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‘Motorista é uma palavra feminina’, diz mulher que há sete anos dirige ônibus em Salvador

Saiu no site G1

 

Veja publicação original:   ‘Motorista é uma palavra feminina’, diz mulher que há sete anos dirige ônibus em Salvador

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Ilmara Santos é motorista do transporte coletivo da capital baiana. Nesta quinta-feira (25), celebrado Dia do Motorista, o G1 traz ainda o perfil de Marta Leandes, que conduz uma ambulância do Samu no norte da Bahia.

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Por Phael Fernandes e Danutta Rodrigues

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Quando começaram como motoristas, as baianas Ilmara Santos, de Salvador, e Marta Leandes, de Irecê, no norte da Bahia, não imaginavam que iriam enfrentar tantos desafios no trabalho por serem mulheres.

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Conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), divulgados em julho deste ano, na Bahia, há 747.461 motoristas mulheres e 2.054.958 homens, ou seja, 73,3% das habilitações são masculinas. Isso reflete no quadro profissional das empresas.

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Nesta quinta-feira (25), quando é celebrado o Dia do Motorista, o G1 traça o perfil de Ilmara, que atua como condutora de ônibus do transporte urbano de Salvador, e Marta, que trabalha como motorista do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) de Irecê.

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Ilmara Santos, 47 anos, motorista de ônibus

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Nos quase 120 quilômetros diários que percorre como motorista de ônibus do transporte coletivo de Salvador, há sete anos Ilmara é questionada no ambiente de trabalho por ser mulher.

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“Nem todo mundo confia que a gente pode desempenhar um bom trabalho como motorista. Muitas pessoas acreditam que só o homem é capaz de tudo”, disse.

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Moradora do bairro de Paripe, ela circula por três linhas de ônibus durante a jornada de trabalho. Passa em bairros como Nordeste de Amaralina, Barra e Barroquinha. No percurso, tenta deixar para trás alguns casos que ficaram marcados.

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“Lembro que fiquei chocada uma vez porque o preconceito partiu de uma mulher. Ela subiu no ônibus e, quando percebeu que era dirigido por mim, pediu para descer. Disse que não andaria em um veículo dirigido por uma mulher. Eu parei no ponto seguinte e ela desceu. Alguns passageiros deram risada. Eu precisei levar na esportiva. Isso é nosso cotidiano”.

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No dia a dia, ela também convive com casos de violência dentro do coletivo. Em alguns, além do medo, foi culpada pelos passageiros.

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“Lembro de um caso de assalto que ainda saí como culpada. Meu ônibus foi assaltado e um dos passageiros ainda me culpou dizendo que eu poderia evitar. Ele disse que eu não poderia ter permitido que o ladrão entrasse no carro. Mas não podia fazer nada. O assaltante tinha pago a passagem”, revelou.

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Marta Leandes, 44 anos, motorista do Samu

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Com 21 anos de profissão, Marta já conduziu diversos veículos e trabalhou para instituições diferentes. Ela mora em Irecê. — Foto: Arquivo Pessoal

Com 21 anos de profissão, Marta já conduziu diversos veículos e trabalhou para instituições diferentes. Ela mora em Irecê. — Foto: Arquivo Pessoal

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Assim como Ilmara, Marta Leandes também sofre preconceito por ser mulher no ambiente de trabalho.

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“Tem muitos colegas que me apoiam, mas a maioria tem receio de trabalhar comigo por eu ser mulher motorista. Eles têm receio de que eu não consiga pegar o peso por que a gente não dirige apenas. A gente ajuda, é socorrista também, pega no pesado”, contou.

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Com 21 anos de profissão, Marta já conduziu diversos veículos e trabalhou para instituições diferentes. No Samu, atua desde fevereiro deste ano, quando ganhou o título de primeira mulher da cidade a ocupar o cargo. Desde então, experimenta uma rotina agitada e com casos de intolerância.

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“Existem colegas que dizem que não trabalhariam comigo, que não confiam e ficam de cara amarrada. Nas ruas, as pessoas estranham. Já teve até um passageiro da ambulância que perguntou ao doutor, que estava comigo no plantão, porque ele não dirigia”, falou.

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“No meu segundo plantão, uma colega falou na minha cara que não trabalharia comigo. Perguntaram a ela o que faria se a escala fosse comigo. Ela respondeu que trocaria o plantão. Me senti constrangida, não fiz nada, só informei à coordenação”, relatou.

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Empoderamento feminino

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 Segundo Jorge Castro, assessor de relação de trabalho da Integra, concessionária que administra o sistema de transporte coletivo de Salvador, Ilmara é uma das oito mulheres condutoras.  — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Jorge Castro, assessor de relação de trabalho da Integra, concessionária que administra o sistema de transporte coletivo de Salvador, Ilmara é uma das oito mulheres condutoras. — Foto: Arquivo Pessoal

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Apesar dos números, ainda há uma enorme diferença na quantidade de mulheres motoristas em relação aos homens na mesma função.

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Segundo Jorge Castro, assessor de relação de trabalho da Integra, concessionária que administra o sistema de transporte coletivo de Salvador, Ilmara é uma das oito mulheres condutoras. No total, a empresa tem quatro mil motoristas. Na prática, isso aponta que 99,8% dos motoristas do sistema são homens.

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Por isso, diante dos números, além de dirigir, Ilmara e Marta contribuem para a mudança desse perfil de motoristas.

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“Penso que a profissão é predominantemente masculina, mas ela é para qualquer pessoa. Não é só para homens. Percebo, ao ter essa profissão, que acabo desempenhando outro papel além de motorista. Acabo empoderando pessoas. Quando nós, mulheres, estamos como condutora, criamos empoderamento em outras”, ressalta Ilmara.

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“Depois que fiz o concurso para motoristas, em 1998, e passei, muitas mulheres fizeram também. Acho que servi de exemplo para elas”, acrescentou Marta.

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Dessa forma, seguindo na contramão do preconceito e avançando na faixa das conquistas, Ilmara e Marta têm mostrado que a profissão está com o sinal verde aberto para mulheres.

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“Dizem que o homem seria mais capaz de dirigir o ônibus por causa do tamanho do veículo – tem cerca de 16 metros. A verdade é que as pessoas acreditam que só o homem é capaz de pegar peso, de dirigir veículos longos. Mas vamos ficar de olho nisso. Nem a palavra concorda com isso. Já reparou? Motorista é uma palavra feminina”, disse Ilmara.

Moradora do bairro de Paripe, ela roda três linhas durante a jornada de trabalho. Passa em airros como Nordeste de Amaralina, Barra e Barroquinha. No percurso, tenta deixar no retrovisor alguns casos que ficaram marcados, mas nem sempre é possível. — Foto: Arquivo Pessoal

Moradora do bairro de Paripe, ela roda três linhas durante a jornada de trabalho. Passa em airros como Nordeste de Amaralina, Barra e Barroquinha. No percurso, tenta deixar no retrovisor alguns casos que ficaram marcados, mas nem sempre é possível. — Foto: Arquivo Pessoal

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.Marta conta que é comum casos de preconceito durante a jornada de trabalho.  — Foto: Arquivo Pessoal

Marta conta que é comum casos de preconceito durante a jornada de trabalho. — Foto: Arquivo Pessoal

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