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Assédio é obstáculo à prática esportiva para as mulheres

Saiu no site O TEMPO

 

Veja publicação no site original:  Assédio é obstáculo à prática esportiva para as mulheres

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Levantamento indica que maioria das mulheres foi importunada ao ir para local de atividade física; Para pesquisadora, prática deve ser enfrentada por meio de diversas frentes

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Por Alex Bessas

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Mais que driblar a preguiça e conseguir algum tempo para colocar as atividades físicas em dia, Ana Paula de Oliveira, 28, precisa lidar com a importunação e o assédio de um sem número de desconhecidos quando faz caminhadas ao ar livre. Gerente de uma loja em uma rede de saladerias, ela chega a usar roupas inadequadas e desconfortáveis para a prática de atividades físicas na tentativa de minimizar a constrangedora e repetitiva situação – e a estratégia não costuma funcionar: ela raramente volta para casa sem ter ouvido, pelo menos, assovios e buzinas maldosas.

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Em se falando de assédio, a rotina de Ana Paula não é exceção, e, sim, regra. E há pesquisas que demonstram isso. Uma delas, encomendada pela Smart Fit, maior rede de academias da América Latina, indicou que 54% das entrevistadas já sofreram com comentários desconfortáveis durante o percurso até a academia. Além disso, mais de 60% já deixaram de usar alguma roupa de ginástica por medo. O estudo, em parceria com a Opinion Box, foi realizada com 1050 mulheres, de todos os estados do Brasil.

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“Eu saio de casa às 6h e volto às 22h. De manhã ou à noite, sempre aparece alguém para perturbar”, comenta a personal trainer Meiry Ramos, 31. Profissional da educação física, ela frisa que seu uniforme são as roupas esportivas. “Eu não posso mudar minha rotina, a minha vida. Então, eu apenas ignoro”, comenta.

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A reclamação é compartilhada pelas alunas de Meiry. “Elas dizem que se sentem desconfortáveis em sair da academia e preferem trocar de roupa lá”, cita, emendando que, na maioria das vezes, as situações de assédio continuam a acontecer.

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“Me sinto invadida, desrespeitada, como se eu fosse um produto na prateleira sendo avaliado. E, se estiver em local ermo, me sinto intimidada e com medo”, desabafa a também personal trainer Marthelena Aguiar, 31. Consciente que a prática é uma violação da sua imagem, ela prefere ignorar os episódios, ainda que causem desconforto.

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Como fica evidente em sua fala, em certas circunstâncias, se tiver que passar por trechos pouco iluminados ou sem muito movimento, prefere fazer trajetos alternativos. Mais da metade das mulheres ouvidas pela pesquisa demonstraram a mesma preocupação e reconheceram ter mudado o percurso até o local onde fazem atividades físicas.

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Vestuário não é o problema

“As situações de assédio e de importunação acontecem com todas as mulheres, independente da faixa etária e classe social. Quando focamos na roupa delas, a gente perde a explicação de porque as crianças também sofrem episódios do gênero. A questão é sobre homens que pensarem terem autoridade sobre esse corpo”, argumenta Luciana Andrade, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG (Nepem). A prática, diz, deve ser entendida como parte de um ciclo de violências imposto às mulheres: “Uma situação que é parte constitutiva da vida das mulheres. Se não sofreram, elas conhecem quem já passou por isso ou ainda vão passar”, examina Luciana. “É comum, para nós, o medo de estar sendo seguida, de sempre mandar mensagem avisando que chegou bem em casa”, aponta a estudiosa.

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Diante deste cenário, Luciana questiona: “O que as políticas públicas estão dando de resposta para essas mulheres? O que está se pensando para possibilitar um deslocamento mais seguro para elas?”. Em sua avaliação, policiamento ostensivo em lugares onde há grande volume de criminalidade denunciada, iluminação das vias públicas e a poda de árvores são algumas das respostas imediatas ao problema, que, ainda assim, estará longe de se resolver.

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Problema deve ser enfrentado em diversas frentes de trabalho

Luciana Andrade vê o assédio e a importunação sexual como um problema complexo, que precisa ser enfrentado em diversas frentes. “A criação de campanhas educativas é sempre um caminho interessante. Para além disso, é preciso haver a construção desse assédio como um crime, como uma ruptura de um direito, pois é preciso garantir a liberdade das mulheres de usar a roupa que elas quiserem. Também é necessário pensar uma atuação em rede, um trabalho conjunto de equipamentos da segurança pública, da assistência social, da educação”, avalia.

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Comportamento

“A causa é estrutural e abrangente e diz dessa cultura de entender o corpo da mulher como algo sem direitos, como se o homem pudesse acionar aquele corpo para se satisfazer”, diz Luciana Andrade.

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Mito

Desconstruindo a ideia de que vestuário ousado justificaria a violência sexual, uma mostra belga, de 2018, expôs as roupas usadas por vítimas de estupro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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