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Com foco em viagem solitária no mar, Tamara Klink relata machismo na vela

Saiu no site UNIVERSA: 

 

Veja publicação original: Com foco em viagem solitária no mar, Tamara Klink relata machismo na vela

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Por Marcela Paes

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O sonho de Tamara Klink, 21, tem um custo. Diferentemente da maioria, o objeto de desejo da estudante vale meses sem interação social, poucas horas diárias de sono e trabalho braçal pesado. Como recompensa, vai assistir de camarote a lindos pores do sol, chegará pertíssimo de baleias e vai ver ao vivo algumas das paisagens mais bonitas do mundo: Tamara pretende velejar completamente sozinha até a Antártica, continente mais frio, seco e com mais ventos do planeta.

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“Eu já fui sete vezes com a minha família e outras pessoas, mas meu objetivo é ir sozinha. Estou me preparando e é um longo caminho. Não posso colocar uma data, mas vai acontecer! Eu espero.”

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Enquanto isso não acontece, a filha do velejador Amyr Klink posta o processo de aprendizado em seu canal no Youtube. Pouco (ou quase nada) do glamour associado à atividade – sol, praia e drinques de guarda-chuvinha – aparecem nas postagens de Tamara. Lavar um banheiro do chão ao teto duas vezes no mesmo dia, limpar os muitos vidros da embarcação e dividir um espaço diminuto com várias pessoas são algumas das tarefas e desafios frequentes no dia a dia a bordo.

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“Eu não sabia nada de redes sociais, mas comecei a fazer os vídeos na primeira viagem em que tinha responsabilidades iguais às dos outros dois tripulantes. Nós trouxemos o barco de Abrolhos (BA) até Paraty (RJ). Era uma forma de manter os diários que eu fazia desde criança na minha primeira viagem com os meus pais e irmãs, mas como não tinha tempo para escrever, resolvi filmar e contar o que acontecia. Aí surgiu a ideia pro canal”, explica.

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Com uma audiência composta quase que exclusivamente de homens (96%), o canal de Tamara buscava no início -além de desmistificar o ato de velejar – popularizá-lo no país, principalmente entre o público feminino. “Quando eu comecei, tinha esse objetivo bem forte de trazer mais mulheres. Coloquei uns vídeos com desenhos, letras rosas… Tudo para tentar deixar mais fofo [risos]. Eu me apeguei a esses estereótipos e não consegui mudar nada. No Brasil, até pela situação socioeconômica, pouquíssimas pessoas têm acesso à vela”, diz.

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Na opinião de Tamara, o machismo no meio náutico é grande. Não tanto dentro do barco, com os colegas tripulantes “porque as tarefas são divididas e cada um faz a sua parte”, mas principalmente no ambiente de marinas. Ela cansa de ouvir perguntas do tipo “onde está seu namorado?’ ou “cadê o seu pai?”, quando circula por atracadores em que não a conhecem. “O ambiente é machista. Também tem aquele momento em que você está carregando um galão de 20 litros de água e um homem se oferece pra carregar, você diz não e começa aquela briguinha, insistência. Hoje em dia eu deixo carregarem [risos].”

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“Na última viagem que eu fiz, com um grupo de pesquisadores, eram 12 homens e só eu de mulher. Você vê, eu sorrio bastante, mas no começo eu tentei ser bem séria para eles saberem que eu não estava lá a passeio. Depois normalizou. Acho que muitas mulheres passam por isso em ambientes muito masculinos.”

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Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

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Estudante de arquitetura da FAU, Tamara quer trabalhar, no futuro, com projetos de marinas, portos e barcos. ‘Estou fazendo uma matéria sobre engenharia de barcos na Poli. Na classe sou e mais uma menina no meio de vários garotos e mesmo não entendendo muito das questões mais matemáticas, eu tenho um entendimento do funcionamento de embarcações que me ajuda muito. Meus colegas vêm me mostrar os projetos, pedem opiniões”, diz.

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Apesar da inegável influência dos pais, Amyr e Marina Klink, na relação de Tamara com a vela, ela conta que os dois procuram não se envolver muito em seus projetos e atividades. “Meu pai não quer que a vela seja uma coisa de obrigação nem me ensina muito as coisas”, diz. Quando tinha 15 anos, a estudante pediu ao pai que emprestasse seu barco para que ela pudesse ir à Antártica sozinha. Amyr respondeu que se ela quisesse fazer isso, deveria construir a própria embarcação.

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“Eu pensei: Ele não vai me ajudar? Não vai emprestar? Mas depois eu entendi que esse é o tipo de processo em que não adianta ter as coisas prontas. Eu tenho que fazer meu próprio caminho.”

 

 

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