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Manchetes sexualizadas e sonho de valorização: mulheres lembram histórias de busca por respeito no futebol

Saiu no site G1

 

Veja publicação original:  Manchetes sexualizadas e sonho de valorização: mulheres lembram histórias de busca por respeito no futebol

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Atletas falam sobre desafios de trilhar carreira no esporte; ‘olhavam a mulher porque achavam bonito, mas não com profissionalismo’, conta ex-jogadora.

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Por Letícia Paris

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A presença de mulheres disputando partidas de futebol, em 2018, não é novidade. Entretanto, as histórias relatadas por atletas e ex-atletas mostram uma trajetória de busca por espaço e respeito nos campos.

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Vandira Martins de Oliveira, ex-volante do clube Pinheiros, que disputou campeonatos no Paraná na década de 80, e Simone Jatobá, ex-atleta da seleção brasileira, que atualmente joga na França, contam que viveram dificuldades.

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Segundo Vandira, há algumas décadas, a iniciação na modalidade acontecia por brincadeira, porque o futebol, para as mulheres, não era considerado oficial. “O pessoal via como um esporte, mas não via com profissionalismo, não viam uma mulher como enxergam um homem no futebol”, conta.

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Destaque na imprensa

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Os jogos ficaram guardados na memórias de Vandira, atualmente com 57 anos. Ela conta que começou a jogar após o convite de uma amiga. Os times, segundo ela, surpreendiam os homens que acompanhavam as partidas.

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“Eles olhavam a mulher porque achavam bonito, as mulheres de short correndo, e até engraçado. Isso porque achavam que mulheres não teriam habilidades de dominar a bola, de ter técnica. Acabavam se decepcionando, porque as mulheres demonstravam muita habilidade”, diz.

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Ex-jogadora de futebol no Paraná, Vandira Martins guarda chuteira, medalhas e recortes de jornais que citavam sua participação no esporte na década de 80 — Foto: Letícia Paris/G1 PR

Ex-jogadora de futebol no Paraná, Vandira Martins guarda chuteira, medalhas e recortes de jornais que citavam sua participação no esporte na década de 80 — Foto: Letícia Paris/G1 PR

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Manchetes de jornais

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Vandira, anos depois, desistiu do esporte e seguiu carreira como bancária. Na casa onde mora, em São José dos Pinhais, na Região de Curitiba, guarda ainda as medalhas conquistadas, a chuteira que usava nos gramados, e muitos recortes de jornais e revistas.

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Entre as reportagens guardadas, manchetes estampavam frases que enfatizam a beleza ou o “charme” das jogadoras, como relembra ela. As atletas recebiam classificação de musas, “sensuais”, além de frases que destacavam a “simpatia” em campo.

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Manchetes estampavam frases que enfatizavam a beleza ou o 'charme' das jogadoras, como relembra a ex-jogadora Vandira Martins — Foto: Vandira Martins/Arquivo pessoal

Manchetes estampavam frases que enfatizavam a beleza ou o ‘charme’ das jogadoras, como relembra a ex-jogadora Vandira Martins — Foto: Vandira Martins/Arquivo pessoal

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Em 1984, a atleta foi fotografada por uma revista antes de um jogo do Pinheiros. A imagem ganhou a capa da publicação. Vandira conta que viu a revista quando passava por uma banca, e que ficou assustada ao ver a imagem escolhida.

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“Tem fotos em que eu estou colocando faixa no pé, o que é errado, mas eles entendiam aquilo como uma forma de não ‘masculinizar’ a mulher, mostrando falhas (…) em momento algum eu soube que iria sair aquela foto, de calcinha, na capa”, comenta.

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Em uma revista da época, a ex-jogadora de futebol Vandira Martins foi fotografada antes de um jogo do Pinheiros — Foto: Vandira Martins/Arquivo pessoal

Em uma revista da época, a ex-jogadora de futebol Vandira Martins foi fotografada antes de um jogo do Pinheiros — Foto: Vandira Martins/Arquivo pessoal

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Proibição por lei

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Em 14 de abril de 1941, com o Decreto-lei Nº 3.199, o Conselho Nacional de Desportos proibiu a prática do futebol entre as mulheres. O motivo, segundo o documento, era preservar a saúde reprodutiva.

