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Ciberfeminismo: uma nova fase da luta das mulheres

Saiu no site INSTITUTO GELEDÉS: 

 

Veja publicação original: Ciberfeminismo: uma nova fase da luta das mulheres

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Por Franciele Garcia

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Com o avanço da tecnologia, novas possibilidades de divulgar uma ideia ou lutar por ela também surgiram. Tudo em nossa volta foi se adaptando, inclusive o feminismo. A expressão Ciberfeminismo não é muito citado, mas é uma vertente importantíssima.

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O ciberfeminismo nasceu no início da década de 90, termo dado pela teórica cultural britânica Sadie Plant e pelo coletivo artístico australiano VNS Matrix. As ciberfeministas eram ativistas que acreditavam que a tecnologia seria uma importante ferramenta para desestruturar as divisões de sexo e gênero.

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Nós somos a buceta moderna; positivo anti-razão; sem amarras desenfreadas sem perdão; vemos arte com nossa buceta fazemos arte com nossa buceta; acreditamos no gozo loucura o sagrado e poesia; somos o vírus da nova desordem mundial; desmembrando o simbólico de dentro para fora; sabotadoras do sistema do big daddy; o clitóris é um linha direta para matrix; a VNS MATRIX; terminadoras do código moral; caímos ao altar da abjeção; cutucando o templo visceral nós falamos em línguas; infiltrando interrompendo disseminando; corrompendo o discurso; somos a buceta do futuro. (O Manifesto Ciberfeminista para o século 21, escrito em 1991 pela VNS Matrix)

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Figuras 1 e 2: All New Gen – VNS MATRIX (1993): as ativistas pioneiras do Ciberfeminismo, o coletivo australiano VeNuS Matrix (1991-1997). O VNS Matrix era composto por Josephine Starrs, Julianne Pierce, Francesca da Rimini e Virginia Barratt. Perpetuou uma série de intervenções ciberfeministas voltadas para garotas. Fonte: http://vnsmatrix.net/

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O Manifesto Ciberfeminista foi uma homenagem à teórica social Donna Haraway que em 1985 havia escrito O Manifesto Ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX, publicado originalmente na Socialist Review.

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No manifesto, Haraway descreve a crise identitária dos movimentos sociais, principalmente a do movimento feminista, e a influências das novas tecnologias nesse movimento. Seus conceitos são fundamentais para o entendimento da teoria ciberfeminista, e oferecem um grande espectro de análise das relações entre feminismo e novas tecnologias.

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Ela criticava o movimento feminista pela forma que naturalizavam a “mulher”, era necessário desconstruir essa ideia sobre mulher, já que o discurso de naturalização era sobre mulheres serem fracas, submissas, emocionais e irracionais, que fazia parte da “sua natureza” ser mãe, que mulheres preferiam trabalhar em casa do que estudar física, etc. A partir dai era possível enxergar a importância do feminismo para desconstruir esses discursos .

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Quando Haraway se enxergava como ciborgue, ela afirmava que era um produto da ciência e da tecnologia, ela também era famosa pela sua afirmação “prefiro ser uma ciborgue a ser uma deusa”, que desafiava a tradicional concepção feminista de que a ciência e a tecnologia são pragas patriarcais a assolar a superfície da natureza.

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Um ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realidade social e também uma criatura de ficção. Realidade social significa relações sociais vividas, significa nossa construção política mais importante, significa uma ficção capaz de mudar o mundo. Os movimentos internacionais de mulheres têm construído aquilo que se pode chamar de “experiência das mulheres”. Essa experiência é tanto uma ficção quanto um fato do tipo mais crucial, mais político. A libertação depende da construção da consciência da opressão, depende de sua imaginativa apreensão e, portanto, da consciência e da apreensão da possibilidade. O ciborgue é uma matéria de ficção e também de experiência vivida – uma experiência que muda aquilo que conta como experiência feminina no final do século XX. Trata-se de uma luta de vida e morte, mas a fronteira entre a ficção científica e a realidade social é uma ilusão ótica. (HARAWAY, 2009, p.36)

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Figura 3: Retrato de Donna Haraway. Biologa, filósifa e escritora feminista. Seus trabalhos influenciaram os chamados Estudos Culturais e Estudos de Mulheres. (Imagem retirada do site  A Coluna )

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Na América Latina o ciberfeminismo ainda é recente, e novos discursos feministas estão sendo construídos, mas hoje, com a militância virtual, se tornou possível fazer com que o feminismo se aproxime de forma mais rápida das mulheres, possibilitando discussões e ate mesmo novas informações sobre o ativismo. Na internet é fácil encontrar sites, blogs e jornais feministas, mas as ciberfeministas ainda precisam lidar com a falta de apoio para continuar seus projetos e com comentários machistas vindo de pessoas com perfis fakes ou no anonimato.

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O anonimato que no inicio parecia ser algo favorável as ciberfeministas como uma ferramenta de se desprender das amarras de gêneros, se tornou a principal ferramenta de ataques misóginos e ameaças contra as ativistas na internet.

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Recebo doses diárias de insultos, ameaças e ódio em geral (recebo muito carinho também, não posso negar). Porém, de 2011 pra cá, já dei mais de 130 palestras presenciais em várias universidades por todo o país, e sabe quanto ódio enfrentei nelas? Isso mesmo, zero. Sou super bem recebida. (Lola escritora do blog Lola Escreva)

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Figura 4: Lola, escreve no blog Lola Escreva, onde ela comenta sobre feminismo, cinema, literatura, política, mídia e combate a preconceitos. Em sua conta no Twitter já denunciou diversos casos de ataques misóginos de anônimos e perfis fakes. Blog: http://escrevalolaescreva.blogspot.com/  (Imagem retirada do site  A Coluna )

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Manifesto Ciborgue de Haraway é um marco para o movimento como um todo, e mesmo com seus problemas, o ciberfeminismo vem ganhando adaptações em todo mundo. Lembrando que o ativismo virtual não substitui o ativismo real, ambos são necessários.

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Referências:

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HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue. Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; TADEU, T. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009, p. 33-118

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MAYER, Claudia. Ciberfeminismo: Tecnologia e Empoderamento. União da Vitória (PR): Monstro dos Mares, 2017.

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MALAQUIAS, Thaysa. O que é o Ciberfeminismo? Da origem por Donna Haraway às práticas atuais. Disponível em: <http://www.naomekahlo.com/single-post/2016/08/01/O-que-e-o-Ciberfeminismo-Da-origem-por-Donna-Haraway-praticas-atuais> Acesso em: 03 de setembro de 2018

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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