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Bater em crianças: conheça algumas consequências desse tipo de violência

Saiu no site UNIVERSA

 

Veja publicação no site original:   Bater em crianças: conheça algumas consequências desse tipo de violência

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Por Heloísa Noronha

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Sancionada em junho de 2014, a Lei Menino Bernardo (apelidada de “Lei da Palmada”) alterou o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) para estabelecer o direito de crianças e adolescentes de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante.

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O nome do texto refere-se ao garoto gaúcho Bernardo Boldrini, assassinado aos 11 anos de idade pela madrasta por superdosagem do medicamento Midazolam. O pai, segundo depoimentos, era negligente com a criança e, conforme as investigações, tinha interesse em sua morte. Até hoje a medida é motivo de polêmica pois há quem defenda que o Estado não deve se intrometer em questões que competem ao núcleo familiar.

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O fato é que existem diversas pesquisas que comprovam o que educadores vêm declarando há tempos: bater não educa, muito pelo contrário. As universidades do Texas e de Michigan, ambas nos Estados Unidos, se dedicaram durante 50 anos a um dos estudos mais aprofundados já realizados sobre o tema. Após acompanhar 160 mil crianças, o trabalho concluiu: em longo prazo, a violência acaba causando justamente os efeitos contrários aos desejados. Veja abaixo alguns deles e o que os especialistas dizem a respeito.

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Prejudica o desenvolvimento do cérebro infantil

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“A neurociência mostra que punições físicas frequentes podem causar alterações no volume do cérebro, em áreas ligadas ao aprendizado e à tomada de decisões. Também há evidências de que a medida resulta em menores coeficientes de inteligência, o chamado QI, e a baixa autoestima também”, aponta Elaine Di Sarno, psicóloga com especialização em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e em Terapia Cognitivo-Comportamental, ambas pelo Ipq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde também é pesquisadora e colaboradora do PROJESQ (Projeto Esquizofrenia).

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A crianças aprende que a violência serve para resolver problemas

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“Apanhar é uma situação totalmente incoerente e que confunde a criança. Apesar de acreditarem que estão educando os filhos para fazer parte da sociedade, os pais pregam a violência como forma de educação em casa. Então, na escola ou na rua, a tendência é que a criança repita o comportamento negativo da família e aja da mesma forma, socando o amiguinho ou praticando bullying“, pontua Deborah Moss, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo).

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Perpetua o comportamento que deveria ser corrigido

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Se uma criança, por birra ou pirraça, joga a comida no chão e quebra o prato, precisa entender que a atitude gerou um desperdício e que ficou sem ter o que comer. Trata-se do efeito de sua atitude. Se apanha, o que vai aprender? “Ela pode até se retrair, mas por medo, não por respeito. E por causa da força, não por assimilar o entendimento de sua ação”, diz Deborah.

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Causa confusão de sentimentos

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Crianças costumam nutrir um amor incondicional pelos pais. E esse sentimento não se quebra nem mesmo quando apanham. O que costuma acontecer, porém, é que meninos e meninas vítimas de violência sofram com baixas autoconfiança e autoestima. “A violência quebra a fonte de amor e carinho da criança, que é a família, e produz uma relação antagônica entre demonstração de amor e violência”, diz Michelli Freitas, que é psicopedagoga e diretora do IEAC (Instituto de Educação e Análise do Comportamento), em Goiânia (GO).

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A criança fica com dificuldade de identificar e denunciar abusos

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Sofrimentos e abusos fora de casa podem ser omitidos. Segundo Monica Pessanha de Azeredo, psicopedagoga e psicanalista infantil e de adolescentes, de São Paulo (SP), a violência afeta drasticamente o relacionamento entre pais e filhos. “Imagine a mensagem que damos quando nossos filhos aprontam e partirmos para a surra, sem levar em considerações outras alternativas que têm um efeito muito mais eficaz?”, questiona. “A mensagem é: eu apronto e apanho. E quando essa criança estiver em situação que precisa ser protegida pelos pais? Será que ela terá confiança de contar o que se passa? Muitas vítimas de abuso se sentem culpadas. A criança pode pensar ‘se eu apanho porque fiz algo errado, então nem vou contar nada’. É essa a lógica que, infelizmente, será adotada”, explica.

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A criança se torna uma pessoa agressiva também

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Crianças que apanham têm maiores chances de se tornarem agressivas na adolescência e na vida adulta. “Os traumas podem aparecer na forma de depressão, ansiedade, timidez excessiva, mal comportamento, expressividade violenta, dificuldade de se relacionar com os outros, entre outras questões, especialmente de saúde mental”, afirma Elaine. “Além disso, elas tenderão a ser mais cautelosas nas interações com os outros, pois passarão a se questionar se as pessoas prezam realmente pelos interesses e bem-estar delas. Bater pode não apenas mudar a maneira como as crianças interagem com o mundo, mas como seus sistemas de estresse são ativados. Na escola, a criança poderá ter um comportamento mais agressivo em relação aos amigos e professores. Seu desempenho poderá também ser comprometido, principalmente em matérias cujo jeito dos professores pode remeter aos dos pais”, avisa Mônica.

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