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A morte da cultura – e a nossa

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:   A morte da cultura – e a nossa

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A escritora Clara Averbuck escreve sobre o desaparecimento de verbas para a área da cultura, que está levando ao cancelamento de festivais, feiras e festas, e conclama à resistência

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Por Clara Averbuck

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Hoje recebi um e-mail.

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É a terceira feira literária cancelada neste ano. Uma delas foi protelada para 2020.

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Pensei: lascou. Como é que eu vou viver? Filha, boletos, gatos, cachorros. Uma vida inteira forjada na arte. E agora?

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Não temos mais Ministério da Cultura. As verbas para cultura estão desaparecendo e, com elas, feiras literárias, festas de costumes regionais, orquestras, festivais de cinema. O cinema em si levou um baque. Vamos acabar apenas produzindo histórias bíblicas com gente branca roterizadas pela Universal e biografias fantasiosas de figuras duvidosas. Quem sabe exaltando torturadores e violadores dos direitos humanos como heróis?

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O Brasil de 2019 é uma distopia.

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Arte, cultura e educação viraram “mamata”, viraram “doutrinação”, artistas e professores são “vagabundos” aos olhos de quem acredita em uma narrativa surreal de um lunático sem caráter e com talento para ditador nepotista.

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Por que eles temem tanto a arte?
Por que querem os artistas sem trabalho?

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O silêncio na guerra é ignorar o grito de quem não se rendeu. De quem sobreviveu.

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Porque sabem que a cultura e as artes, todas as artes, a escrita, a dança, as artes visuais, a música, Brasil, a música que nos fez mundialmente famosos, as artes são a maior arma contra a ignorância.

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Toda arte é política.
Quando não é política, também se posiciona.
O silêncio na guerra é ignorar o grito de quem não se rendeu. De quem sobreviveu.

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E os nossos gritos, nossas palavras, nossos textos, nossos corpos nas ruas são criminalizados. Todo mundo que se opõe à barbárie, violência, ignorância abjeta deste governo e seus comparsas são inimigos. São “vermelhos”. São comunistas, desde a ONU até a Folha de S.Paulo, desde o papa até a Revista Veja. Beiramos o delírio em uma época da exaltação da desinformação e das mamadeiras de piroca.

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Mas a arte, como sempre, resistirá. Cada sementinha plantada vai florescer e, por mais que arranquem algumas mudas aqui e ali para nos deixarem, vejam só, sem fala, seguiremos criando. Arte é resistência e é nela que prosperaremos, por mais difícil que possa parecer neste momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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