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Análise de sistemas: tecnologia não é ‘coisa de menino’, mas só 20% dos alunos do curso são mulheres

Saiu no site G1

 

Veja publicação original:  Análise de sistemas: tecnologia não é ‘coisa de menino’, mas só 20% dos alunos do curso são mulheres

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Baixo interesse do público feminino pode ser explicado por questão cultural e por falta de incentivo. Projetos de ONGs tentam reverter tendência.

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Por Luiza Tenente

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As pesquisas mostram: mulheres ganham menos, têm menor possibilidade de promoção no trabalho e representam a minoria dos estudantes e dos funcionários da área de análise e desenvolvimento de sistemas. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2000 a 2016, mais de 117 mil alunos se formaram neste curso no Brasil – e apenas 19,7% deles eram do sexo feminino.

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Projetos de ONGs e de grandes empresas tentam aumentar a presença de mulheres na área de tecnologia. No Google, por exemplo, considerando globalmente todos os funcionários do setor, 80% são homens. Para tentar reverter esse desequilíbrio, em 2008, em Israel, um grupo feminino organizou um projeto chamado “Mind the gap”. Com o objetivo de incentivar o interesse de meninas por tecnologia, a ideia chegou a outros países, como o Brasil.

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Camila Matsubara coordena o Mind the Gap, projeto que busca trazer mais meninas para cursos de ciências de computação e engenharia. — Foto: Reprodução/GoogleCamila Matsubara coordena o Mind the Gap, projeto que busca trazer mais meninas para cursos de ciências de computação e engenharia. — Foto: Reprodução/Google

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Camila Matsubara, engenheira de software do Google, tem 29 anos e trabalha desde 2013 na empresa global. Ela é uma das condutoras do programa. “Quando decidi seguir essa área de computação, ouvi frases como ‘só tem homem nesse setor, você vai ser minoria’ ou ‘você nem gosta de videogame, não vai se dar bem nessa profissão’”, conta.

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“Percebi, ao longo da minha carreira, que mulheres são menos ouvidas em reuniões e mais interrompidas. Por isso, nosso trabalho tenta trazer consciências às jovens e mostrar a elas que tecnologia não é coisa de menino”, conclui.

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Por meio de palestras de engenheiras e desenvolvedoras de sistema, o programa busca ensinar as primeiras noções de programação para adolescentes do sexo feminino. Elas aprendem a programar um aplicativo e a instalá-lo no celular.

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“É mágico perceber quando elas descobrem que são capazes. Antes das palestras, quando perguntamos quem tem interesse em tecnologia, em geral a porcentagem é de 20% a 37%. Depois das atividades, 60% passam a dizer que gostam da área”, conta Camila.

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Desde criança

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Diante do baixo número de matrículas de mulheres no curso de tecnólogo em desenvolvimento e análise de sistemas, especialistas levantam hipóteses para tentar explicar o desinteresse na área de tecnologia.

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“Faltam exemplos inspiradores para as meninas: pessoas importantes e famosas do setor são homens. Temos a Susan Wojcicki, CEO do Youtube, mas falamos muito mais de Zuckerberg (fundador do Facebook). Precisamos de referências mais reais e próximas”, afirma Camila, do Google.

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A questão cultural também surge como um fator importante no baixo incentivo às meninas. “É um problema com raízes profundas na nossa educação. Desde muito cedo, convivemos com estereótipos que reforçam que tecnologia não é para mulheres. Para combater esse preconceito, precisamos fortalecer os programas de inclusão de gênero. Também é necessário cobrar políticas sérias de diversidade”, diz Regina Acher, sócia e diretora-executiva da Laboratória Brasil.

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Priscila Pirani, de 33 anos, é um exemplo de mulher que busca combater esses estereótipos na infância. Ela entrou na faculdade de análise e desenvolvimento de sistemas aos 30 anos, quando já tinha duas filhas. “Estava faltando algo em mim. Não dá mais para seguir a historinha de que só podemos ser donas de casa. Meu irmão e meu esposo trabalham na área de tecnologia, então lutei para seguir o mesmo caminho”, conta.

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Priscila Pirani entrou na faculdade de análise e desenvolvimento de sistemas aos 30 anos, quando já tinha duas filhas. — Foto: Arquivo pessoalPriscila Pirani entrou na faculdade de análise e desenvolvimento de sistemas aos 30 anos, quando já tinha duas filhas. — Foto: Arquivo pessoal

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“Estou me formando por causa das minhas filhas. Quero mostrar para elas que é possível conquistar os objetivos, apesar dos preconceitos. Na minha turma, são só três meninas- não dá para continuar assim”, diz Priscila.

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Ela conta que, ao educar suas crianças, tenta “não criar princesas”. “Minha mais nova quis ter festinha de aniversário do Hulk. Ela é mais ativa, quer jogar futebol, fazer capoeira. Mas se quiser cozinhar, não tem nenhum problema. Desde que o objetivo não seja cuidar de um homem, e sim de ser independente”, diz.

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Camila, do Google, também crê que a infância pode ser determinante na formação dos gostos e das preferências. “Acredito muito na influência dos brinquedos nesses estereótipos de gênero. Brinquei de fogão e de boneca, mas também de computador, de joguinhos de lógica e de montar. Adorava ser a caixa da lojinha e calcular o troco para os outros”, brinca. “O incentivo dos meus pais também foi essencial. Eles me estimularam a gostar de matemática, de física e de química”, completa.

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A dificuldade de se manter na carreira

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Após enfrentarem preconceitos e escolherem a carreira de analistas ou desenvolvedoras de sistemas, ainda há o desafio de se manter na profissão. A diferença salarial em relação aos colegas homens é comprovada por pesquisas: existe uma disparidade de 17,4% no setor de tecnologia, conforme mostra estudo da consultoria Revelo. A média de oferta para mulheres é de R$ 5.173,00 – e, para homens, de R$ 6.337,00.

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No setor de desenvolvimento para aplicativos de celular, a diferença é ainda maior: R$ 5.270,00 para o sexo feminino e R$ 8.133,00 para o masculino.

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A chance de ser promovido a um cargo superior na empresa também é menor entre as mulheres. O estudo “Women in Tech 2018”, desenvolvido pela HackerRank a partir de dados de programadores dos EUA, afirma que, dos 18 aos 24 anos, 15,5% das funcionárias do sexo feminino ocupam uma função sênior – entre os homens, 22,7%. A diferença vai se mantendo por todas as faixas etárias:

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sem título

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Ou seja: as mulheres com mais de 35 anos têm 3,5 vezes mais chance de se manter em uma posição júnior do que os homens.

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Outra pesquisa, também dos Estados Unidos, mostra que existe uma dificuldade ainda maior de ocupar o mercado de tecnologia para mulheres negras – elas representam apenas 3% do corpo de funcionários do setor.

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