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Um ano após o feminicídio de Tatiane Spitzner, família ainda luta por justiça

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  Um ano após o feminicídio de Tatiane Spitzner, família ainda luta por justiça

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Na madrugada de 22 de julho, a advogada paranaense Tatiane Spitzner foi estrangulada e jogada da sacada do quarto andar do apartamento onde morava. O crime, gravado por câmeras de segurança, horrorizou o país e trouxe uma nova conotação ao termo “feminicídio” no Paraná

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Por Natacha Cortêz

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Nos dias de hoje, quando vai preencher um cadastro qualquer pela primeira vez, não é raro que a estudante universitária Luana Spitzner, de 23 anos, seja questionada por causa do sobrenome que carrega. “Você é parente da advogada que foi assassinada?”, dizem. Só houve uma vez em que ela mentiu, respondendo que não. “A pessoa me deixou desconfortável, dizendo algo como ‘cuidado que em Guarapuava estão jogando gente pela janela'”, lembra. O comentário fez mal porque para Luana, irmã mais nova de Tatiane Spitzner, morta no dia 22 de julho de 2018, só há uma forma de se falar sobre feminicídio: “não usando eufemismos e dando ao crime o respeito e o peso que merece”.

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Luana nunca havia ouvido falar em feminicídio até o fim da vida de Tatiane estar relacionado ao assunto. “Marido matar mulher: antes, era o tipo de notícia que eu via no jornal, na televisão, e achava um absurdo. Achava que era algo distante de mim e da minha família. Nunca poderia imaginar que isso pudesse acontecer com a minha irmã. Mas estava enganada. Por isso foi tão chocante para todos nós”, diz. Agora, ela e os pais, Jorge e Dolores, lutam junto ao Ministério Público para que o professor Luis Felipe Manvailer, 33, então marido de Tatiane e acusado de sua morte, seja condenado pelo crime.

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O agravante penal também virou uma “espécie de causa” para ela. “Não há um único dia em que eu não fale ou ouça a palavra feminicídio”, conta Luana, que cuida de uma página no Facebook e de um perfil no Instagramem memória à irmã – os dois com o nome de “Todos por Tatiane”. Nas redes, ela posta atualizações sobre o processo judicial e conecta vítimas de violência doméstica a redes de apoio. “É comum mulheres pedirem socorro. O que faço é colocá-las em contato com quem pode de fato ajudar.”

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Luis Felipe negou que tenha matado a mulher e disse que ela teria se suicidado

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Há um ano, o país assistia horrorizado a cenas gravadas por câmeras de segurança que mostravam Tatiane, de 29 anos, sendo espancada e encurralada pelo marido no elevador e na garagem do prédio em que moravam, em Guarapuava, Paraná. Na sequência do que se via nas filmagens, ela, segundo o Ministério Público, foi estrangulada e jogada da sacada por Luis Felipe. O casal morava no quarto andar.

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Horas depois, ao se envolver em um acidente na BR-277, a 340 quilômetros de Guarapuava, Luis Felipe foi preso preventivamente. Virou réu em um processo por homicídio, tendo o feminicídio como agravante – o que aumenta a pena. Durante uma audiência de custódia, o acusado negou que tenha matado a mulher e disse que a advogada teria cometido suicídio. O laudo do exame de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que a morte de Tatiane foi por asfixia mecânica, causada por esganadura e com sinais de crueldade.

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Em maio deste ano, a Justiça decidiu que o caso vai a júri popular – quando são cidadãos comuns e não um juiz que decidem se o réu é culpado ou inocente. Cabe ao juiz, posteriormente, aplicar a pena, caso ele seja considerado culpado. Ainda não há data para o julgamento.

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“Uma vez ela saiu com um shorts curto, ele não gostou e rasgou a roupa”

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Tatiane e Luis Felipe se casaram no mesmo ano em que se conheceram, 2013. Logo depois se mudaram para Alemanha, por causa de um doutorado que ele fez. Luana conta que amigas que a irmã fez no país relataram episódios de violência verbal sofridos por ela. “Teve uma vez ela saiu com um shorts curto, ele não gostou e rasgou a roupa.”

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A própria Luana também assistiu cenas em que a advogada foi intimidada por Luis Felipe. “Vinha notando a forma como ele a tratava. Sentia que ele era muito chato, que retrucava demais e a corrigia. Ele não tinha muita paciência. Isso sempre me incomodou, a ponto de eu falar com ela e também comentar com a minha mãe. Mas a verdade é que ela passava por cima dessas coisas, tentava ignorar. Como se fosse uma coisa ruim dele que ela precisasse aturar.”

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Luana sabe ainda que Tatiane chegou a dizer às amigas que o relacionamento do casal não estava indo bem e que ela tinha vontade de se separar. “Ela chegou a comunicar isso para ele, que refutou dizendo que melhoria, que queria tentar mais”, lembra.

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Data da morte se torna Dia de Combate ao Feminicídio no Paraná

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Uma lei tornou a data da morte de Tatiane como o Dia de Combate ao Feminicídio no Paraná. De acordo com a autora do projeto, a deputada Cristina Silvestri (PPS), a morte da advogada acendeu o debate sobre o tema da violência contra a mulher. Ainda segunda ela, ações serão feitas nos municípios. “Cada município tem a liberdade de fazer uma ação diferente, mas todas convertem no mesmo tema. Já estão sendo organizadas, por exemplo, exposições, passeatas, distribuição de materiais impressos, blitze e palestras”, explicou.

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Luana conta que em Guarapuava haverá toda uma programação reservada à memória da imã por causa da data. “De manhã será feita panfletagem. Durante à noite, no Teatro Municipal, acontecerá um evento a partir das 19h com a participação de mulheres da OAB.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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