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Cris Rozeira diz temer impacto da pandemia no futebol feminino: ‘Quem é que eles vão cortar primeiro?’

Saiu no site HUFFPOST.

Veja publicação original. Cris Rozeira diz temer impacto da pandemia no futebol feminino: ‘Quem é que eles vão cortar primeiro?’

Em entrevista ao HuffPost, a maior artilheira dos Jogos Olímpicos reconhece visibilidade da Copa de 2019 e faz críticas ao ‘coitadismo’ direcionado à modalidade.

Cristiane Rozeira é nome de artilheira. De quem está na lista dos cinco maiores goleadores da história da seleção brasileira e cuja trajetória se confunde com a história recente do futebol feminino. Em 2020, aos 35 anos, ela entraria em campo pela última vez ao lado de Marta e Formiga. Mas a pandemia fez com que seus planos fossem adiados. A despedida será em 2021, na nova data das Olimpíadas de Tóquio, no Japão.

O Santos, clube pelo qual Cris Rozeira joga atualmente, arrecadou R$ 400 milhões em 2019 e, nesta temporada, este valor pode ser expressivamente menor. Segundo o estudo, cerca de R$ 262 milhões. Em valores percentuais, o clube pode fechar a receita com 34% a menos. Não há dados específicos sobre a modalidade feminina.

“Nós ainda somos dependentes do masculino. Se um time quebra, passa por uma situação diferente, acaba nos afetando diretamente”, explica Cris. “Eu falo como atleta, e é possível que eles cheguem para nós e falem ‘ah, eu não tenho como manter, porque infelizmente vocês ainda não geram renda’. E eles [clubes] veem isso como um problema. Existe esse medo”, diz. “Enquanto a gente continuar enxergando modalidade como coitadismo, sempre com ‘não dá dinheiro, é prejuízo’, as coisas não vão acontecer.”

Mesmo diante da incerteza, o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino será retomado neste mês de agosto. O torneio foi suspenso em 15 de março, faltando três jogos para o encerramento da quinta rodada. Pelo Santos, a atleta jogará contra o Audax no próximo dia 26. “Imagina você manter todas as atletas o mínimo em forma possível nesse contexto. Vai ser bem difícil [o retorno]. Cada uma treinou com o que foi possível. Foi um desafio para o clube e igualmente para cada uma de nós.”

Além de parar de jogar, Cris diz que se viu em uma “montanha russa” na quarentena. Ao mesmo tempo em que sentiu que poderia descansar, recebeu notícias difíceis de lidar: a morte de um amigo próximo por covid-19, assim como a morte do ex-técnico Vadão, vítima de câncer e a internação de sua mãe. Teve ainda o processo de congelamento de óvulos.

“Esses cinco meses foram altos e baixos para mim. Aconteceu muita coisa, e no meio disso, fiquei três semanas parada depois do congelamento [de óvulos]”, conta. A atleta decidiu pelo procedimento em meio à pandemia, pensando em seu desejo de ser mãe no futuro e em evitar uma gravidez de risco.

‘Você tem que ficar provando que sabe jogar futebol’

Cris começou sua história com o futebol bem cedo, aos 14 anos. Em 2019, ela foi para a sua quinta Copa do Mundo como atacante. Natural de Osasco, em São Paulo, ela é considerada a maior artilheira de futebol em jogos olímpicos, com 14 gols. Ao longo da carreira, jogou na Alemanha, nos Estados Unidos, na França e na China, além de fazer história também em clubes brasileiros como  Corinthians, São Paulo e atualmente, o Santos.

Ela tem um currículo condecorado de títulos, entre eles duas Libertadores, dois ouros no Pan Americano, duas pratas olímpicas e um vice-campeonato mundial. Mas ainda assim, o preconceito por ser mulher no futebol é intenso tanto no campo quanto nas redes sociais. “Nossa, até hoje a gente briga com os caras que aparecem. É muito doido. Eu falo que é uma luta constante e diária. Parece que você tem que ficar provando o tempo inteiro que sabe jogar futebol.”

De quatro em quatro anos, o mundo para quando a seleção masculina entra em campo na Copa do Mundo. Mas essa tradição não se aplicava, até agora, à Copa feminina. Em 2019, pela primeira vez, quatro canais nacionais obtiveram o direito de transmissão ao vivo da competição e a Globo transmitiu todos os jogos da seleção brasileira. Com isso, mais visibilidade foi entregue às atletas – mas ainda é preciso muito mais.

“Apareceram mais meninas interessadas em jogar futebol. Eu acho que foi muito bacana principalmente poder incentivar as meninas, as crianças. Em termos de campeonato, depois da Copa, foi meio que um ‘boom’, né? A gente conseguiu trazer para cá atletas que jogavam fora do Brasil, ajudou muito a fazer com que as pessoas se interessassem mais.”

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