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As mulheres fizeram muita coisa em 2016

Saiu no site VICE:

O feminismo chutou a bunda do mundo nos últimos anos e em 2016 não foi diferente. Por aqui, publicamos muitas iniciativas incríveis que partiram da mulherada e também debatemos velhos assuntos que ainda não ganharam a devida atenção por parte da sociedade, da imprensa e, muitas vezes, dos órgãos competentes. A equipe de jornalistas da VICE Brasil deu atenção às pautas que envolviam empreendedorismo, saúde, assédio, fortalecimento político e artístico. Falamos sobre prostituição, cabelo crespo, laqueadura, fizemos um vibrador 3D e até dançamos num sound system organizado por mulheres. Eis nossa retrospectiva.

A MULHER NEGRA E A PERIFERIA

“A mulher negra da periferia sempre foi feminista”, traz o título da entrevista exclusiva que fizemos com Eliane Dias, coordenadora da SOS Racismo na Assembleia Legislativa de São Paulo e empresária do maior grupo de rap do Brasil, os Racionais MC’s. Durante duas horas a repórter Marie Declercq conversou com a empresária sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, sexualidade, gravidez e solidão.

Voz importante do movimento negro nacional, a filósofa Djamila Ribeiro também falou à VICE, abordando importantes pontos históricos que trazem à luz as justificativas para um Brasil ainda tão racista. “Desde o período escravocrata, a população negra é tratada com muita violência”, relatou nossa entrevistada.

InfoPreta é o nome da iniciativa de Buh D’Angelo, jovem da cidade de Guarulhos, em São Paulo, que presta serviços de assistência técnica e social para mulheres negras e de baixa renda a um preço justo. A matéria feita pelo estagiário da redação Bruno Costa foi publicada no Motherboard, canal de ciência, tecnologia e futuro da VICE.

A empreendedora Buh D’Angelo, fundadora da InfoPreta, que presta serviços de assistência técnica e social para mulheres negras e de baixa renda. Foto: Pétala Lopes/ Coletivo Amapoa/ VICE.

A fotojornalista Isabella Lanave percorreu as ruas de Curitiba para perguntar às mulheres como é viver na capital com o maior número de negros do sul do país, cidade na qual a data da Consciência Negra não é sequer considerada como feriado. As imagens maravilhosas fazem um contraponto com os relatos chocantes, como o de uma mulher de 42 anos que disse já ter sido atacada simplesmente por andar no centro da cidade. “Já tentaram colocar fogo no meu cabelo. Uma pessoa veio com um isqueiro no clube em que eu estava dançando e, de repente, falaram: ‘Olha, um cara vai colocar fogo no seu cabelo’.”

Assunto presente entre as mulheres negras, a transição capilar seduziu várias outras mulheres. Assumir o próprio cabelo, e também os próprios traços, não é bolinho. Entrevistamos garotas que deram um papo real sobre quão escroto ainda é o mercado de beleza no Brasil, com maquiagens em tons inapropriados para a pele de quem não é branca.

JORNALISMO, TECNOLOGIA, FOTO E ARTE

Depois da atitude babaca e machista do cantor Biel, várias minas da imprensa se uniram pra mandar a real na campanha “Jornalistas contra o assédio”. Ser mulher e entrevistar um homem nem sempre é fácil. Mas o abuso acontece também dentro das redações. A matéria traz o depoimento de uma jornalista que relembra todas as vezes que seu chefe pedia para fotografar os pés das estagiárias. Um absurdo.

A repórter Marie Declercq produzindo o próprio vibrador numa aula de Sex Hacking para a matéria “Meu primeiro vibrador DIY“. Foto: Larissa Zaidan/ VICE

Durante as Olimpíadas, notei poucas mulheres na cobertura dos eventos esportivos. Percepção essa que acabou motivando uma reportagem com algumas das poucas minas que estiveram por lá. “Fico fodida quando vejo essas coisas em campo, como assessor de imprensa de clube que prefere dar exclusiva pra um repórter homem do que para uma menina que está ali todo dia”, relatou a repórter fotográfica Adriana Spaca. “Mulher é tão capaz pra ter exclusiva quanto homem.”

A falta de espaço e oportunidade também incomodou duas amigas fotógrafas, que acabaram dando vida ao movimento #Shareyoursister, cujo intuito é divulgar mais trabalhos visuais de mulheres na internet.

A artista visual Ana Smile estourou na internet com suas imagens de santo pop. Com imagens de gesso, ela criava personagens como Frida Kahlo, Mulher Maravilha, Batman. Porém um cardeal da igreja católica ficou incomodado com tamanha blasfêmia e entrou na Justiça. Ana teve de interceptar as comercializações de sua obra.

