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Tecnologia ganha protagonismo no combate à violência doméstica na pandemia

Saiu no site Forbes

Veja publicação original: Tecnologia ganha protagonismo no combate à violência doméstica na pandemia

 

Se os números da violência doméstica no Brasil já eram enormes antes da pandemia, com as medidas de isolamento social eles se tornaram assustadores.

Sem lugar seguro, as mulheres estão sendo obrigadas a permanecer mais tempo no próprio lar junto a seu agressor, muitas vezes em residências precárias, com os filhos e sem renda. Nesta situação solitária, os únicos canais de ajuda tendem a ser digitais, muitas vezes via smartphone.

Segundo um levantamento feito em abril pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a pedido do Banco Mundial, os registros de boletins de ocorrência diminuíram neste período, o que reflete a dificuldade de realizar a denúncia durante o isolamento. No entanto, os números de feminicídio deixam claro o tamanho do problema.

No Acre, o aumento desse tipo de crime – praticado pelo homem contra a mulher – foi de 100% na comparação entre março de 2019 e março de 2020. Nos demais estados as taxas de crescimento também impressionam: 300% no Rio Grande do Norte, 400% no Mato Grosso, 46% em São Paulo. Nos primeiros dias de abril, a escalada continuou. Em São Paulo, por exemplo, entre 1 e 13 do mês passado, foram registrados seis feminicídios, contra três do mesmo período de 2019.

Se os canais oficiais de denúncia não são capazes de traduzir, em detalhes, esta realidade, a internet é. De acordo com um capítulo do levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feito em parceria com a empresa de análise de dados e redes sociais Decode, os relatos de brigas de casais feitos pelos vizinhos no Twitter aumentaram consideravelmente. A empresa coletou um universo de pouco mais de 52 mil menções contendo algum indicativo de briga entre casais vizinhos realizadas entre fevereiro e abril.

Após uma filtragem com foco apenas nas mensagens que indicassem a ocorrência de violência doméstica, resultaram 5.583 menções. Quando analisados, os dados desagregados por mês indicam um aumento de 431% entre fevereiro e abril, ou seja, os relatos de brigas de casal com indícios de violência doméstica aumentaram quatro vezes. Mais da metade (53% dos relatos) foram publicados apenas no mês de abril.

EMPODERAMENTO COM INFORMAÇÃO

Diante deste cenário, a Think Olga, ONG feminista criada em 2013 com o objetivo de empoderar as mulheres por meio da informação, viu a necessidade de adaptar o recém-lançado Isa.bot, robô para ajudar com orientações e ferramentas sobre o que fazer em casos de violência, para a nova realidade.

“O chat foi lançado em novembro do ano passado com vistas à violência online, como vazamento de fotos íntimas e extorsão”, explica Maira Liguori, diretora de impacto da organização. “No entanto, ao acompanhar o que estava acontecendo nos países que adotaram o isolamento antes de nós, percebemos que seria necessário atuar também nessa frente.”

A Isa.bot, que funciona por meio do Messenger, do Facebook, e do assistente de voz do Google – o que amplia o acesso a vítimas que não saibam escrever com muita desenvoltura – e já atendeu 69.000 mulheres, ganhou novos fluxos de conversa para englobar a violência de uma maneira geral em tempos de pandemia, e não apenas os crimes virtuais.

Maira explica que a ferramenta faz, inicialmente, uma validação da ocorrência, já que, muitas vezes, a vítima não tem clareza daquilo que está vivendo. Uma vez comprovada, a Isa.bot está programada para lidar com três situações distintas. A primeira é no momento da agressão, como um botão de pânico. Neste caso, ela faz o encaminhamento para os serviços públicos ou particulares capazes de lidar com a situação – e que estejam funcionamento durante o isolamento.

O segundo cenário passa pelo relato de alguém que conhece uma vítima de violência doméstica e quer ajudar – o que inclui uma série de orientações de como proceder para, inclusive, não piorar ainda mais as condições de quem está sofrendo. E, por fim, o robô é capaz de aprofundar o tema para qualquer interessada, alertando que a violência não é apenas física, mas passa por uma vasta gama de atitudes, como psicológicas e patrimoniais, e que as mulheres acabam não levando em consideração.

Maira ressalta que a tecnologia é uma ferramenta fundamental para lidar com o tema, e que muito ainda poderia ser feito para avançar nesse sentido, como integrar esses mecanismos de denúncia a um registro automático de boletim de ocorrência, por exemplo. Mas alerta que há algo ainda mais importante que precisa ser resolvido: a precisão dos dados.

