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Eu, Leitora: “Como me vinguei do meu marido e recuperei a autoestima”

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:

 

Veja publicação original:  Eu, Leitora: “Como me vinguei do meu marido e recuperei a autoestima”

 

Depois de 24 anos de casamento, C. M. T., 51 anos, descobriu que Rafael tinha outra. Ao desmascará-lo, ele não nega o caso e a ofende, dizendo não sentir nada por uma mulher ‘gorda, cheia de cicatrizes e ruim de cama’. Separados, viveram dois meses em cidades diferentes, tempo suficiente para ela perder 27 quilos e fazer o que considera a maior loucura de sua vida: testar seu desempenho sexual com um garoto de programa

 

 

“Minha história começa onde muitas terminam. Depois de 24 anos de casamento, meu mundo desabou quando soube que Rafael, o grande amor da minha vida, tinha outra. Ao ser descoberto, não negou nada e ainda me disse que eu era ‘ruim de cama, gorda e cheia de cicatrizes‘. Ele não me amava mais nem sentia prazer comigo. As palavras de Rafael martelaram em minha cabeça o tempo todo e, quando nos separamos, minha loucura começou. Numa busca obsessiva, corri contra o tempo. Em apenas dois meses, emagreci 27 quilos e, aos 45 anos, paguei um garoto de programa para avaliar o meu desempenho na cama.

 

 

Fui muito feliz com Rafael, pai dos meus dois filhos. Éramos amigos de ficar horas conversando. Enquanto ele falava, eu alisava o braço daquele homem fogoso, que transava comigo todas as noites. Eu tinha um amor tão grande por ele e vivia tão realizada com essa união que escrevia um diário sobre nossa vida e gostava de fazer poesias quando ele viajava. Uma vez passei 33 dias nos Estados Unidos e voltei com 33 presentes para Rafael, comprados um a cada dia.

 

 

Ele era diretor de uma empresa, e eu trabalhava como terapeuta de casais. Morávamos em Recife, Pernambuco, num apartamento superconfortável, onde tudo era do jeito que ele gostava. Para mim, era Deus no céu e meu marido na Terra. Eu tinha prazer em servir café-da-manhã para ele e largava tudo o que estava fazendo para preparar o jantar antes que ele chegasse em casa. Não tinha olhos para outro homem nem me preocupava em controlar a vida dele. Nunca poderia imaginar o que estava por acontecer.

 

 

Durante a minha recuperação, que se estendeu por todo o ano de 1996, Rafael e eu não transamos um só dia

No final de 1995, minha mãe morreu e tive de passar uns dias em Belo Horizonte para cuidar do inventário. Lá sofri um acidente em que fraturei uma das vértebras lombares. Acho que a partir daí começaram os nossos problemas de relacionamento. Voltei para Recife morrendo de dor e acabei tendo de fazer três cirurgias na coluna. Passei um ano inteiro entre o hospital, a minha casa e as sessões de fisioterapia. Além das dores que sentia, havia o risco de eu ter de passar a viver numa cadeira de rodas. Durante a minha recuperação, que se estendeu por todo o ano de 1996, Rafael e eu não transamos um só dia. Eu me lembro como se fosse hoje quando o médico tirou os pontos da última cirurgia. Minha primeira pergunta foi: ‘Doutor, quando vou poder transar?’. E ele: ‘Você só pensa nisso?’.

 

 

Nessa altura do campeonato, eu estava pesando 95 quilos, e Rafael tinha se ajeitado com sua secretária, uma mulher que tem mais ou menos a mesma idade que a minha. Todos na empresa onde eles trabalhavam sabiam do caso. Minha filha desconfiava do pai, mas eu continuava sem querer enxergar nada. Um dia a mulher do chefe de Rafael me contou o que estava acontecendo. Com o endereço da secretária nas mãos, fui à periferia de Recife ver a verdade com meus próprios olhos. Mas ela já não morava mais lá. A vizinha me informou que o ‘noivo’ tinha montado um apartamento para o casal. Nem sei o que senti, estava meio que anestesiada com tudo aquilo. A vizinha me deu o número do telefone e perguntou se eu queria ligar dali mesmo. Telefonei e reconheci a voz da secretária. Disse: ‘Alô, sou eu, C., mulher do Rafael. Quero me encontrar com você’. Acho que ela ficou assustada, mas concordou.

