HOME

Home

Nove estupros por hora. Mas foi sem querer

SAIU NO SITE UOL

 

Cerca de 120 milhões de meninas em todo o mundo já foram estupradas ou sofreram algum tipo de relação sexual forçada em algum momento de suas vidas, de acordo com a ONU Mulheres, o que representa 1 a cada 10.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), entre 15% e 17% das mulheres já sofreram violência física ou sexual em algum momento da vida.

O Brasil registrou 78.463 casos de estupro em 2024, uma média de 214 vítimas por dia, ou nove mulheres e meninas violentadas por hora, conforme dados do Ministério da Justiça.

O número, por si só alarmante, representa apenas uma fração da realidade: estima-se que apenas 8,5% dos casos sejam denunciados. Em alguns estados, como a Paraíba, o crescimento foi de mais de 100% em comparação ao ano anterior.

Os casos são diários, públicos e muitas vezes banalizados. Vão de um médico preso por violentar uma paciente durante o parto a um artista conhecido internacionalmente que dopou a namorada antes de estuprá-la e justificou com um “foi sem querer”.

Com números tão elevados, surge a dúvida: estamos diante de um aumento real da violência sexual ou de maior disposição das vítimas em denunciar? A resposta, infelizmente, é dupla: as denúncias aumentaram, mas os crimes também.

E, mesmo com esse crescimento, estima-se que só 8,5% dos casos cheguem ao conhecimento das autoridades — segundo o Ministério dos Direitos Humanos e levantamentos de organizações especializadas.

Por que o silêncio persiste? Porque denunciar ainda custa caro. Há medo, vergonha, insegurança financeira, receio de prejudicar os filhos, o impacto na família e na comunidade— especialmente quando o agressor é alguém próximo: 64% dos estupradores são familiares da vítima, e outros 22,4% são conhecidos, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Mais da metade das vítimas são meninas de até 13 anos.

E não basta romper o silêncio: muitas vezes, quem denuncia enfrenta julgamento, culpabilização e revitimização institucional. O sistema, em vez de proteger, frequentemente coloca em xeque a palavra da vítima, que, não raro, acaba ocupando o banco dos réus, sendo ela própria investigada, questionada e desacreditada.

O retrato se agrava quando olhamos para o que acontece nas audiências de custódia. Dados do Conselho Nacional de Justiça mostram que, entre 17 mil casos de violência doméstica, mais da metade dos agressores foi liberada no mesmo dia. O risco retorna à porta de casa.

Pense em uma mãe que denuncia o estupro da filha menor. O agressor é um parente. A família nega os fatos. A criança é desacreditada. Mesmo assim, o processo segue. E então, na audiência, o estuprador é solto. Que segurança essa criança terá?
Essa é a realidade enfrentada por tantas vítimas que ousam buscar justiça. A maioria dos agressores volta para casa, e as vítimas, para o medo.

Não se trata apenas de indignação. É preciso ação.

Segundo o conceito criado pela escritora Vilma Piedade, vivemos uma era de dororidade— uma forma de solidariedade que nasce da dor compartilhada entre mulheres negras, marcada pelo racismo, pelo sexismo e pela invisibilidade histórica.

No Brasil, essa dor tem cor: mulheres pretas são as principais vítimas de violência sexual, representando mais da metade dos registros de estupro no país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024. Quando somamos raça, gênero e pobreza, a vulnerabilidade se agrava.

Mas, essa dor não caminha sozinha: ela se alia à sororidade, que não pode ser apenas afeto ou empatia, mas sim um pacto político e social entre mulheres para enfrentar a violência e exigir justiça. Sentir a dor da outra é o ponto de partida, mas agir com ela é o que promove transformação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no linkedin
LinkedIn

HOME