HOME

Home

Apenas 6% das trilhas de cinema em 2018 foram compostas por mulheres

Saiu no site ESTADÃO

 

Veja publicação original:  Apenas 6% das trilhas de cinema em 2018 foram compostas por mulheres

.

Compositoras ainda lutam para se firmar em mercado dominado por homens

.

Por Tim Greiving, The New York Times

.

Compositores foram contratados para dois próximos blockbusters sobre mulheres guerreiras – Mulher Maravilha 1984, de Patty Jenkins, e Mulan, dirigido por Nicki Caro com um roteiro produzido por três mulheres. Esses compositores são Hans Zimmer e Harry Gregson-Williams.

.

.

trilhas

 Tamar-Kali, compositora da trilha sorora de ‘Mudbound’ Foto: Dana Scruggs/The New York Times

.

Mais do que uma oportunidade perdida de emprestar às heroínas uma voz musical feminina, esse é um dos mais recentes exemplos de mulheres sendo dolorosamente esquecidas na música para o cinema. Um estudo realizado em 2018 pela Universidade da Califórnia do Sul revelou que dos 100 filmes de ficção com maior sucesso de bilheteria entre 2007 e 2017, somente 16 compositoras foram contratadas diante de mais de 1.200 homens.

.

Segundo outro estudo, do Center for the Study of Women in Television and Film, dos 250 filmes lançados em 2018, a trilha sonora em 94% deles foi composta por homens. “Os números são desanimadores, mas o panorama não”, disse Laura Karpman, veterana compositora de música para filmes (Paris Pode Esperar) e membro da Board of Governors da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas. “As pessoas estão avançando de uma maneira como nunca vi em toda a minha carreira”.

.

Tamar-Kali é uma das várias novas vozes num meio masculino e persistentemente branco. Mudbound, dirigido por Dee Rees, foi a primeira trilha da artista de Nova York, tendo feito a trilha depois para o drama da Netflix Come Sunday. Tamar está se reunindo de novo com Rees para uma adaptação do romance de Joan Didion, The Last Thing He Wanted. Como mulher afro-indígena no ambiente do punk de Nova York, ela já estava habituada a ser “uma figura atípica no meio de figuras atípicas”. “Isso alimentou sua criatividade”, disse Rees.

.

Como outras artistas mulheres, Tamar-Kali não tinha por meta compor música para cinema, mas recebeu a encomenda quando a diretora tomou conhecimento do seu trabalho. Mica Levi, roqueira britânica da banda Micachu and the Shapes, foi indicada ao Oscar por Jackie, e depois compôs inquietante trilha do filme Sob a Pele.

.

A compositora e celista islandesa Hildur Gudnadottir foi contratada para Sicário e o próximo Coringa, estrelado por Joaquin Phoenix – dois filmes de grande orçamento e do estilo “machão” – por causa do seu trabalho solo de música eletrônica experimental.

.

“As pessoas me procuram para um tipo específico de som, ou sensação”, disse ela. “Eles não batem à minha porta em busca de uma música do tipo, por exemplo, da de John Williams. O que me coloca numa boa posição porque me permite ser eu mesma.”

.

Coringa vai contra a tendência de filmes de super-herói cuja trilha é feita por compositores homens, como é o caso do próximo Capitã Marvel, estrelado por Brie Larson. Pinar Toprak, músico turco que compôs a música para Danny Elfman, de Liga da Justiça, no ano passado, é a primeira mulher a compor para um filme da Marvel.

.

Uma das poucas mulheres a compor uma trilha para um filme de grande estúdio em 2018 foi Germaine Franco, com a comédia Tag (Te Peguei). Depois de auxiliar John Powell, já indicado ao Oscar, durante anos, a compositora mexicano-americana chamou atenção ao emprestar a Coco muito da sua personalidade pessoal – ela orquestrou a trilha de Michael Giacchino e compôs várias das suas músicas, embora não tenha sido convidada para compor a trilha. Atualmente Germaine trabalha na comédia Little, de Tina Gordon Chism, estrelado por Marsai Martin, da série Black-ish.

