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A 1ª menina a passar em peneira de categorias de base de um time masculino

Saiu no site DIBRADORAS

 

Veja publicação original:  A 1ª menina a passar em peneira de categorias de base de um time masculino

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Por Renata Mendonça e Karla Torralba

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Quem é craque de bola desde a infância já costuma ir cedo para as categorias de base de um clube de futebol com o intuito de se preparar para o dia em que poderá virar profissional. É a base que forma o jogador e que, antes disso, o transforma em jogador. Só que quando a craque é uma menina, a história é um pouco diferente.

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Para uma garota, jogar bola por si só já é desafiar a lógica. Se ela conseguir autorização dos meninos para brincar com eles na escola, já é uma vitória. Mas aí se quiser levar isso mais a sério, disputar campeonatos, o desafio é ainda maior – é preciso encontrar escolinha (e torneios) que aceitem meninas. Para uma menina entrar num clube quando ainda é criança, então, é basicamente impossível. Afinal, não existem clubes de futebol (praticamente) para meninas de 8, 9 ou 10 anos. As categorias de base feminina já são raras, mas quando existem são para jovens que têm 14 anos ou mais.

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Mas a pequena Natália Pereira, de 9 anos, quebrou todas essas barreiras de uma vez. Na última sexta-feira, ela foi anunciada como a primeira menina a passar em uma peneira de uma categoria de base masculina no país. A partir de 2019, Nati vai defender as cores do Avaí, seu time do coração, no sub-10.

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Ela é a prova de que tudo é possível. Se a gente fosse falar um tempo atrás de uma menina jogando na base de um time profissional masculino, isso era algo completamente impossível de acontecer. Hoje pode, porque a Nati chegou lá”, disse às dibradoras a mãe Karyna Pereira, transbordando de orgulho da garota.

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Natália começou a jogar bola com o irmão, que é dois anos mais velho que ela, e aí entrou para escolinha com os meninos, mas sempre na ideia de brincar. Só que aos sete anos de idade, a garota decidiu: queria competir. Aí o desafio ficou maior, porque para isso era preciso que os pais encontrassem um time que aceitasse meninas e, consequentemente, um campeonato que a deixasse participar.

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“Ela tentou fazer a peneira do time que o irmão jogava, mas chegou lá de chuteira e tudo e não a deixaram fazer porque não era para menina. Aí meu marido fez um post nas redes sociais desabafando sobre a decepção dela e indicaram o ADIEE, time de um colégio, e o técnico a chamou para um teste lá. Ela acabou ficando, foi a primeira menina a disputar a Liga Metropolitana (eram 900 meninos e ela) e isso repercutiu na região”, relatou a mãe.

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No torneio dos garotos, Nati brigou pela artilharia até o fim e chamou a atenção dos pais das outras crianças. Inicialmente, eles achavam “bonitinho” aquela que chamavam de “menina do laço” na quadra. Mas quando viam o talento dela, logo gritavam para os filhos: “tem que marcar a menina!”, conforme conta Karyna aos risos. Ela diz que hoje a maioria aceita sem relutar o fato de haver uma menina jogando entre os meninos, mas que já ouviu muito aqueles comentários críticos de gente que fala: “menina jogando bola? como assim”. “Gente, 2019 né? Não dá mais para falar uma coisa dessas”, responde a mãe, que é fanática por futebol também, mas torce para o time rival ao que a filha vai jogar.

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“Eu fui até gerente de comunicação do Figueirense, sou alvinegra de coração, mas falei para o presidente do Avaí: vocês verão uma alvinegra vestindo azul e branco. Não tem como não torcer, a gente faz tudo por uma filha né?”.

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A peneira no Avaí

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Não foi simples convencer os dirigentes do Avaí a permitirem que uma menina participasse da seleção de atletas para o sub-10 do clube. Mas os pais de Nati insistiram que a garota era boa, e eles acabaram deixando que ela ficasse ali por uma semana para ser avaliada.

