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“Tive o cabelo raspado pelo meu ex-marido quando estava grávida de oito meses”

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:   “Tive o cabelo raspado pelo meu ex-marido quando estava grávida de oito meses”

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A confeiteira Natália Mauadie, de 25 anos, de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, viveu, sem perceber, um relacionamento abusivo. Até que, grávida de oito meses, apanhou e teve seu cabelo raspado pelo ex-marido. A jovem conseguiu denunciar o crime com a ajuda da família e hoje luta contra a depressão causada pelos traumas e se mantém forte por causa de seus três filhos

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Depoimento a Priscilla Geremias

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Conheci meu ex-marido no final de 2012, eu tinha 17 anos e ele. Tinha um filho de cinco meses, e ele sempre foi carinhoso com a gente, mas, apesar disso, percebi que tinha algo que me incomodava nele: era muito ciumento, mandava nas roupas que eu vestia, pedia que eu trocasse para que nenhum outro homem olhasse para mim. Mas eu achava normal, não sabia que vivia um relacionamento abusivo. Era ingênua, ele foi meu segundo homem. Por causa dele, eu até parei de ir para a escola. Mentia para minha mãe que estava indo, mas ficava namorando com ele. Eu estava muito apaixonada e, mesmo depois de descobrir duas traições dele, continuamos juntos.

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Um dia, depois de uma discussão feia, resolvi sair com algumas amigas e fui agredida pela primeira vez. Fui pra uma festa e ele apareceu lá, ficava me olhando de longe. Dancei, me diverti e vi que ele estava bêbado. Deu 4 horas da manhã, ele me chamou pra conversar fora da festa e eu fui. Ele começou a gritar comigo, pedir pra eu ir embora, e eu disse que não iria. Ele começou a chorar, me chamou pra um canto e me deu o primeiro soco. Fiquei tonta, não acreditava. Então ele veio com uma sequência de tapas e socos. Gritei por socorro, minhas amigas me ajudaram e ele foi embora.

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Cheguei em casa e não queria contar pra minha mãe, fui direto para o meu quarto e ele apareceu no meu portão, bêbado e chorando. Contou para minha família que me bateu e pediu perdão. Nos separamos pela primeira vez, mas continuamos mantendo contato por telefone e Facebook. Minha família não queria que a gente ficasse junto. Poucas semanas depois, descobri que estava grávida. Meu primeiro filho estava com sete meses e foi um baque muito grande aceitar essa gravidez, tinha acabado de passar por uma cesárea, minha mãe em choque. A família do meu ex ficou empolgada, mas mesmo assim não voltamos. Eu já estava saindo com outra pessoa.

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Com cinco meses de gestação, voltei com meu ex. Não sabia da burrada que estava fazendo, ainda era apaixonada por ele. Hoje eu sei que não era amor. O que parecia ser um sonho, com muitas promessas, de casa, felicidades, nosso filho… não era. Ele começou a questionar com quem eu tinha ficado no período solteira e descobri que ele estava conversando com uma ex. Coloquei os dois cara a cara para me contarem a verdade e ele deu um tapa na cara dela. Fique abismada e a defendi, o errado era ele. Então meu ex me deu um tapa também.

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“Tive o cabelo raspado pelo meu ex-marido quando estava grávida de oito meses” (Foto: Arquivo pessoal)

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Em casa, ele chorou e pediu perdão. Mas as agressões continuaram. Pensei em me separar porque não queria aceitar, mas ele dizia que ia mudar. Até que um dia, acordei antes dele e peguei meu celular para mexer no Facebook. Quando ele acordou, quis saber com quem eu estava falando, alegando que eu queria esconder algo dele. Eu disse que não estava fazendo nada demais, mas ele se irritou e começou a me enforcar. Eu estava com oito meses de gestação, tentei lutar contra ele, mas não consegui. Quando ele me soltou, eu fugi. Me escondi em um comércio local e percebi que estava perdendo líquido. Liguei para minha irmã e pedi que alguém me buscasse. Como ela não sabia do ocorrido, ligou para o meu ex-marido.

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Ele foi me buscar e me tirou do comércio me puxando pelos cabelos, e era irônico ao perguntar se eu estava mesmo passando mal. Fomos para o hospital e, depois de liberada, a médica pediu que eu ficasse de repouso. Entramos no carro  e ele me falou “você não sabe o que te espera”. Ele tirou a bateria do meu celular, me levou pro quarto dele, trancou a porta e, com uma máquina de cortar cabelo nas mãos, disse que eu iria pagar por ter mentido pra ele. Me falava que eu iria ter “aquela criança” ali mesmo para ver se era parecida com ele. Me bateu, me jogou no chão, depois me colocou em frente ao espelho e raspou todo o meu cabelo. “Ou você deixa eu raspar ou se prepara para apanhar até morrer”, ele me dizia. Começou a falar pra eu não chorar, que eu ia ficar horrível e nenhum homem ia olhar mais pra mim. Ele tirou uma foto minha, postou nas redes sociais dele e me obrigou a caminhar pela rua. As pessoas me olhavam, mas ninguém me ajudava. Até que um colega me viu, questionou o que estava acontecendo e me levou pra casa.

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Quando minha família viu, minha mãe gritava, meu irmão – que era pequeno – chorava. Eles acharam até que tinha sido um traficante que tinha feito aquilo comigo, porque quando eu falava que era meu ex, eles não acreditavam. Fomos para a Delegacia da Mulher, mas eu estava muito nervosa, passei mal e tive que ir para o hospital novamente. Ele estava foragido e me ligava pedindo que eu retirasse a denúncia. Depois de cinco dias desaparecido, ele se entregou. Naquele mesmo ano, 2013, ele ficou preso por seis meses e foi solto. Depois de quatro meses em liberdade, morreu.

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É muito complicado sair de um relacionamento abusivo. A pessoa tem que ter muita força. Muitas vezes eu nem sabia o que estava vivendo. Eu acreditava nos pedidos de perdão, nas juras de amor. Mas não durava um mês e já tinha uma nova agressão. Ele mexia no meu ponto fraco, meus filhos. Hoje, com 25 anos, eu nunca iria me permitir passar por isso.

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Após seis anos, ainda tenho alguns traumas do passado, fui diagnosticada com uma depressão e estou em tratamento. Faço doces para vender no bairro onde moro, mas alguns dias são difíceis. Na época eu não tinha vergonha de ser careca, tirava fotos, usava brincos, ia a igreja e meu cabelo foi crescendo a cada mês. Meu filho, hoje com 6 anos, não me pergunta sobre o pai, mas sofro antecipadamente por pensar em quando ele descobrir tudo que aconteceu. Porém, também sonho com dias melhores, muitas pessoas me dão força, principalmente minha família e meu marido, com quem tenho um filho de um ano. Pelos meus meninos, nunca vou desistir.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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