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Feminismo nas alturas: mulheres pilotas falam sobre os desafios da profissão

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  Feminismo nas alturas: mulheres pilotas falam sobre os desafios da profissão

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As pilotas holandesas Christa Kloosman e Marlies Beek falam sobre como é trabalhar em uma área dominada por homens – e como superaram as barreiras invisíveis da profissão para chegar lá

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“Durante o curso de voo, repeti em matemática seis vezes”, conta, aos risos, Christa Kloosman, 34 anos, pilota de avião há seis. “Até que tive um professor que me ensinou a visualizar as equações. Depois que aprendi essa técnica, tudo ficou mais fácil. E decidi repassá-la para outras meninas em aulas particulares”, afirma a holandesa, que também é bailarina de formação e decidiu mudar de profissão aos 23, quando uma hérnia de disco a impediu de seguir dançando.

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“Sempre gostei de estudar línguas, viajar, e isso era algo que o balé me proporcionava. Escolhi ser aeromoça para continuar viajando. Não cogitava ser pilota pelo simples fato de ser do sexo feminino.” Os planos mudaram quando Christa começou a trabalhar. Voando, descobriu que haviam, sim, mulheres na cabine de comando e decidiu investir na carreira. Estudava à noite, nos hotéis. Hoje, é pilota do Boeing 737 da KLM e registra suas andanças pelos mais de 50 países que já visitou em seu perfil no Instagram (@christavliegt), onde acumula quase 25 mil seguidores.

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Work - Christa e Marlies, no aeroporto de Schiphol, em Amsterdã (Foto: Maria Laura Neves)
Christa e Marlies, no aeroporto de Schiphol, em Amsterdã (Foto: Maria Laura Neves)

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Christa faz parte dos 5% de mulheres que pilotam aviões no mundo, profissão ainda dominada por pré-conceitos de gênero. “Uma loira de trança não é exatamente a imagem que as pessoas têm de quem conduz uma aeronave”, diz, bem-humorada. “Os passageiros sempre se surpreendem.” Além da questão da representatividade, elenca a falta de incentivo a meninas para seguir em áreas técnicas como a dela. Boa parte dos conhecimentos exigidos na escola de voo são os que ficaram conhecidos no mundo acadêmico como STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), de onde devem surgir boa parte dos novos empregos nos próximos anos – áreas em que a participação feminina ainda é muito desigual.

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Também holandesa, a comandante Marlies Beek, 47 anos, é filha de um piloto de avião e desde pequena sonhava em seguir a profissão do pai. “Sempre soube que não existe nenhuma carreira masculina que uma mulher não possa abraçar. Tive a sorte de gostar de física e matemática desde a infância e sabia que se quisesse aprender francês aos 40 anos, poderia. O mesmo não valeria para as exatas. Além disso, nos anos 1970, o governo holandês já estava preocupado com a falta de interesse das meninas por matemática e fez uma campanha que nos incentivava a estudar cálculos. Isso certamente me ajudou”, conclui a comandante que, no topo da carreira, pilota Boeings 777 e 747, aviões que fazem rotas intercontinentais.

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Ela conta que, em quase três décadas de profissão, nunca foi alvo de comentários preconceituosos pelo fato de ser mulher. O que a incomodava, no entanto, eram as perguntas sobre como conciliar vida pessoal e profissional, feitas somente a ela e suas colegas. “Quando estava na casa dos 30, todo mundo vinha me perguntar como conciliar a rotina de viagens com a maternidade. Ninguém fazia o mesmo com os homens”, afirma. “Essa nunca foi uma questão”, diz Marlies, que é mãe de uma menina e um menino, de 14 e 9 anos respectivamente, e não tem rotina de trabalho fixa. “Para eles, meu trabalho nunca foi um problema. Quando me veem saindo de casa de uniforme, sabem que vou viajar e perguntam: ‘Quantas noites?’. Se respondo três, me dão três beijos. Se respondo sete, são sete beijos”, diz. “Meu trabalho me energiza, sou uma pessoa melhor por causa dele e meus filhos sabem disso.”

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Parte fundamental dessa equação, ela reconhece, é a participação do ex-marido na educação das crianças. “Ele nunca teve ciúmes ou qualquer reclamação com a minha profissão, mas a verdade é que, quando você não está em casa, não tem controle sobre o que acontece e é preciso reconhecer e aceitar isso”, diz. Já Christa conta que o ex-namorado não se sentia confortável com as longas ausências. “No meu próximo relacionamento, não haverá espaço para esse tipo de reclamação”, diz, enfática.

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Dicas de expert

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Christa e Marlies explicam que, uma vez no comando das aeronaves, não há diferença de gênero no exercício da função – exceto nos três últimos meses de gravidez, em que elas são transferidas para funções em terra por motivos de segurança. “Detestei ficar no escritório. Definitivamente, uma rotina em que os dias são todos iguais não é para mim”, afirma Marlies, que conta nos dedos os países para onde não voou.

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Para sobreviver ao jet lag, dá algumas dicas: “Quando estou viajando, tiro umas sonecas sempre que posso. Se for preciso, pulo o café da manhã para descansar”. Christa complementa: “A gente nunca se habitua à diferença de fuso. O que funciona para mim é não dormir muitas horas seguidas depois de voar. Outra coisa fundamental é se hidratar durante o voo: muita água, cremes. Quem voa de dia precisa de protetor solar porque a radiação perto da estratosfera é muito alta. Além disso, evito carboidratos na dieta. Quando como, me sinto inchada”, afirma. “Agora, o mais importante de tudo é tentar relaxar e aproveitar a viagem”, arremata.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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