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A proibição foi mantida até 1979.

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Em 1941, o Decreto-lei Nº 3.199, pelo Conselho Nacional de Desportos, proibia que mulheres jogassem futebol, sob o argumento de preservar a saúde reprodutiva das atletas — Foto: Acervo/Centro de Referência do Futebol Brasileiro/Museu do Futebol

Em 1941, o Decreto-lei Nº 3.199, pelo Conselho Nacional de Desportos, proibia que mulheres jogassem futebol, sob o argumento de preservar a saúde reprodutiva das atletas — Foto: Acervo/Centro de Referência do Futebol Brasileiro/Museu do Futebol

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Atração de circo?

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Arquivos do Centro de Referência do Futebol Brasileiro mostram recortes de jornais com anúncios do que foram consideradas as primeiras partidas de futebol feminino no Brasil. Os locais de jogo: arenas de circo.

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Em um anúncio publicado no jornal “Correio do Paraná”, a população era convidada a acompanhar as equipes do Curityba F. C. e Athletico Paranaense se enfrentando em uma tarde de domingo. A publicação é de 1940.

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Recorte do jornal 'Correio do Paraná' mostra anúncio de partida de futebol feminino realizado em um circo — Foto: Acervo/Centro de Referência do Futebol Brasileiro/Museu do Futebol

Recorte do jornal ‘Correio do Paraná’ mostra anúncio de partida de futebol feminino realizado em um circo — Foto: Acervo/Centro de Referência do Futebol Brasileiro/Museu do Futebol

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Competições

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No Paraná, segundo informações da Federação Paranaense de Futebol, o primeiro Campeonato Paranaense feminino foi realizado apenas em 1998. Antes, as competições no estado eram organizadas pela imprensa local.

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Conforme dados da Federação Internacional de Futebol (FIFA), a primeira Copa do Mundo de futebol feminino foi disputada em 1991, e a primeira vez que as mulheres jogaram futebol em uma Olimpíada foi em 1996.

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Paranaense na seleção

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A paranaense Simone Jatobá, de 37 anos, atualmente mora e joga futebol na França.

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Ela atuou pela Seleção Brasileira de Futebol, ao lado de Marta, Cristiane e Formiga. Com a seleção, conquistou medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e duas medalhas de prata: da Copa do Mundo de 2007 e dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.

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Simone Jatobá, de 37 anos, atualmente mora e joga futebol profissionalmente na França — Foto: Letícia Paris/G1 PR

Simone Jatobá, de 37 anos, atualmente mora e joga futebol profissionalmente na França — Foto: Letícia Paris/G1 PR

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Segundo ela, desde o começo da carreira foi necessário acreditar no sonho de ser jogadora, diante das limitações do esporte para as mulheres no Brasil.

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“Vizinhos e até mesmo parentes diziam que futebol era para homem, que não era coisa de mulher. E eu dizia que era sim”, relembra.

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A atleta atuou por clubes brasileiros mas decidiu que era necessário buscar oportunidades em outros países para conseguir desenvolver a carreira profissional.

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“A gente tem tantos valores, tantas coisas boas no país, e ver que somente é olhado para o masculino que, claro, tem o seu valor, mas o feminino também tem que ser olhado de forma diferente”, comenta.

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Simone Jatobá atuou pela Seleção Brasileira de Futebol na conquista de duas medalhas de prata: Copa do Mundo de 2007 e Olimpíadas em Pequim, em 2008 — Foto: Agência/EFESimone Jatobá atuou pela Seleção Brasileira de Futebol na conquista de duas medalhas de prata: Copa do Mundo de 2007 e Olimpíadas em Pequim, em 2008 — Foto: Agência/EFE

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