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É preciso estar atenta, mesmo que nem sempre forte: violência contra a mulher, depressão e ansiedade

Saiu no site HYPENESS

 

Veja publicação original:  É preciso estar atenta, mesmo que nem sempre forte: violência contra a mulher, depressão e ansiedade

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Por Gabrielle Estevans

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Você acordou, foi ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes. Se isso tomou, em média, dez minutos do seu dia, nesse tempo alguma mulher foi estuprada. No sábado você saiu para jantar com amigos, tomou bons drinks e voltou segurx para casa. Se o passeio levou duas horas, nesse intervalo uma mulher foi assassinada.

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Os dados compilados no dossiê Violência Contra a Mulher assustam — e, de fato, deveriam. Quando o assunto é violência de gênero, o Brasil tem um destaque perverso no quadro mundial: estamos na quinta colocação entre os países com maior taxa de homicídios de mulheres. A nossa frente, apenas El Salvador, Colômbia, Guatemala e a Federação Russa evidenciam taxas superiores às apresentadas por este patropi. Pior: para mulheres transexuais, o perigo é ainda mais iminente. Temos a maior taxa de homicídios de transexuais do mundo, segundo dados da ONG Transgender Europe (TGEU.)

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Agressões, ameaças, opressão, explorações, estupro, tortura, violência psicológica, perseguição. Feminicídio. São algumas das palavras recorrentes no dia a dia de quem é mulher. Independente da forma e da intensidade, a violência de gênero se faz presente nas nossas existências e se esparrama tanto em espaços públicos quanto nos privados. Neste cenário caótico e aterrorizante, a conta da carga mental já está chegando — e sendo paga. Somos os líderes no ranking com mais casos de transtorno de ansiedade e depressão na América Latina. A maioria diagnosticada é mulher.

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Estamos adoecendo.

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Metade do contingente feminino — 50,2 milhões em 2011, segundo o IBGE — está em situação ainda maior de vulnerabilidade. Mulheres negras sofrem diariamente com a falta de segurança e remuneração digna. Vivem com a falta. Nessa ausência latente, a saúde mental das mulheres da base da pirâmide está destroçada. Não é o suficiente que falemos sobre autocuidado sem racializar a discussão. Que diferença há de fazer, afinal, se não mexermos profundamente nas estruturas?

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Foto do Nappy, banco de imagens formado exclusivamente por pessoas negras

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A discriminação e preconceito percebido isoladamente geram disparidades na saúde mental, ou seja, mesmo a pessoa negra com boas condições financeiras e alta escolaridade apresenta sofrimento psíquico por sofrer racismo. Existe uma associação positiva entre racismo percebido/discriminação e depressão, ansiedade, Transtorno de Estresse Pós Traumático. Apresentamos maiores níveis de estresse crônico que a população branca em todos os contextos pesquisados, sendo que mulheres negras referem mais estresse que homens negros.” 

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Jeane Tavares, psicóloga e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Jeane Tavares, em artigo sobre saúde mental da população negra, oportunidades, causas e consequências deste problema estrutural

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Entrevistei, em 2018, Aline Ramos, editora do BuzzFeed, para uma jornada de desenvolvimento humano da Comum. Aline, à época, tinha sido diagnosticada com depressão e resolveu falar abertamente sobre a doença tão estigmatizada em suas redes sociais. Hoje, traz o assunto para pautas jornalísticas de forma preciosa. Livroslistas e caminhos possíveis para que a gente não se abandone à própria sorte.

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Também participei do mesmo especial da Comum como personagem. No vídeo, relatei a experiência de então dois anos com o ir e vir da depressão. Porque é isso: doenças mentais não são passageiras como um resfriado. Elas seguem nos rondando, à espreita, durante, às vezes, toda uma vida.

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Precisamos estar atentas. Nem sempre é possível que estejamos fortes, mas é necessário que estejamos constantemente atentas. Seja com redes de apoio consistentes, com tratamentos psicológicos ou até intervenções médicas, quando necessário. Estamos nas trincheiras de uma guerra árdua e diária, mesmo as mais privilegiadas, mesmo aquelas que negam a existência das amarras do machismo estrutural. Estamos em guerra, mas estamos juntas. Nesse cenário, cuidar de nós mesmas é mais que indulgência, é uma estratégica política de sobrevivência, como já apontava, lá em 1988, Audre Lorde. O aviso, aliás, 31 anos depois, ainda é válido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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