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Dona de Si: Casar ou não casar, eis a questão

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  Dona de Si: Casar ou não casar, eis a questão

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Por Suzana Pires

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Casar ou não casar? Suzi Pires coloca a questão e abre o debate sobre a obrigatoriedade do casamento para as mulher em sua nova coluna

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Vocês devem estar se perguntando: porque a Suzi veio com esse assunto de casamento numa coluna sobre nossas vidas profissionais? E eu, humildemente, te respondo, minha cara leitora #DonaDeSi: quando uma mulher atinge o sucesso profissional a cobrança pela vida de casada atinge seu nível mais perturbador. Vou te contar tudo, abrindo meu coração sobre tal assunto.

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Sempre fui assanhada? Sim. Sexualizei cedo? Não. Por assanhamento gostaria que vocês entendessem que me refiro à animação pela vida, à gargalhada alta, à voz enfática, à liderança das danças e das zoeiras. Eu era (e ainda sou) assim: a amiga animada que faz todos ao redor se moverem. Isso não é ser melhor ou pior. É apenas meu jeitinho. Imagina esse “jeitinho” com 15 anos? Cheia de energia, hormônios e curiosidade? Sim, era engraçado e dava trabalho aos meus pais. Lembro de querer beijar os meninos por curiosidade. Eu via minha irmã beijando o namorado e queria fazer igual. Afinal, qual seria o problema em fazer algo tão bonito?

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Pois bem, acabei beijando todos os garotos do grupo. Eu não sabia dizer o que era beijar bem, mas sabia dizer quem eu queria beijar de novo e quem eu só queria beijar e beijar durante horas. Acho que assim começou o índice: “o quanto estou interessada num garoto”. Curioso é que naquela época eu já sabia identificar exatamente os meninos que eu só iria me divertir e aqueles que poderiam ser “meu namorado”. Uma jovem machista? Talvez. Mas foi tal instinto de preservação das minhas emoções que me salvou de alguns caras cruéis. Dali um tempo, me apaixonei. Pela primeira vez. Entendi que estava apaixonada porque com o tal cara eu tinha vontade de ficar, conversando ou não, só ficar com ele, quieta, sem necessariamente, beijá-lo. A presença dele me era confortável e foi nesse con-forto interno que tive minha primeira vez.

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Um longo namoro onde tive as primeiras experiências com paixão, ciúme, controle, irritação, alegria e a felicidade de se sentir amada. Entendi que eu era intensa, tanto no desejo quanto na repulsa e com o passar do tempo compreendi plenamente o que ativava minha repulsa: a falta de lealdade numa relação. Não estou falando de fidelidade, mas de lealdade, que considero algo muito maior e profundo que checar se meu namorado falou com a garota loira ou com a ruiva. Meu namorado podia falar com outras meninas, sair com os amigos, contanto que sua lealdade permanecesse ligada a mim.

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Entendo lealdade como a cumplicidade de vida que une duas pessoas em qualquer relação afetiva. É uma sensação de estar em dupla no mundo, uma liberdade em conhecer meu melhor e também meu pior. É viver sem jogo bobo, mas sim num tabuleiro mais casca-grossa em que as duas pessoas são brutalmente honestas com seus sentimentos, trazendo um ambiente de segurança e respeito total para a relação. Acredito que a cumplicidade seja o maior ativo de uma relação; maior que sexo. Viver em cumplicidade com outra pessoa é ter apoio e a cada dia entender, verdadeiramente, com quem você está compartilhando sua vida.

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Eu seria injusta com meu histórico de namoros longos (coisa que sempre gostei) se eu dis-sesse que jamais experimentei a cumplicidade que tanto prezo. Em cinco namorados firmes (adoro essa expressão), um deles entendeu o que eu propus e, por este motivo, foi o namoro mais verdadeiro que tive. Mas… éramos muito jovens e dar conta de tanta cumplicidade iria nos transformar numa quadrilha ao invés de um casal (risos). Terminamos a relação por necessidade de desbravar o mundo e nos perdemos um do outro, mas guardo, até hoje, a essência que ele me confiou. Isso é lindo.

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Nos outros longos namoros, essa tal cumplicidade esteve sempre em cima da mesa, mas jamais foi “comprada”, portanto foram relações intensas, mas sem essência. Numa delas, tive um namorado abusivo. Não fisicamente, mas moralmente. Ele fazia questão de falar que jamais daria certo como atriz porque não era bonita e que como autora ninguém iria acreditar em mim. E ele não fazia isso com sutileza. Era explícito. Fiquei refém desse pe-queno monstro até que consegui terminar essa relação. Tive outra relação longa que foi muito divertida, era um cara do bem e que fazia suas loucuras sem querer machucar quem estava em volta, mas acabava causando dor porque ele não entendia que poderia ser cum-plice da sua parceira. Após esse, teve outro que queria tudo: compartilhar a vida, a cumplicidade, ter filhos e até cachorro, mas eu não segurei a onda. Fugi.