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Diogo Fernandes, coordenador da base do Avaí, ressaltou o mérito de Nati na avaliação e disse que não tem intenção de levantar uma bandeira com a menina.

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“Ela é como se fosse menino. Não vamos desviar a importância. Isso vai chamar atenção do público externo, mas não para o interno. Não queremos tirar o principal valor dela”.

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“Embora tenha psicólogo, vamos tratá-la como qualquer outro atleta do clube respeitando os gêneros e orientação dada a essa categoria. O intuito é dar formação para ela como dos demais. O principal foco é o mérito dela. Eu tenho receio de isso virar exploração comercial, de marketing e não evidenciar a qualidade técnica dela”.

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O coordenador explicou que, após o pedido dos pais de Nati para que a menina fizesse o teste no clube, agendou a avaliação e orientou a comissão técnica para que Nati não fosse beneficiada.

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“Disse à comissão para não ter benefício no teste por ela ser menina e ela comprovou. Apesar de ser apoiador do futebol feminino, a gente nunca mensurou que alguém pudesse jogar com os meninos, treinando e é uma situação normal. Ter a aprovação ao passar no mesmo teste foi inusitado. Ver a competência que a menina tem, isso me surpreendeu”, disse.

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Lucas Colturato, treinador do sub-10 do Avaí, e um dos responsáveis por avaliar Natália, afirmou que já conhecia o talento da garota de campeonatos de futsal onde a viu jogar. “A gente já tinha visto jogos dela. O que chamou bastante a atenção foi a personalidade dela, porque não é fácil uma menina estar jogando entre os meninos, e a parte técnica dela, o domínio, passe e a finalização. Geralmente os atletas dessa idade têm alguma noção do futebol, mas a parte técnica ainda precisa ser lapidada, e a gente percebeu que a parte técnica dela está muito avançada para a idade”, afirmou.

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Nati se juntará aos meninos em março, depois que o time retornar de competição. Ela jogará com 22 garotos nascidos em 2009. “O que a gente percebe é que os meninos abraçaram a ideia, eles não excluem, gostaram dessa novidade. Lógico que no início acharam diferente, estranharam ver uma menina ali. Mas o futebol é um meio em que você lida com muitas diferenças sociais, de raça, que te fazem ter de adaptar rapidamente. Pelo que eles demonstraram, estão abraçando essa nova situação”, pontuou o técnico.

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Apesar de agora se juntar ao time de sua idade, no teste a menina treinou até com meninos mais velhos. “Quando há um desenvolvimento satisfatório, aumentamos a dificuldade. Ela até treinou com meninos mais velhos. Ela é de 2009 e treinou com 2008. Não esteve no nível dos mais velhos, mas chegou próximo. No grau de dificuldade mais alto ela comprovou que tinha capacidade”, explicou.

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Agora, a rotina de Natália ficará ainda mais intensa, com o colégio e os quatro dias de treino por semana no Avaí. Além disso, desde o ano passado, a garota também foi selecionada para jogar na base feminina do Centro Olímpico-SP tendo que viajar uma vez por mês para a capital paulista onde fica treinando por uma semana – algo que ela também fará neste ano.

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A mãe de Nati conta que a menina ainda não tem muita noção da representatividade que já tem aos 9 anos de idade. Ela ficou feliz, chorou de alegria ao saber que tinha passado na peneira, mas ainda não tem ideia da conquista que isso representa para as próprias mulheres.

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“Para ela é uma vitória pessoal, mas para nós é uma vitória pro futebol feminino. Quando a gente viu a Marta dando uma entrevista falando que a maior vitória dela é a luta pelo futebol feminino, a gente se emocionou. Fizemos a Natalia ver esse vídeo várias vezes. Mesma coisa com a Amandinha, do Leoas da Serra, melhor jogadora de futsal do mundo por 5 vezes. A gente fala: a Marta, a Amandinha, e as outras jogadoras estão no mundo inteiro lutando por vocês. Então vocês têm que fazer isso pelas outras gerações”, finalizou Karyna.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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