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‘#MeToo abriu as comportas e vai ser difícil parar’, diz diretora do ‘NYT’ sobre denúncias de assédio

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Veja publicação original:   ‘#MeToo abriu as comportas e vai ser difícil parar’, diz diretora do ‘NYT’ sobre denúncias de assédio

 

A jornalista Francesca Donner está à frente de uma mudança significativa que está em curso no “New York Times”, um dos jornais mais importantes do mundo. Diretora da chamada Gender Initiative (Iniciativa de Gênero) desde outubro do ano passado, seu trabalho é fazer com que questões de gênero estejam presentes de forma ampla em todas as seções do veículo norte-americano.

“A Iniciativa de Gênero é dedicada a cobertura do feminismo, direitos das mulheres, identidade de gênero, sexualidade, masculinidade e também –e aqui é que fica interessante– a garantir que a perspectiva de gênero esteja presente de uma forma mais ampla na nossa cobertura, da política aos esportes, à ciência, e assim por diante”, afirma.

“A equipe de gênero é necessária para garantir que os assuntos de gênero –que são cada vez mais importantes em nosso mundo– não se percam em meio à cobertura. Precisamos cobrir esses temas com a devida importância”, acrescenta.

Em outubro o “NYT” e a revista “The New Yorker” publicaram as primeiras acusações de assédio contra o produtor de cinema Harvey Weinstein.

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A divulgação das denúncias encorajou muitas mulheres a revelarem casos de abuso nas redes sociais, dando origem ao movimento #MeToo (Eu também) e a outras ações semelhantes em várias partes do mundo.

Agora que a conversa começou, eu acho que vai ser difícil parar

Francesca Donner, diretora da Gender Initiative do “NYT”

“As alegações desencadearam um acerto de contas em larga escala sobre comportamento e sobre como interagimos com os outros no ambiente de trabalho. As figuras públicas abriram as comportas, de certa forma, mas as histórias de mulheres que não são famosas também são extremamente importantes. Elas são uma imensa parte da história e, sem dúvida, a maioria das vítimas”, diz.

Ao comentar a reação de leitores e leitoras do “NYT” ao material que tem sido publicado, Donner afirma que as histórias de assédio sexual têm produzido milhares de comentários em todas as plataformas do jornal. “Agora que a conversa começou, eu acho que vai ser difícil parar.”

‘#MeToo é um problema generalizado’

Para ela, a vantagem do #MeToo é não restringir a participação das mulheres. “Se você tem acesso a redes sociais, você pode participar. Você não precisa ir a uma marcha ou participar de uma conferência ou estar disponível em um horário específico e não tem que pagar nada”, afirma Donner.

 

 

Mulheres usam a hashtag #MeToo em protesto em Paris contra abuso sexual

“O #MeToo transcende local, tempo, fronteiras e idiomas. Todos os relatos individuais ajudam a pintar um quadro que alerta sobre como o problema é generalizado. Não é somente uma coisa brasileira, francesa ou americana. É um fenômeno global e as mulheres de todos os lugares estão expressando isso”, acrescenta.

Questionada sobre algumas posições contrárias ao movimento, como a de artistas francesas em um manifesto publicado no jornal “Le Monde”, Donner limita-se a dizer que fica feliz por um debate estar em curso.

“Sempre haverá opiniões diferentes em qualquer debate. Para mim há algumas coisas que são muito claras: estupro é inaceitável. Mas o interessante é que estamos tendo esta conversa.”

 

Donner diz não achar que os efeitos do debate atualmente em curso vão beneficiar somente gerações futuras de mulheres. “Não mesmo. Eu espero que todos possam aproveitar isso, e não apenas mulheres, mas homens também. Espero que os ambientes de trabalho se tornem mais justos, que mais pessoas se conscientizem sobre suas interações com os outros. E torço para que pessoas em todo o espectro –mulheres-homens, velhos-jovens– possam ser beneficiadas, porque isso não é uma coisa apenas das mulheres, é uma questão de todos.”

Como fica no trabalho?

Aprofundando a questão sobre comportamentos sexistas no ambiente de trabalho, a jornalista afirma que eles nem sempre são fáceis de serem percebidos. E usa uma situação corriqueira, as reuniões de trabalho, como exemplo.

 

 

 

 

A mulher ficar sempre responsável pelas anotações sobre o que é debatido, por buscar café para os colegas, assumindo um papel de assistente e não de alguém que pode de fato contribuir com ideias, são manifestações desse preconceito baseado no sexo.

“Existem vários tipos diferentes de comportamentos sexistas, alguns são mais óbvios, como um toque inapropriado ou um comentário do tipo ‘oi, gostosa’. Mas outros são mais sutis, podem não ser abertamente sexistas, mas também são sexistas”, diz.

Cita outro exemplo: uma mulher está falando e um homem a interrompe ou apresenta a ideia dela como se fosse dele. “Se ela tiver consciência disso, pode dizer: ‘Desculpa, como eu estava dizendo’ ou ‘Certo, Nick, essa é a ideia que eu acabei de explicar para o grupo’.”

Donner afirma que essas pequenas mudanças de atitude podem ser o passo inicial para um novo ambiente de trabalho, embora não sejam, por si só, suficientes para levar mais mulheres ao topo das empresas. “Muito mais coisas precisam mudar para que isso aconteça.”

As questões levantadas por Donner são as mesmas das exploradas no livro “Feminist Fight Club” (Clube da Luta Feminista), de Jessica Bennett, colega de Donner que trabalha como editora de gênero do “NYT”. O livro é uma espécie de manual de combate ao sexismo no ambiente de trabalho.

Recentemente, em resposta a uma leitora do jornal, Bennett disse que a abordagem de gênero é crucial para a iniciativa do “NYT”. “Estamos tentando expandir de forma orgânica e melhorar a cobertura desses assuntos de gênero em todas as seções, para que você quase não perceba”, afirmou.

“Eu saberei que fui bem-sucedida nesse papel quando meu cargo não existir mais”, diz Bennett. Donner concorda com essa perspectiva sobre a iniciativa de gênero no futuro: “Se ainda existir, espero que seja bem diferente do que é hoje”.

 

 

 

 

 

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