“Os órgãos e serviços do governo diretamente ligados ao tema não têm um registro fiel das informações e, muitas vezes, elas não são integradas. Há uma dificuldade enorme em conseguir dados. Isso nos faz acreditar numa subnotificação. A nossa percepção é de que apenas 10% dos casos são realmente computados.” E, como num efeito dominó, fica difícil elaborar políticas públicas ou até criar mecanismos de defesa se nem sabemos, realmente, a dimensão do problema.

A VEZ DAS EMPRESAS

Empresas também estão se movimentando para usar ferramentas digitais para apoiar suas funcionárias que podem estar sofrendo algum tipo de violência doméstica. Segundo dados do Instituto Maria da Penha, o impacto destas situações no trabalho é devastador: mulheres que sofrem algum tipo de abuso faltam em média 18 dias de trabalho, ganham 10% a menos que suas colegas por conta de menor produtividade e têm mais chances de serem demitidas com menos de um ano de tempo de empresa.

Mete a Colher, startup recifense liderada por Renata Albertim e que já atendeu centenas de milhares de mulheres em situações de risco no país inteiro nos últimos quatro anos, é um exemplo de fornecedor deste tipo de solução.

startup, que atende mulheres através de canais como redes sociais e aplicativos com acolhimento e informações sobre quais canais de apoio mulheres podem buscar, criou um produto específico para empresas, chamado Tina, que oferece atendimento online para colaboradoras. Clientes da startup incluem Carrefour Natura – nesta última, o canal digital está disponível para mais de 5 mil mulheres.

“Ajudamos as empresas a acolherem e fortalecerem suas funcionárias e a reforçar o ponto de que elas não serão demitidas por estarem passando por violência em seu lar, que obviamente impacta no trabalho, especialmente durante a pandemia”, aponta.

A utilização desse canal web é benéfico para empresas e suas colaboradoras em uma série de aspectos. Segundo Renata, uma vez que as empresas conheçam a situação das colaboradoras, conseguem permitir que, por exemplo, as mulheres faltem no trabalho para fazer uma denúncia, tenham o horário de expediente alterado ou mesmo sejam transferidas de cidade. Tudo isso tem o objetivo de afastar a mulher de seu agressor.

“Em algumas empresas a chave não virou totalmente, mas a expectativa é que esse apoio dos empregadores continuará crescendo”, ressalta, acrescentando que o foco em saúde mental no home office trazido pela pandemia tornará a questão da violência doméstica, bem como seu impacto no trabalho, ainda mais óbvia para empregadores.

APPS ENTRAM NA LUTA

Na tarde de ontem (6), o Rappi, que entrega os mais variados tipos de produtos, anunciou o lançamento do botão SOS Justiceiras, que funciona dentro do aplicativo.

A iniciativa, criada em parceria com o projeto recém-lançado Justiceiras, é assinada pela agência AlmapBBDO. “Queremos que o maior número possível de mulheres saiba que podem contar com essa ferramenta de ajuda. Além disso, acreditamos que, com iniciativas assim, podemos ajudar a inibir esse tipo de crime, infelizmente tão comum”, diz Taissa Scvirer, squad leader na Rappi Brasil.

O grande diferencial do novo botão, segundo ela, é o potencial de alcance. “Hoje, no Brasil, um dos maiores problemas da violência doméstica é o desconhecimento das vítimas de como e onde pedir ajuda. Elas não sabem onde procurar e não possuem conhecimento jurídico sobre o assunto, além da vergonha – a maioria delas não se sente confortável em contar para familiares e amigos. A Rappi decidiu usar todo seu potencial de comunicação para combater à violência doméstica nesse momento em que as pesquisas mostram aumento dos casos.”

Na prática, o botão, ao ser acionado, direciona a mulher para o preenchimento de um formulário simples, que serve para fazer uma triagem rápida para que os profissionais de apoio – das áreas jurídica, psicológica, saúde e assistência social – conheçam a situação. Em seguida, uma das voluntárias do projeto entra em contato via Whatsapp, iniciando assim toda a conversa.

O projeto Justiceiras, como um todo, ainda oferece acolhimento, por isso a ação vem acompanhada da #NãoÉSóDenunciar, reforçando que se trata de uma iniciativa muito mais ampla, já que a vítima encontra suporte em todo esse processo, em um trabalho voluntário de pessoas reais.

