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No Nordeste, 17% das mulheres já foram agredidas fisicamente, revela ONU

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Às vésperas do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, lembrado em 25 de novembro, a ONU Mulheres divulgou nesta quinta-feira (23) uma pesquisa que revela que 27% de todas as brasileiras do Nordeste com idades entre 15 e 49 anos já foram vítimas de violência doméstica ao longo da vida.

Na região, 17% das mulheres já foram agredidas fisicamente pelo menos uma vez. Salvador, Natal e Fortaleza ostentam o título negativo de cidades mais violentas para as mulheres.

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Às vésperas do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, lembrado em 25 de novembro, a ONU Mulheres divulgou nesta quinta-feira (23) uma pesquisa que revela que 27% de todas as brasileiras do Nordeste, com idades entre 15 e 49 anos, já foram vítimas de violência doméstica ao longo da vida. Na região, 17% das mulheres já foram agredidas fisicamente pelo menos uma vez.

Salvador, Natal e Fortaleza ostentam o título negativo de cidades mais violentas para as mulheres, quando consideradas as agressões físicas domésticas, com índices respectivos de 19,76%, 19,37%, e 18,97%.

Os números são da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, divulgada pela agência das Nações Unidas e elaborada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), o Instituto Maria da Penha e o Institute for Advanced Study in Toulouse. Análise foi financiada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres e teve o apoio também do Instituto Avon.

O levantamento entrevistou 10 mil mulheres, representativas de 5 milhões de mulheres que vivem nas nove capitais nordestinas. Em Maceió (69%) e Recife (53%), a frequência da violência doméstica desponta com incidência considerável (às vezes, frequente ou sempre) nos últimos 12 meses.

Nesse período, 11% das mulheres nordestinas foram vítimas de violência psicológica, enquanto 5% sofreram agressões físicas e 2%, violência sexual no contexto doméstico e familiar. Dentre as nove capitais investigadas, a violência psicológica foi identificada entre 16% das mulheres entrevistadas em Natal; a violência física entre 7% das mulheres de Maceió; e a violência sexual entre 4% das mulheres de Aracaju.

A divulgação dos dados faz parte da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Neste ano, a ONU adotou como tema “Não deixar ninguém para trás: acabar com a violência contra as mulheres e meninas”, em referência aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS).

Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, avalia que a pesquisa traz dados concretos que podem colaborar para a implementação do Marco de Parceria das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável 2017-2021 pela ONU Brasil e pelo governo brasileiro. “O Nordeste é uma das regiões com mais desigualdades no país, com machismo arraigado e concentração de população negra. A pesquisa capta a complexidade da violência de gênero com recorte racial e geracional, que demanda respostas políticas multissetoriais, como estabelece a Lei Maria da Penha ao evocar ações integradas da saúde, segurança pública, justiça, educação, psicossocial e autonomia econômica”, afirma a especialista.

Para a dirigente, a pesquisa “traça um quadro concreto para ação urgente do poder público e da sociedade brasileira, para impedir que mulheres e meninas fiquem para trás do desenvolvimento”.

“Estamos diante de um quadro mais delineado dos desafios do Brasil para alcançar a igualdade de gênero até 2030, como determina o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº5. Um passo decisivo é a continuidade deste estudo e a produção de outras pesquisas nas demais regiões do Brasil, fundamentais para a formulação e a execução de políticas públicas de prevenção e enfrentamento da violência de gênero”, defende.

Um dos pontos de destaque da pesquisa é fato de que apenas 30% dos integrantes de grupos como a vizinhança e o círculo social percebiam as agressões dirigidas às mulheres.

O levantamento foi divulgado em entrevista coletiva organizada com apoio do Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC Rio). O diretor do UNIC, Maurizio Giuliano, lembrou que a violência contra as mulheres não é apenas uma questão de direitos humanos, é também uma violência às relações sociais, à dignidade, da família e da comunidade: “O impacto dessa violência sobre as crianças, se houver, é igualmente grave.  A violência contra a mulher é um ataque à sociedade toda”.

Condições sociais, economia e saúde

A pesquisa tem três relatórios executivos: condições socioeconômicas e violência doméstica e familiar (dezembro, 2016; violência doméstica e seu impacto no mercado de trabalho e na produtividade das mulheres (agosto, 2017); e violência doméstica, violência na gravidez e transmissão entre gerações (outubro, 2017).

O estudo Violência doméstica, violência na gravidez e transmissão entre gerações, que está sendo divulgado durante os 16 Dias de Ativismo, aponta que, entre as mulheres que sofrem agressões físicas durante alguma gestação ao longo da vida (6% num universo de 10 mil mulheres), 77% são mulheres negras.

A análise também aponta que 24% das mulheres negras souberam da ocorrência de violência doméstica contra suas mães, ao passo que a mesma situação foi vivenciada por 19% das mulheres brancas.

Os relatório Violência Doméstica e seu Impacto no Mercado de Trabalho e na Produtividade das Mulheres mostram que, das mulheres vítimas de violência doméstica no Nordeste, 23% recusaram ou desistiram de alguma oportunidade de emprego nos últimos 12 meses porque o parceiro era contra. Entre as mulheres que não foram vítimas de agressões por seus parceiros, o índice foi calculado em 9%.

Ainda segundo o relatório, mulheres que sofreram violência doméstica nos últimos 12 meses relataram ter menor capacidade de concentração, de dormir bem e de tomar decisões, além de se sentirem frequentemente estressadas e menos felizes em comparação às mulheres não vitimadas pelos parceiros.

