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Romper ciclo da violência doméstica é meta de atendimento a homens condenados em Juiz de Fora

Saiu no site G1: 

 

Veja publicação original: Romper ciclo da violência doméstica é meta de atendimento a homens condenados em Juiz de Fora

 

Responsabilizar e mudar o pensamento de homens condenados por violência doméstica é o foco de um atendimento específico em Juiz de Fora. O projeto de pesquisa e extensão no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é uma das ações da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica (Revid) na cidade.

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Para saber mais sobre a iniciativa, que reúne o Poder Judiciário, o Ministério Público (MP), a Universidade e a Prefeitura de Juiz de Fora, o G1 conversou com o coordenador da iniciativa e professor do Departamento de Psicologia da UFJF, Luiz Gibier e com a promotora Nicole Frossard De Filippo, que acompanhou a iniciativa desde a implantação em 2014 até 2017.

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Ambos garantiram que não se trata de “passar a mão na cabeça de agressor”, que nem todos conseguem se recuperar, mas a maioria aproveita a chance de mudar, o que gera impacto na qualidade de vida das famílias envolvidas.

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A coordenadora da Casa da Mulher, Maria Luiza Moraes, avalia de forma positiva este projeto, uma vez que, se por um lado, o setor atua no acolhimento e no encaminhamento da mulher vítima de violência doméstica, este projeto age no outro lado da situação, que é trabalhar e acompanhar o homem envolvido.

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Desde a criação da Casa da Mulher em Juiz de Fora, em 2013, até fevereiro de 2018, já foram mais de 11 mil atendimentos no local. Nos dois primeiros meses de 2018, já foram 350 atendimentos registrados.

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Segundo levantamento da Polícia Militar (PM), em 2017, foram 18 mortes e 32 tentativas de homicídios e 1.857 agressões, superior às 1.754 em 2016.

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Abordagem mais integral, disse professor

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Os participantes são encaminhados ao grupo pelo Poder Judiciário e se comprometem a comparecer, no mínimo, a 10 reuniões semanais, com duração de 1h45. Só em 2017, foram quatro grupos e 48 encontros no total, todos realizados no Centro de Psicologia Aplicada da UFJF na Rua Santos Dumont, 214, no Bairro Granbery.

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São abordados temas como Lei Maria da Penha, violência conjugal, como lidar com impulsos agressivos, mundo do trabalho e do não trabalho e seus desafios, drogas e bebidas, sistema penitenciário e o autoritarismo para com os reclusos, história da dominação masculina, paternidade, sexo, prazer e traição, dentre outros.

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De acordo com professor Luiz Gibier, o projeto surgiu a partir da necessidade de acompanhar todos os envolvidos nos casos de violência doméstica em busca de melhores resultados.

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“Inicialmente a gente trabalhava junto às mulheres e percebemos que seria necessário trabalhar com os homens. Assim, por meio de uma abordagem mais integral, poderíamos chegar à meta de melhorar a vida da família, da mulher e dos filhos. Durante reunião da Revid, apresentamos o projeto e houve o consenso com MP, Judiciário, Casa da Mulher, OAB e aprovaram a iniciativa”, contou.

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De acordo com Gibier, o projeto não é para tratar agressor como “bonzinho”, mas oferecer a ele a chance de mudar o comportamento pelo qual foi responsabilizado e condenado judicialmente.

“A gente sabe que o sistema prisional pune, mas não recupera ninguém. Não estou dizendo que estes homens são bonzinhos, nem que são monstros. A violência masculina é construída socialmente a partir da ideia de que o homem pode tudo e leva à incidência dos casos. Temos que problematizar para ele entender que precisa mudar, reencontre um lugar no mundo e não volte a cometer um crime”, analisou o professor.

Nos casos acompanhados pelo projeto, Luiz Gibier destacou que a maioria entende que estes comportamentos agressivos não serão aceitos e serão punidos e que a troca de experiências com outras pessoas na mesma situação contribui para a mudança.

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“O cara foi condenado e está vendo que se permanecer neste caminho terá diversos complicadores. Não é aula e nem palestra. É um grupo de conversa sobre tudo, onde tem outras pessoas que estão na mesma situação. Isso faz os homens saírem do lugar comum e gera um processo de mudança na maioria. Pela nossa estimativa, 95% saem de lá modificados”, afirmou Gibier.

Segundo o coordenador do projeto, pelo público atendido em quase três anos, pode-se afirmar que a violência doméstica não tem “uma cara”.

” O condenado por agressão doméstica pode ter qualquer cara, profissão, idade e origem. No futuro, pretendemos fazer conscientizações voltadas para os jovens nas escolas, para já prevenir este comportamento desde cedo”, comentou.

Ele destacou que quebrar o ciclo da violência traz uma melhoria geral de qualidade de vida para todos os envolvidos.

“Buscamos um impacto imediato na vida destas pessoas. É um processo difícil, complexo e nas altamente gratificante. A mulher se recupera. Os filhos não vão considerar a violência ‘normal’ e fazer o mesmo quando adultos. Ao quebrar o ciclo, mostramos a todos que a vida é bonita e que a gente precisa agir para construir coisas boas e melhorá-la”, afirmou Luiz Gibier.

Vítimas de violência doméstica devem procurar atendimento na Delegacia Especializada e na Casa da Mulher, que funcionam no mesmo endereço, no Bairro Jardim Glória (Foto: Carlos Mendonça/ Divulgação)

Vítimas de violência doméstica devem procurar atendimento na Delegacia Especializada e na Casa da Mulher, que funcionam no mesmo endereço, no Bairro Jardim Glória (Foto: Carlos Mendonça/ Divulgação)

Promotora analisa atendimento

 

A promotora Nicole Frossard De Filippo, atualmente na 3ª Vara Criminal, autou durante três anos na 2ª Vara Criminal, que recebe os processos da Lei Maria da Penha. Por isso, acompanhou a instalação e os anos iniciais do atendimento no Centro de Psicologia Aplicada.

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“O perfil do condenado encaminhado para o projeto é o do réu primário, para impedir que ele volte a cometer atos de violência. Faz parte das condições a serem cumpridas, na pena estabelecida em julgamento. Ao final das sessões, eles recebem um certificado que é juntado ao processo. Realmente tem diminuído a reincidência deles na violência domestica”, disse ao G1.

De acordo com a promotora, outros municípios que queiram implantar a iniciativa precisam ficar atentos aos detalhes importantes ao atender vítimas e agresores nos casos de violência doméstica.

“A repressão do crime na Polícia Civil, o amparo às vítimas da violência, o atendimento ao homem agressor não podem ser misturados ou algum deles esquecido. Não basta proteger a mulher e os filhos, se houverem, também tem que tentar modificar o comportamento do homem. O agressor não pode ser atendido no mesmo lugar onde as vítimas recebem assistência. Tudo faz parte de um processo muito amplo, que sabemos nem sempre dá resultado. Nem todos conseguem, mas o balanço é positivo”, afirmou a promotora.

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