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O que “Stranger Things” pode ensinar sobre sororidade?

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:    O que “Stranger Things” pode ensinar sobre sororidade?

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(Atenção — esta coluna tem spoilers da nova temporada de “Stranger Things”)

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Por Cláudia Fusco

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Estava vendo a terceira temporada de Stranger Things num ritmo tranquilo e saudável (ou seja, maratonando noite adentro, sem parar pra piscar), quando percebi que algo tinha mudado, e muito, nessa série. Vale dizer que não sou de emendar episódios — a não ser The Good Place eBrooklyn 99, que curam de corações partidos a gripes —, mas estava tão envolvida com a história que não consegui parar. E depois de pensar um pouquinho, entendi o motivo do meu encantamento: o feminismo chegou a Hawkins.

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Stranger Things é um sucesso desde seu lançamento. Seu apelo começou pela nostalgia anos 80 e o suspense visceral. Os Duffer Brothers, criadores da trama, não poupam os espectadores de sangue, entranhas e gosmas de outra dimensão. Junte a isso uma turma de meninos simpáticos e uma garota misteriosa (mais uma bruxa modernapara colocar na conta) e aí está: sucesso de público e crítica. Mas depois de duas temporadas, a fórmula começou a cansar. A solução da Netflix foi jogar para valer na parte três, trazendo personagens mais carismáticos, aprofundando relações e dando às mulheres mais do que espaço e voz, mas verdadeiro protagonismo na trama.

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Não é só a amizade de Eleven e Max que levanta essa bola (e sim, o episódio em que elas conversam sobre meninos e vão curtir a vida no shopping é uma fofura). É a curiosidade incansável de Nancy, mesmo que isso custe seu emprego e relacionamento; é a importância de Joyce para a trama, que sai do papel de mãe preocupada e cresce como investigadora de mistérios sobrenaturais. Robin, a melhor personagem nova da série, é capaz de desvendar códigos escondidos por militares. Até mesmo Suzie, namorada de Dustin, que faz uma pequena participação no último episódio, é crucial para o desenrolar da história. Isso sem falar em Erica, a garota de 10 anos mais fierce da ficção científica.

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Não é à toa que o vilão da história é encarnado em Billy, que ao mesmo tempo seduz e despreza mulheres. Ao longo dos episódios, seu temperamento explosivo é misturado à violência da criatura que invade seu corpo, criando situações dolorosas de assistir. As cenas em que a criatura hospedada em Billy ataca suas vítimas são uma clara referência ao estupro. É simbólico e importante que as grandes heroínas da história sejam mulheres.

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Stranger Things é produto de uma sociedade que exige histórias sobre mulheres diversas, pensantes e ativas. Não aceitamos que a ficção científica seja mais um espaço de silenciamento e objetificação. Se os anos 80 nos trouxeram a princesa Leia de biquíni dourado para o prazer de Jabba, nos anos 2010, ela é uma líder estratégica e uma referência para Rey, a heroína dessa história. Somos do tempo de Offred e a revolução feminista em The Handmaid’s Tale, de personagens negras de todas as idades em Uma Dobra no Tempo, de ótimas personagens em Black Mirror.

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Mas pluralidade não basta. Boas líderes, guerreiras e corajosas, sempre fizeram parte da história das histórias fantásticas. Mas sempre solitárias. O que Stranger Things e outras boas obras de ficção científica querem nos dizer, hoje em dia, é que a união faz a força. Não é mais suficiente que Eleven seja poderosa sozinha: é preciso de um timaço de apoio para salvar o dia. Bem parecido com a vida real, mesmo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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