Na região Nordeste, mulheres vítimas de violência doméstica apresentam uma duração média de emprego 21% menor do que a duração daquelas que não sofrem violência. As vítimas também possuem um salário cerca de 10% menor do que as que não passam por esse tipo de agressão. De acordo com a pesquisa, ser vítima de violência doméstica está relacionado a quedas na produtividade e a um salário-hora menor. Essas consequências se agravam entre as mulheres negras.

Violência durante a gestação

A pesquisa aponta que 7% das mulheres agredidas durante a gestação têm de 15 a 24 anos. As agressões em todas as fases da gravidez foi verificada em 34% das entrevistadas (6% num universo de 10 mil mulheres). Os dados revelam implicações para a saúde das mulheres — com desdobramentos negativos para os seus direitos sexuais e reprodutivos — e das crianças.

As mulheres se tornam vulneráveis à depressão, estresse, comportamentos de risco com uso de drogas lícitas e ilícitas, pré-natal inadequado, sangramento vaginal, ganho de peso, hipertensão, pré-eclâmpsia, entre outros problemas de saúde e enfermidades. Em relação à criança, estudos da área indicam restrição de crescimento uterino, curta duração, redução de peso da criança ao nascer e uma probabilidade 0,9% mais alta de morte durante o nascimento. O risco de falecimento até o quinto ano de vida também aumenta — em 1,5% — entre esses meninos e meninas.

Para esse estudo, a análise se restringiu às mulheres entrevistadas pela pesquisa que tiveram pelo menos uma experiência de gravidez ao longo da vida, resultando em 4.056 mulheres que, efetivamente, responderam questões relativas à experiência de violência na gestação.

Espiral da violência de gênero

Uma das descobertas mais alarmantes é sobre a transmissão da violência entre gerações. Quatro a cada dez mulheres que cresceram em um lar violento sofreram o mesmo tipo de violência na vida adulta. Ou seja, há uma repetição de padrão em seu próprio lar. A chamada Transmissão Intergeracional de Violência Doméstica (TIVD) é definida como um mecanismo de perpetuação de agressões que, segundo os estudos, sugere maior incidência de violência doméstica em lares onde a mulher, seu parceiro ou ambos estiveram expostos à violência na infância.

O mesmo percentual também aparece quando avaliado o impacto da violência no comportamento masculino: 40% dos parceiros que cresceram em um lar violento também cometeram agressões contra suas parceiras.

De acordo com a pesquisa, uma a cada cinco mulheres teve contato com algum tipo de violência doméstica na infância ou na adolescência. Vinte e três porcento afirmaram ter lembranças da mãe sendo agredida e 13% sabem que a mãe do parceiro também sofreu algum tipo de agressão. Destas, 88% presenciaram — viram ou ouviram — as agressões físicas sofridas pela mãe.

O peso da violência doméstica também é maior quando há um divisão entre brancas e negras. Uma a cada quatro entrevistadas negras afirmou se lembrar de episódios de violência contra sua mãe. Já entre as entrevistadas brancas, o número é sensivelmente menor — uma a cada cinco afirmou ter presenciado alguma agressão.

A pesquisa revela ainda que 12% das mulheres relataram que o parceiro ou ex-parceiro (o mais recente), quando criança, soube das agressões físicas sofridas pela mãe. Oitenta e cinco porcento deles presenciaram os atos de agressão pelo menos uma vez. Um décimo das entrevistadas disse que seus parceiros e ex-parceiros haviam sido agredidos, pelo menos uma vez, durante a infância por familiares.

Em Aracaju, 16% das mulheres responderam que seus parceiros e ex-parceiros souberam ao menos uma vez das agressões sofridas pela mãe. Nove porcento das entrevistadas reportaram que seus respectivos parceiros e ex-parceiros foram agredidos na infância por familiares – neste último indicador, a concentração mais alta é em Salvador (15%).

Das mulheres vítimas de violência doméstica, 55% relataram que os filhos presenciaram o episódio ao menos uma vez.

Para o professor José Raimundo Carvalho, coordenador mundial e principal responsável pela pesquisa, os resultados são frutos de um trabalho inédito de cientistas nacionais e internacionais. “Compilamos aqui, pela primeira vez, um conjunto de dados único e longitudinal, que aborda a violência doméstica e seu desenvolvimento cognitivo-emocional e suas inter-relações no impacto das gerações”, destaca o especialista, que conduziu a pesquisa com o professor Victor Hugo Oliveira.

A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres investiu cerca de 2 milhões de reais no projeto. O resultado da pesquisa está sendo usado na construção de ações e políticas públicas para acabar com a violência. “Nessa etapa da pesquisa, podemos perceber o grande impacto que a violência doméstica apresenta não apenas ao núcleo familiar, mas a toda uma sociedade. Precisamos pensar no enfrentamento da violência como uma prioridade do Estado, envolvendo todos nesse debate”, afirmou a secretária nacional de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes.

“Para o Instituto Avon, é primordial apoiar pesquisas como essas no Brasil. Temos aqui um estudo inovador e sem precedentes no Brasil e na América Latina que endossa, com alto rigor científico, a nossa linha de atuação focada na disseminação de informação e na divulgação do trabalho brilhante que vem sendo exercido por organizações e acadêmicos brasileiros do porte do Instituto Maria da Penha e da Universidade Federal do Ceará”, ressalta Daniela Grelin, gerente sênior do Instituto Avon.

Assessoria de Comunicação da ONU Mulheres Brasil
Isabel Clavelin – 61 3038 9140 | 98175 6315
isabel.clavelin@unwomen.org

Assessoria de Comunicação da SPM
Andréia Araújo
(61) 3313.7095 – andreia.araujo@spm.gov.br

 

 

 

 

 

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