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Sim, fiz a “noiva em fuga”. Naquele momento, eu não teria “espaço interno” para tanta cumplicidade. Meu foco havia se tornado a minha vida profissional e era nela onde eu es-tava depositando todo o meu coração, alma e força física. Uma pena, mas eu preferi abrir mão dele a fazer aquilo que mais odeio: não proporcionar um tabuleiro verdadeiro. Os anos passaram e minha vida profissional tomou não só meu coração, mas todas as minhas células. Eu não conseguia ir a alguns encontros porque numa sexta à noite eu estava traba-lhando e quando você desmarca mais de duas vezes, o cara já desistiu de você, né?

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De maneira consciente eu arquei com a conta a pagar das minhas prioridades. Tudo bem. Estava bem claro pra mim o que estava me fazendo imensamente feliz: a caminhada da conquista profissional, tudo que eu conseguia realizar e jamais havia imaginado que pode-ria. E a estabilidade financeira que eu, uma mulher artista, solteira e latina estava conquis-tando. Sempre celebrei isso em dobro, pois nasci no Brasil, um dos países mais patriarcais do mundo. E eu estava conseguindo quebrar muitos padrões femininos: uma atriz, comedi-ante, gostosona, mas que também é formada em filosofia, autora e produtora. Chupa essa manga, misoginia!

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Até que depois de inúmeras conquistas e nenhuma duvida em relação as minhas possibili-dades artísticas, recebi não uma cobrança, mas uma pergunta sincera e válida, vinda da minha mãe. (Deixando claro que ela nunca insistiu em me cobrar seguir algum padrão, porque rapidamente viu que isso não seria possível pra mim). Então, após eu realizar um grande sonho profissional, minha mãe me perguntou: “ e o amor?”

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Silencio. O que, mãe? Sobre o que você esta falando? E ela repetiu: “sobre o amor.” Eu havia esquecido este assunto!!! Eu havia me enchido de amor e cumplicidade no meu dia-a-dia de realizações de #DonaDeSi que não tinha percebido o quanto estava longe de qualquer possibilidade de relação. Na hora, me irritei com a pergunta dela, ela percebeu e com sua elegância não insistiu no assunto. Mas…a voz dela e sua pergunta ecoaram em mim…coisa que só mãe nos causa.

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CASAR ou NÃO CASAR, eis a questão, não era mais uma questão. O fato de não ser ca-sada não se tornou um peso pra mim, eu continuei vibrando pelas minhas realizações, mas comecei a levar em conta uma vida compartilhada com alguém. Deveria perseguir isso como faço com meus objetivos profissionais? Não sabia. Num momento, me vi perdida, sem a antiga manha, absolutamente distante dessa realidade. Fiquei imaginando como caberia uma pessoa na minha vida, como seria dar satisfação, conciliar famílias, enfim esses assuntos que envolvem casais. Daí, quando eu já estava cansada de me imaginar sendo a que concilia tudo, a mulher perfeitinha, “cavuquei” no fundo do meu coração e reconheci aquilo que eu sempre acreditei como característica principal de uma relação a dois: cum-plicidade e lealdade.

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A cumplicidade é minha resposta ao padrão. Não há necessidade de nada pré-programado, de arranjos mirabolantes e nem de qualquer complexidade quando o foco está no coração honesto; em gostar de descobrir a pessoa que está ao seu lado, de resguardar o espaço íntimo dela e o meu também, de entender que a esta altura ambos têm passados e grandes amores e grandes perdas e que um encontro de amor também envolve lamber feridas, identificá-las e fortalecer o outro com todo o amor disponível.

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Meu pavor em conciliar tudo o que faço com outra pessoa, passou e no lugar entrou a vontade de entender outra vida tão agitada quanto a minha, com inúmeras descobertas, vividas por um casal que se arrisca a amar. Senti que é possível construir uma relação, mesmo com a agenda cheia, por que para AMAR, não precisamos seguir qualquer livro de regra externo. Uma dona de si constrói sua vida profissional sob suas próprias regras e o que a im-pediria de construir uma relação tão excitante quanto? Para uma Dona de Si, Casar ou não casar não é mais a questão, mas, sim: amar ou não amar.

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Já pensou no seu coração hoje? No que você deseja? Nas suas prioridades?

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Sororidade sempre.

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Beijo grande,

Suzi Pires

 

 

 

 

 

 

 

 

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