 

 

Combinamos um lugar, um horário e fui tirar a história a limpo. Nós duas percebemos que estávamos sendo enganadas pelo mesmo homem. Para ela, Rafael dizia que eu estava muito doente e prometia se casar. Como gostava de presentear as pessoas, ele nos usava para comprar presentes uma para outra, sem que desconfiássemos de nada. Acredite, se quiser: a pedido dele, comprei um presente para a tal secretária. E ganhei dele um perfume francês, que foi comprado por ela.

 

 

Unidas pela humilhação, resolvemos desmascarar Rafael. Fomos encontrá-lo num clube que sempre freqüentava. Para o meu espanto, ele não demonstrou surpresa nem negou nada. Simplesmente disse que não sabia com qual de nós duas iria ficar. Fui embora para casa desesperada. Eu o amava, ele era o homem que tinha prometido me amar por toda a vida. Como podia fazer uma coisa dessas? Quando ele apareceu em casa, conversamos, e eu chorava muito. Meus filhos participaram da conversa e também choravam sem parar.

 

 

Rafael foi frio e afirmou naquele dia que não me amava mais, não tinha mais tesão por mim e estava com preguiça do nosso casamento. Foi duro ouvir tudo isso. Depois, ele decidiu ir para a casa da mãe dele, que morava em Campos, no Rio de Janeiro, pensar no que faria. Antes de ir, numa das muitas discussões, ele ainda me ofendeu, dizendo quem iria querer uma mulher como eu, ‘uma gorda, cheia de cicatrizes e ruim de cama’.

 

 

Foi essa frase que me levou a fazer o que fiz. Primeiro, comecei a lutar para emagrecer. De segunda a segunda, eu nadava, caminhava, fazia hidroginástica e seguia um rígido programa de alimentação. A cada braçada na piscina, aquelas palavras terríveis me vinham à cabeça: ‘ruim de cama, gorda e cheia de cicatrizes’. Em dois meses, o ponteiro da balança pulou de 95 para 68 quilos. Tudo o que eu queria era surpreendê-lo quando voltasse da casa da mãe.

 

 

Apesar de bem mais magra e um pouco melhor comigo mesma, eu ainda não tinha terminado o meu plano, que era procurar um garoto de programa para saber se eu era mesmo ruim de cama. Contei o que pretendia a uma amiga, que ficou bem preocupada. Ela tentou me demover da idéia, alegando que eu corria risco de pegar alguma doença ou me envolver com alguém perigoso. Mas eu estava disposta a resolver a questão e nada do que ela me falasse seria suficiente para me fazer mudar de idéia.

 

 

Às vésperas da chegada de Rafael em Recife, peguei os classificados de um jornal e comecei a ligar para garotos de programa. A primeira pergunta que eu fazia era a idade e, para minha decepção, todos tinham na faixa de 18 a 20 e poucos anos. Mas fui ligando, ligando, até que falei com um que se chamava Billy e que dizia ter 29. Decidi por esse. Como não sabia o esquema, fiz várias perguntas, e ele me explicou que eu deveria ir para um motel da minha preferência, escolher uma suíte e, de lá, ligar para o celular dele. Pedi para ele escolher o motel, disse que não conhecia esses lugares, mas Billy falou que não era assim que funcionava. Ele me indicou os melhores motéis de Recife e me informou até quanto eu pagaria por duas horas de permanência. Ele sabia tudo, era profissional. Escolhi o lugar e propus que me esperasse na porta. Nessa hora, ele foi firme: ‘Não vou expor você ao lado de um garoto de programa. Pode ficar tranqüila que vai dar tudo certo’. Fiz meu último pedido, que era para ele não me deixar muito tempo esperando na suíte.

 

 

Estava apavorada, mas determinada. Vesti um conjunto de calcinha e sutiã bege, que não tinha nada de sexy, escolhi um vestido já usado e passei aquele tal perfume francês escolhido pela secretária de Rafael. O que eu queria era realizar o meu plano e depois jogar tudo fora. Cheguei ao motel e pedi uma suíte. Nunca tive tanta vergonha na vida. Entrei no apartamento, olhei tudo, tremia dos pés à cabeça. Tive vontade de sair correndo, mas não podia fraquejar. Telefonei para Billy do meu celular, porque tive medo até de tocar no telefone da suíte. ‘Em cinco minutos estarei aí’, ele disse. Foram os cinco minutos mais longos da minha vida. Tocou o telefone e era a recepcionista, perguntando se eu esperava alguém. ‘Sim’, respondi.