.

Tudo isso levanta a pergunta: por que muitas trilhas de filmes – mesmo aqueles focados em mulheres como o novo Ghostbusters (Os Caça-fantasmas) e Oito Mulheres e Um Segredo – ainda são compostas por homens?

.

.

Passado

.

A história de mulheres compondo para o cinema não é longa. A pioneira foi Germaine Tailleferre, compositora francesa de 1926. Trinta anos depois, a americana Bebe Barron criou um som eletrônico de vanguarda para Planeta Proibido, com seu marido Louis Barron.

.

O seminal álbum de sintetizador do transexual Wendy Carlos Switched-On-Bach levou à sua colaboração com Stanley Kubrick em Laranja Mecânica e O Iluminado.

.

Angela Morley, também transexual (seu nome de batismo era Wally Sottt) foi uma compositora indicada ao Oscar cujos créditos incluem o filme animado de 1978, Watership Down (Uma Grande Aventura) e as séries de televisão Dinastia e Dallas. Shirley Walker era pianista e auxiliou Carmine Coppola a compor a trilha de Apocalipse Now. Walker, que morreu em 2006, também compôs trilhas para Batman: The Animated Series, e Final Destination (Premonição), além do filme de horror de 2003 A Vingança de Willard. Mas ela jamais conseguiu aparecer em filmes cuja trilha ela estava ajudando homens a compor.

.

“Não acho que ela participava das reuniões em que os homens estavam”, disse Lolita Ritmanis, compositoras que foi aluna de Walter. “Não diria que ficava ressentida. Foi uma lutadora até o fim”, completou.

.

.

Prêmios

.

A primeira mulher a conquistar um Oscar foi Rachel Portman, por Emma, em 1996. A outra a ser premiada foi Anne Dudley por The Full Monty (Ou Tudo ou Nada) no ano seguinte.

.

A indústria cinematográfica “tende a ser muito cautelosa”, disse Portman, acrescentando que os diretores se sentem mais tranquilos com compositores que já produziram sons similares antes – o que torna difícil entrar no setor.

.

“E esta sensação de segurança quando trabalham com uma pessoa que já foi contratada para outros filmes anteriormente dificulta a entrada de mulheres.”

.

Portman diz que trabalhou somente com dois diretores abertamente machistas e falou do desafio de ter à frente um cineasta que já pressupõe que ela não é capaz de compor músicas para cenas de ação ou algo que não seja tipicamente feminina. “E eu digo, está brincando? Vou provar que sou capaz.”

.

.

Iniciativas

.

Vários workshops, incluindo o Sundance Institute Film Music Program, que conseguiu alcançar uma paridade de gênero nos últimos dois anos, e o Ascap Film Scoring Workshop – tentam oferecer a mais mulheres uma experiência prática e acesso ao setor.

.

A Universal Pictures lançou sua Film Music Composer Initiative para encontrar mulheres e pessoas de cor talentosas. Os candidatos aceitos estão compondo partituras para orquestra e realizando sessões de gravação em Abbey Road, para curtas criados pela DreamWorks Animation.

.

Nora Kroll-Rosembaum compôs a música para o primeiro curta do programa, Bird Karma. Ela elogiou a iniciativa, dizendo que “essa porta estava bem fechada para muita gente”. E há novos recursos de apoio.

.

A Alliance for Women Film Composers foi criada em 2014, hoje conta com 400 membros e tem propiciado uma maior visibilidade das mulheres por meio de concertos e outros trabalhos. “É uma irmandade, um recurso”, disse Ritmanis, presidente da aliança.

.

“Acho que devido à consciência global dos direitos das mulheres e os movimentos #MeToo e Time’s Up existe hoje um interesse e uma chamada à ação por parte dos estúdios e dirigentes. As pessoas me telefonam para encontros e debater o que podemos fazer e agora existem mais oportunidades para as mulheres participarem dos testes de escolha de compositores para grandes produções”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no linkedin
LinkedIn

HOME