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‘Eu pensava que não ia ter mais sucesso na minha vida’, diz mulher que foi vítima de violência doméstica em Caruaru

Saiu no site G1

 

Veja publicação original:   ‘Eu pensava que não ia ter mais sucesso na minha vida’, diz mulher que foi vítima de violência doméstica em Caruaru

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História dela e de outras vítimas foi contada na segunda reportagem da série ‘Faces da Violência: Vidas Transformadas’, da TV Asa Branca.

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Por Magno Wendel

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“Quando tudo aconteceu, eu pensava que não ia ter mais sucesso na minha vida”, disse uma mulher que foi vítima de violência doméstica. Esconder o sentimento, ficar presa dentro de si, depois dentro de casa. A história de uma, que é vivida por muitas outras.

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“Normalmente, ele costumava ou me pegar pelo gogó (sic) ou tampar (sic) minha respiração. Uma vez ele pegou a faca, quando ele mirou a faca no meu rosto, ele baixou, colocou na minha perna e pressionou. Até eu perceber que não era só agressão física, era agressão psicológica, era agressão mental”, relatou a vítima.

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Esta mulher, que não pode mostrar o rosto porque teve que sair de casa e mudar de cidade para se livrar de um relacionamento agressivo, hoje vive com a identidade protegida pra evitar a aproximação do ex-marido, que batia nela e que também chegou a agredir um filho. A violência marcou a vida da família.

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O medo de denunciar foi superado e atualmente ela e os filhos reconstroem a vida longe do contexto da violência doméstica. “Meu menino está na escola, consegue desenvolver bem, a minha menina também, graças a Deus”.

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A violência doméstica muitas vezes aumenta com o passar do tempo e pode chegar aos casos de feminicídios. Antes que isso aconteça, as mulheres podem que tomar uma decisão que é capaz de mudar essa história. É preciso fazer a denúncia para que as autoridades entrem em cena e façam com que o agressor seja punido.

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Caruaru tem delegacia especializada em crimes contra a mulher — Foto: Elton Braytnner/TV Asa Branca/Arquivo

Caruaru tem delegacia especializada em crimes contra a mulher — Foto: Elton Braytnner/TV Asa Branca/Arquivo

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Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, há uma a delegacia especializada em crimes contra a mulher, que registra casos de violência diariamente. “Uma vez denunciada, a mulher não deve voltar. O passo tem que ser sempre para frente. Denunciei, se precisar, denuncio de novo”, pontuou a delegada Jimena Gouveia.

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Dados

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Comparando os dez primeiros meses desse ano com os do ano passado, percebe-se que os registros de boletins de ocorrência aumentaram 20% e as medidas protetivas que afastam os agressores cresceram 14%, de 425 para 484. Aumentaram as denúncias e diminuíram as mortes de mulheres. Em 2017 foram 10, já em 2018 o número caiu para 4.

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Quando a mulher denuncia, uma medida judicial é tomada pra protegê-la. Dependendo da gravidade, o agressor pode ser preso na hora ou a Justiça pode proibir que ele se aproxime da mulher para que ela não seja mais ameaçada. Se a regra for desrespeitada, uma nova denúncia deve ser feita, então o agressor pode ser preso.

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Patrulha da PM e auxílio psicológico

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A Polícia Militar tem a “Patrulha Maria da Penha”, um grupo que trabalha especificamente em casos de violência contra a mulher. Além das forças de segurança, há uma rede de instituições que trabalham juntas para garantir a garantir a integridade das mulheres.

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Essa mulher que faz tratamento contra a depressão viu a doença piorar depois que passou a ser agredida pelo enteado dentro de casa. Agora ela está contando com essa ajuda pra superar as dificuldades.

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“Um dia, simplesmente do nada, simplesmente porque eu pedi para ele lavar uma vasilha que sujou, ele veio para cima de mim. Quebrou uma cadeira em cima de mim, das minhas pernas, me derrubou no chão e começou a me dar soco, e falar palavras que eu não esperava dele”, relatou.

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As mulheres que sofreram agressão recebem apoio psicológico, participam de atividades em grupo e cursos profissionalizantes para conseguir a independência financeira. A ideia é ajudá-las a reconstruir a vida longe de um lar violento. A violência deixa marcas psicológicas que precisam e podem ser superadas.

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“Esse drama é totalmente superável, basta a mulher querer, ter coragem para poder enfrentar a dor. Sozinho é praticamente impossível, por isso é importante buscar ajuda e não desistir”, Márcia Correia, psicóloga.

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Karinny Oliveira precisou de ajuda e também teve que ter muita força para superar as dificuldades que enfrentou. O caso dela estampou páginas de jornais e de programas de tv no país inteiro. Ela não vê os dois filhos há oito anos porque enfrenta uma batalha jurídica com o ex-marido, que é promotor de justiça.

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Ela chegou a ter um mandado de prisão contra ela e a ser considerada foragida da Justiça. Ela foi ajudada por instituições que defendem os direitos da mulher, foi atendida pela rede de proteção e foi se fortalecendo. Mas até hoje sente falta de acompanhar o desenvolvimento dos filhos, que moram com o pai em Petrolina.

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Karinny Oliveira foi vítima de violência doméstica — Foto: TV Asa Branca/Reprodução

Karinny Oliveira foi vítima de violência doméstica — Foto: TV Asa Branca/Reprodução

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“Foi [Maria da] Penha [que inspirou o projeto de lei] falando sobre as formas de violência elencadas no artigo 7º da lei, que eu me deparei que eu estava naquele cenário de violência doméstica e familiar. Foi quando eu pedi a separação. Eu tive um relacionamento de 12 anos”, disse Karinny, que é coordenadora do Centro de Referência para Mulheres.

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Mesmo em meio a todo esse turbilhão de sentimentos, Karinny concluiu o mestrado em educação com o tema “Maria da Penha vai às escolas”. O conteúdo inspirou um dos programas públicos que levam aos estudantes de Caruaru a importância de respeitar o direito das mulheres.

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Karinny ressignificou a dor que sente com a própria história e a transformou em incentivo para ajudar outras mulheres. Hoje ela é coordenadora do Centro de Referência da Mulher de Caruaru e ajuda outras mulheres a superarem os dramas pessoais causados pela violência doméstica.

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*A reportagem faz parte da série “Faces da Violência: Vidas Transformadas” e contou com a produção de Geisebel Santos, imagens de Matheus Guerra e edição de Tânnia Marinho e Elane Andreza.

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