Outra mulher que sofreu represálias foi a bombeiro Lilian Vilas Boas, do Paraná, que foi intimada pela corporação em que trabalhava e correu o risco de ficar detida por até oito dias depois de ter posado para um ensaio sensual. Detalhe: vários bombeiros homens de todo o país também fizeram ensaios sensuais e nunca foram repreendidos por isso. Temos fotos.

Imagem publicada na matéria “Femine Hi-Fi é a primeira festa sound system feita por mulheres em São Paulo“. Foto: Melissa Sirks/ VICE

Se teve alguém que curtiu muito em 2016 foi a fotógrafa Lud Lower, que contrariou os famigerados ensaios femininos e começou a fazer gifs sensuais de seus amigos homens. Publicamos alguns na VICE e foi sucesso absoluto.

Nós também curtimos. Inclusive, fizemos uma aula de Sex Hacking pra fabricar um vibrador DIY. Vai vendo.

Dançamos uns reggaes e dancehall com as minas do Feminine Hi-Fi, a primeira festa em formato de sound system de São Paulo formada exclusivamente por mulheres.

Espaço hacker feminista, guia para mandar nudes criptografadas com segurança, aplicativos de táxi com motoristas mulheres. A tecnologia, mais do que nunca, também é nossa.

SAÚDE É O QUE INTERESSA

De acordo com a Constituição Brasileira, o marido ainda precisa autorizar a mulher que deseja fazer uma laqueadura para não ter mais filhos. A editora Carla Castellotti explorou melhor essa questão conversando com especialistas.

Andar de bike pode ser ótimo pra sua saúde e também para a sua ppk. Entrevistei as criadoras de um selim que vibra. Não preciso falar mais nada.

A maquiadora Camila Lima, uma das entrevistadas da matéria “Por que maquiagem e cabelo viraram ferramentas políticas para as mulheres negras no Brasil“. Foto: Felipe Larozza/ VICE

Não vamos desmerecer a beleza do salto alto e do papel definitivo que ele teve na moda, porém não iremos passar pano para empresas que ainda obrigam suas funcionárias a usá-los todos os dias (o que muito provavelmente é o inferno na terra). Mulheres que passam por isso (e correm o risco de tomar advertência se estiverem sem saltos) falaram sobre o assunto nesta reportagem.

Puerpério é uma palavra esquisitinha que significa, basicamente, o período pós-parto. Para muitas mulheres, é uma época de pura treta. “Vejo meus amigos postando foto dos trampos que eles estão fazendo, e eu aqui, amamentando criança, não dormindo de madrugada, sem conseguir fazer a unha, zuada, sem grana, sem frila”, falou a fotógrafa Daniela Toviansky. “Vai dando uma bad do mal.”

As brasileiras engravidaram cada vez menos na última década. Por isso, entrevistamos mulheres que não querem ter filhos nem agora, nem nunca — desmistificando a ideia de que nascemos para ser mães.

PROTESTO, POLÍTICA, PROSTITUIÇÃO E ASSÉDIO

Mulher não sabe tocar? Contrariando o pensamento de muitos machos-alfa que predominam a cena musical brasileira, rolou uma lista coletiva com bandas formadas por mulheres. A matéria é assinada por Amanda Cavalcanti para o Noisey, canal de música da VICE.

Depois de inúmeros relatos de assédio que pipocaram nas redes sociais, várias minas botaram a mão na massa mais uma vez e compilaram bares e baladas machistas pelo Brasil.

Imagem que ilustra a reportagem “Mulheres brasileiras se juntaram ao movimento argentino do ‘Ni Una a Menos‘”. Foto: André Lucas/ C.H.O.C. Documental/ VICE

A britânica Grace Neutral, nossa princesa alienígena e tatuadora preferida, esteve no Brasil para fazer um documentário com as minas que resistem ao padrão nacional de beleza, tipo o combo “branca, loira, bumbum duro, magra e de cabelo liso”. Blé.

O debate acerca da prostituição no Brasil é quente e a mulherada tá fervendo. Nesta matéria, exploramos o Projeto de Lei Gabriela Leite, que propõe regulamentar as atividades dos trabalhadores do sexo.

“E se eu fosse puta”, questiona o título do livro lançado este ano por Amara Moira, travesti e doutoranda em Crítica Literária na Unicamp. “É difícil ter estrutura para você trabalhar em um ambiente tão hostil”, contou sobre a vida como prostituta.

A jovem argentina Lúcia Perez foi estuprada e brutalmente assassinada este ano. Em diversos países, as mulheres foram às ruas protestar. No Brasil também.

Isso é só uma parte do que rolou em 2016. Segurem o reggae porque em 2017 tem muito mais.

Publicação Original: As mulheres fizeram muita coisa em 2016

 

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