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Meghan Markle: a feminista que tem que brigar pelo direito de usar calças

Saiu no site UNIVERSA:

 

Veja publicação original: Meghan Markle: a feminista que tem que brigar pelo direito de usar calças

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Por Nina Lemos

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“A princesa gostaria de usar mais calças, mas em várias ocasiões isso não é permitido.” “Ela estaria muito chateada porque não pode usar calça comprida e isso tem sido motivo de brigas com o príncipe.” As frases parecem ditas em um seriado que mostra as opressões da Idade Média na Netflix. Mas trago más notícias: elas são de 2018. E a “princesa” (oficialmente, duquesa), no caso, é ela mesma, a “princesa feminista”, Meghan Markle que, segundo os muito otimistas, iria mudar a realeza (nunca acreditei nisso porque não acredito em contos de fadas nem em Papai Noel.)

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Nem três meses do casamento se passaram e a revolução está nesse ponto: brigas e especulações sobre se uma esposa de um príncipe pode ou não usar CALÇA. Sim, esse é um dos assuntos discutidos pela imprensa inglesa e pelas revistas de moda.

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Algumas matérias dizem coisas ainda mais assustadoras. O marido de Meghan, o príncipe Harry, estaria se metendo em seu guarda-roupa e vetando terninhos. Ele não estaria nada feliz com a “rebeldia” da mulher e teria proibido que ela encomendasse ternos de alfaiataria para uma tour que os dois farão em outubro. Homem que diz o que mulher tem que usar: não! Sendo príncipe ou o Chico Buarque ou o Brad Pitt… não!

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Peço desculpas a quem acreditou nas mudanças que viriam com a entrada de Meghan Markle na familia real, mas se até usar calça comprida é considerado revolução, bem, imaginem quantas coisas ela vai conseguir mudar? Spoiler: quase nada. Só de escrever esses dois parágrafos eu sinto como se já tivesse voltado no tempo 100 anos.

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Meghan é uma das maiores personalidades desses tempos. Cada passo que ela dá é fotografado, cada roupa investigada, detalhes bobos como que cor de batom que ela usou são divulgados o tempo todo (e o batom esgota em poucas horas, porque Meghan é um mega outdoor publicitário, assim como todas as celebridades. Usou, vendeu) e o exemplo é esse: tem que ser feminina, um jeans para brincar com a criança no jardim ,tipo Kate Middleton, tudo bem. Mas em evento oficial, epa, pera lá, quem você está achando que é? Antes do casamento, ela podia. Agora, não.

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Volta a 1910

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É bem bizarro pensar que no mundo ocidental, em um país democrático, a “mulher do ano” tenha que lutar por um direito que foi conquistado uns cem anos atrás. As primeiras mulheres a usar calça fizeram a loucura lá pelos anos 1910. Sim, até para usar calças as mulheres tiveram que brigar! E por quê? Porque queriam liberdade para, por exemplo, andar de bicicleta ou a cavalo. No casos dos terninhos, eles se popularizaram nos anos 1920, em parte graças a Coco Chanel, que inventou os ternos para mulheres e revolucionou a moda.

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Coco deve estar se remexendo no túmulo. Ser mulher da família real não é fácil. Além de ter que lutar pelo direito de uma coisa tão básica, Meghan tem seu estilo analisado com lupas. Ela estaria ficando menos sexy! Ela estaria errando a mão? Como ela deveria se vestir? Da maneira que ela quiser, gritamos todas, claro, respeitando as leis do bom senso. A gente não vai de biquíni a uma reunião de trabalho, então se espera que uma duquesa, mulher do príncipe, também não faça o mesmo na inauguração de um hospital, por exemplo.

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“Acho que ela até tenta, mas aquela coisa opressora e medieval está instalada dentro da família real e isso não vai mudar. A Diana tentou, a gente sabe que não deu certo”, diz Vivian Whiteman, editora de moda da revista “Elle”. Os ternos, segundo ela, não são bem vistos nesse tipo de ambiente extremamente conversavador porque: “são ligados ao poder, estão longe do papel da mulher.”

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Uma das coisas que o mundo mais amou em Meghan foi realmente o fato dela parecer ser uma moça poderosa. Mas ela decidiu casar com príncipe. Escolha dela. Não temos nada com isso.

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Mas… um dos livros mais importantes da minha infância chama “Ou Isto ou Aquilo”, da Cecilia Meirelles. No poema que dá título ao livro ela diz: “ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva… Ou isto ou aquilo.” No jogo do “ou isto ou aquilo”, parece que ser mulher emancipada e independente e “princesa” não dá certo, né? Afinal, ou é isto. Ou aquilo.

 

 

 

 

 

 

 

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