O uso de aplicativos que já estão no celular da mulher que sofre abuso podem ser mais eficazes do que oferecer uma ferramenta separada para este fim. Renata, do Mete a Colher, pausou o desenvolvimento do app e concentrou os esforços em ferramentas como Facebook Instagram para continuar o atendimento individual à mulheres em paralelo à atividade corporativa, que se tornou a fonte de renda da startup.

“Temos feito autocríticas sobre a utilidade do app, pois apesar de estas ferramentas serem muito legais, não cobrem toda a sociedade”, aponta a fundadora, ressaltando limitações como espaço no celular ou não ter facilidade no uso de tecnologia. “As mulheres normalmente vão optar por aplicativos que são úteis no dia a dia: por isso, nunca deixamos de atender via redes sociais.”

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Mercado de smartphones enfrenta demanda deprimida

Depois de uma fase inicial de impacto na cadeia produtiva de smartphones, os efeitos negativos da pandemia no setor agora foram transferidos para o lado da demanda, segundo novo relatório da Omdia, empresa de pesquisa do grupo Informa.

As remessas mundiais de smartphones caíram 16,8% no primeiro trimestre do ano, com fornecedores lutando para gerenciar as interrupções na produção ocasionadas pelo coronavírus, os atrasos no lançamento de produtos e a diminuição na demanda do consumidor.

No início do primeiro trimestre, a paralisação da produção nas fábricas da China, que interrompeu a fabricação de telefones e seus principais componentes, acertou o mercado de smartphones. No entanto, temores de um fechamento prolongado das operações essenciais de produção, cadeia de suprimentos e logística na China foram atenuados, com sinais que apontam uma retomada de atividade econômica aumentando rapidamente no país.

“Embora as preocupações com a situação [de fabricação dos smartphones] tenham sido atenuadas, as marcas também enfrentaram novos desafios, incluindo cronogramas de lançamento interrompidos para novos telefones”, aponta Jusy Hong, diretor de pesquisa e análise de smartphones da Omdia, em referência aos planos de anúncios de novos produtos interrompidos pelo cancelamento do Mobile World Congress em Barcelona no início deste ano, onde muitas empresas planejavam lançar novos smartphones.

Remessas de smartphones durante os primeiros três meses do ano caíram para 274,4 milhões de unidades, ante 329,9 milhões no mesmo período de 2019, segundo o relatório da Omdia. Essa queda impactou todas as principais marcas de smartphones, com nove dos 10 principais fabricantes vendo suas remessas desabarem em comparação com o primeiro trimestre de 2019.

PROBLEMAS NA DEMANDA

O relatório nota que em grandes mercados, como os Estados Unidos, medidas mais restritivas de distanciamento social foram anunciadas só nas últimas semanas do trimestre em alguns estados, e o comportamento do consumidor permaneceu irrestrito até então. Mesmo assim, os fabricantes tiveram que lidar com diversos outros problemas nos primeiros três meses do ano, que devem se agravar no restante de 2020.

O impacto do coronavírus no business de smartphones agora tem a ver com o aspecto da demanda. Segundo Hong, embora os aparelhos possam ser produzidos em níveis quase normais, os mercados para esses aparelhos estão passando por algum estado de quarentena.

“Algo bem preocupante para os fabricantes de smartphones é um grande declínio na demanda global devido a medidas de bloqueio de governos”, ressalta Hong. “Alguns países fizeram mais progressos ao lidar com o surto, enquanto outros ainda estão no meio da luta contra a pandemia, e outros ainda não sentirão todos os efeitos da crise até o final do ano”, acrescenta.

Apesar da recuperação esperada em alguns países, o restante do ano deve ser desafiante para fabricantes de smartphones, um segmento que tem sido relativamente resiliente à crise, mas que nos últimos dois anos tem enfrentado uma desaceleração global, com usuários trocando de celular menos frequentemente. A Omdia prevê um declínio de remessas globais para 1,2 bilhão de unidades este ano, uma queda de 13,1% em relação ao 1,39 bilhão reportado em 2019.

“O mercado de smartphones enfrentará grandes lutas no primeiro semestre de 2020, à medida que diferentes países experimentam os períodos iniciais de choque e recuperação em momentos diferentes. É por isso que os [fabricantes] têm mais medo dos resultados de vendas do segundo trimestre”, disse Hong, que espera um início de recuperação do segmento em alguns países e regiões na segunda metade do ano.

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