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A mulher e a foto que se tornaram símbolos da revolução no Sudão

Saiu no site UOL NOTÍCIAS

 

Veja publicação original: A mulher e a foto que se tornaram símbolos da revolução no Sudão

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Alaa Salah subiu ao tejadilho do carro e começou a cantar. Lana Haroun fotografou e publicou no Twitter. Três dias depois, o ditador caiu.

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Por Rui Frias

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O lugar da mulher é na revolução”. Uma das frases icónicas da resistência feminista ganhou nova atualidade com a fotografia de uma mulher a cantar em cima de um carro no Sudão, a liderar os protestos contra o presidente Omar Al-Bashir, que terá sido forçado pelo exército a resignar ao cargo esta quinta-feira, ao fim de 30 anos no poder.

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O papel das mulheres assumiu especial relevo nos movimentos de protesto contra o ditador Omar Al-Bashir no Sudão, com vários relatos de que seriam femininos os principais rostos da revolução em curso nas ruas. E o rosto de Alaa Salah, de 22 anos, emergiu como ícone dos protestos graças à foto partilhada por uma fotógrafa local, Lana Haroun, no Twitter.

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A fotografia, que se tornou viral na internet nos últimos dias, mostra a jovem sudanesa a cantar para uma multidão com os smartphones em punho, que a filma e segue de forma entusiasmada. Alaa surge com as vestes tradicionais (toub) das mulheres trabalhadoras do Sudão, inspiradas nas antigas Kandake – rainhas do antigo reino de Kush, nos territórios do atual Sudão, há mais de 3000 anos.

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No tejadilho do carro, nas ruas de Cartum, a capital do Sudão, Alaa Salah cantava para a multidão que se reuniu à sua volta e que respondia com “Thawra”, palavra árabe para “revolução”, a cada verso do poema cantado por Alaa.

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Ao jornal inglês The Guardian, a jovem sudanesa referiu ter ficado muito feliz com a projeção que a foto obteve por todo o mundo, por “poder alertar sobre a revolução em curso no Sudão”. “Desde o início dos protestos que eu tenho participado, todos os dias, porque os meus pais ensinaram-me a amar este país“, acrescentou, sobre as suas motivações.

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Alaa garante, de resto, que não tem nenhum background político. “O nosso país está acima de qualquer partido político ou divisão sectária”, reafirma. À CNN, a jovem sudanesa disse que “queria subir ao tejadilho do carro e falar às pessoas… falar-lhes de como devemos combater o racismo e o tribalismo, em todas as suas formas, que afetam o nosso dia-a-dia”.

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A fotografia foi tirada na segunda-feira, 8 de abril, dia em que Alaa foi “a dez ajuntamentos diferentes” e leu “um poema revolucionário”. “As pessoas ficaram muito entusiasmadas. Inicialmente encontrei um grupo de umas seis mulheres e comecei a cantar, elas acompanharam-me e o ajuntamento foi ficando cada vez maior”, conta a sudanesa, que o Guardian diz ser estudante de engenharia e arquitetura, enquanto a CNN reporta tratar-se também de uma jovem jornalista..

 

“Ela estava a representar todas as mulheres e raparigas do Sudão. Foi perfeita“, diz, por seu turno, Lana Haroun, a autora da fotografia que se espalhou rapidamente pelas redes sociais.

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Protestos desde dezembro

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Omar Al-Sharif caiu estão esta quinta-feira, forçado pelo Exército sudanês, ao fim de quatro meses de protestos. Os movimentos nas ruas contra o ditador começaram a fazer sentir-se em dezembro quando o preço do pão triplicou e as caixas multibanco ficaram sem dinheiro.

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Omar al-Bashir subiu ao poder no Sudão em 1989, quando liderou um golpe militar contra o então Primeiro Ministro Sadiq al-Mahdi. Bashir dissolveu o governo, os partidos políticos e os sindicatos existentes, declarando-se presidente do Conselho Revolucionário.

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No ano seguinte sobreviveu a uma tentativa de golpe e ordenou a execução de mais de 30 policiais e militares alegadamente implicados no golpe falhado.

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Em 1993, Bashir dissolveu o Conselho Revolucionário e restaurou a lei civil, declarando-se presidente.

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Genocídio e crimes de guerra no Darfur

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Mais tarde, foi acusado de apoiar as milícias Janjaweed no conflito no Darfur que eclodiu em 2003 e promoveu uma limpeza étnica contra a população não árabe que terá provocado já mais de 300 mil mortos, segundo estimativas da ONU.

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Em 2008, o Tribunal Penal Internacional apresentou queixas contra Bashir por genocídio e crimes de guerra no Darfur, mas as tentativas de julgar o presidente sudanês foram todas sem sucesso.

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No passado mês de fevereiro, perante o aumento dos protestos nas ruas, declarou um ano de estado de emergência no País, mas esta quinta-feira o Exército forçou-o por fim a resignar, após 30 anos no poder, segundo reportado por diversas cadeias internacionais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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