar aberta para as oportunidades que aparecerem, como narrar foi para mim. É preciso ter muita coragem para encarar, para colocar a boca no microfone, de ir pro ar. Tem oportunidade que não vem duas vezes. A gente tem que acreditar.”

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Seu próximo jogo é Alemanha e Suécia, no sábado (23). Depois do final da Copa, ainda não sabe qual será seu destino profissional _por enquanto, ela volta para a rádio Independência. “Comecei a trabalhar com jornalismo esportivo há menos de um ano [antes, fazia estágio na UFMG, em assessoria de imprensa], tudo mudou muito rápido. Vamos ver o que acontece. Só quero me aperfeiçoar. Não era um sonho que eu tinha, mas é um sonho que eu passei a viver. Hoje vejo as possibilidades que a narração pode me dar.”

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”Espero que a nossa participação deixe uma pulga atrás da orelha de outros veículos, então vamos olhar para a frente, para abrir horizontes.” Isabelly está preparada para o seu próximo gol.

 

 

 

 

 

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