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Autonomia financeira: Uma realidade cada vez mais distante para as mulheres

Saiu no O TEMPO

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Em um país que sofre com mais de 14 milhões de desempregados, com taxa de inflação acima da meta perseguida pelo Banco Central e com um índice de endividamento recorde, que já assombra 71,4% da população, o sonho da conquista da autonomia e da independência financeira parece uma realidade cada vez mais distante para boa parte dos brasileiros, sobretudo para grupos sociais historicamente vulnerabilizados.
“A pandemia trouxe para as mulheres, por exemplo, uma situação de sobrecarga e retorno às tarefas domésticas e aos trabalhos de cuidados, reduzindo sua atuação no mercado de trabalho. De fato, o indicador de desemprego entre as mulheres foi 46,7% maior que o dos homens no primeiro trimestre de 2021. Ou seja, no caso de um agravamento deste cenário de inflação e desemprego, é evidente que é este público feminino que será mais implicado”, explica a advogada e gestora pública Mariana Lacerda.
Para ela, a falta de emprego ou a diminuição do poder de compra do salário traz, para esse grupo, a necessidade de somar rendas e, portanto, de maior sujeição financeira em relação a suas parcerias amorosas. “Há evidente risco de retrocesso, de essas mulheres que eram economicamente emancipadas voltarem a ser dependentes, principalmente a partir do impacto da pandemia na economia informal”, avalia a coordenadora do movimento Direitos Já.
“Essa dependência afeta, primeiro, as mulheres negras e periféricas, que já são as que menos têm acesso a políticas de incentivo, ao trabalho, precisando lidar com a dificuldade de encontrar locais para deixarem seus filhos quando conseguem um emprego”, acrescenta Simone Gallo, líder do departamento de diversidade da Condurú Consultoria.
Mariana alerta que o atual cenário econômico favorece casos de violência de gênero. “Esse já é um problema que cresceu com o isolamento social. Se, além do isolamento, adicionarmos a impossibilidade de manutenção pessoal, estamos falando de uma tragédia anunciada”, opina, acrescentando que, muitas vezes, as violações no ambiente doméstico e a submissão econômica andam juntas.
A expressão mais evidente dessa conjunção de problemas é a violência patrimonial, quando o dinheiro é utilizado para se ter controle sobre a mulher.
“É fundamental, para se quebrar o ciclo, um trabalho consistente de geração de emprego e renda para a mulher, é fomento de contratação nos mais diversos níveis de serviços.  E é igualmente importante criar programas de resgate emergencial das mulheres em situação de vulnerabilidade imediata: com rede de apoio e acolhimento, retirada de casa e renda provisória”, examina a advogada.
Educação financeira 
“Estamos vivenciando um momento em que os índices de inflação e de desemprego estão mais altos do que nos últimos anos. Nesse contexto, se, por exemplo, você está desempregado ou se, com a inflação desenfreada, não há correção do seu faturamento, então você estará correndo o risco de passar a depender de outras pessoas, do governo ou vai precisar reduzir o seu padrão de vida”, avalia o educador financeiro e mastercoach Rodrigo Schumacher.
Ele inteira que, para as pessoas que já gozavam de uma vida financeira emancipada, voltar à condição de dependência é fonte de grande frustração, sendo comum a ocorrência de adoecimento mental. Ao mesmo tempo, reconhece que as pessoas empobrecidas são as mais impactadas pelo descontrole inflacionário. “Enquanto classes mais abonadas podem abrir mão de viagens, por exemplo, para compensar a redução do poder de compra, classes com menos poder aquisitivo não têm onde cortar gastos”, examina.
Para Schumacher, porém, um componente cultural favorece o cenário de aumento do número de pessoas em situação de perda da autonomia. “Somos uma sociedade que não está habituada a se preparar para momentos de adversidade, em que as pessoas não se dão conta da necessidade de construírem reservas emergenciais”, critica.
“Infelizmente, a maioria da população não tem consciência sobre educação financeira. E entendo que esse assunto é pouco debatido, mas, por outro lado, é também verdade que esse conhecimento está disponível para todo mundo atualmente”, argumenta. O palestrante ainda sustenta que a atual situação deveria ser um alerta. “Crises vão acontecer. Nós precisamos estar preparados para atravessar turbulência”, afirma.

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