 

 

Em seguida, ouvi os passos dele na escada. Não sabia se corria para o banheiro, por causa de uma dor de barriga súbita, ou se abria a porta. Deixei de lado o medo e abri a porta. Dei de cara com um homem bonito, de camiseta colante e músculos torneados. Tinha cabelos meio grisalhos e parecia ter de 36 a 40 anos. Isso me tranqüilizou um pouco. Ele foi entrando, me deu boa-noite e perguntou se estava tudo bem comigo. Acabei desabafando, contei tudo o que tinha acontecido e que estava bastante abalada. Falei também que, no dia seguinte, Rafael chegaria de Campos e diria com quem ele iria ficar.

 

 

Billy não acreditou que Rafael me achava gorda. Aí contei que, nos dois meses que ficamos separados, eu tinha perdido 27 quilos e que esperava com isso surpreender o meu marido. Eu já me sentia um pouco mais confiante daquela situação. Em seguida, Billy disse que iria me fazer uma massagem relaxante e que, se eu quisesse, ele seria todo meu. Falei que queria transar do mesmo jeito que fazia com meu marido. ‘Depois você vai me dizer se sou boa de cama ou não. Sei que quem tem uma profissão como a sua costuma fingir prazer. Mas você tem de ser sincero comigo.’ Ele concordou, pediu para eu tirar a roupa e entrou no banheiro. Voltou com a toalha amarrada na cintura e me encontrou nua, sentada na beira da cama. Olhei para aquele dorso grisalho e não resisti: ‘Você tem certeza de que tem 29 anos?’. Ele sorriu e disse: ‘Tenho 38, mas se revelar isso no anúncio não consigo trabalho’.

 

Ele pediu que eu me deitasse de bruços e começou a fazer a massagem pelos meus pés. Foi subindo com as mãos pelas minhas pernas, nádegas, costas, nuca, ombros, braços e, quando me virou, o resto da massagem foi pelo espaço. Eu já estava pegando fogo e transei como eu bem quis. Gostei tanto, mas tanto, que me senti até culpada. Na hora pensei: ‘Gente, foi muito melhor do que com meu marido!’. Acabada a transa, tomei banho, vesti a roupa e saí do banheiro com uma pergunta pronta. ‘Quantas cicatrizes eu tenho?’. ‘Não vi nenhuma’, ele respondeu. Ameacei não pagar se ele não fosse sincero comigo. E não foi só. Tirei o vestido e lhe mostrei todas as minhas cicatrizes: além das conseguidas nas três cirurgias na coluna por causa do acidente, tinha uma causada pela retirada do útero e outra de uma plástica nos seios. Billy me olhou atentamente e disse: ‘Olha, tenho 18 anos de profissão e o que vou lhe dizer é a mais pura verdade. Esqueça as suas cicatrizes. Você é uma mulher muito sensual. Homem nenhum vai ver cicatrizes em você. Seu marido é um babaca de ter arranjado outra, tendo uma mulher fogosa como você. Não sinto prazer quando estou trabalhando, mas hoje você me despertou tesão. Você dá de 10 a 0 em muitas mulheres que atendo por aí’.

 

 

Eu me vesti de novo, paguei a conta e saí sem olhar para trás. Estava com a alma lavada e a auto-estima lá em cima. Não iria deixar meu marido me magoar novamente. Tudo o que eu queria era cuidar da minha vida e da dos meus filhos. No dia seguinte, conforme o previsto, Rafael chegou em Recife. Fui buscá-lo no aeroporto vestida para arrasar. Ele ficou de queixo caído ao me ver bem mais magra, maquiada, usando um tubinho preto, meias fumê e sapatos pretos. Não era só isso. No meu olhar tinha um brilho diferente, eu estava confiante. Sabia que era boa de cama e que as minhas cicatrizes não iriam impedir ninguém de gostar de mim.

 

 

Nunca vou deixar de amar Rafael. Depois do meu caso com Billy, também nunca mais deixei meu ex-marido me tocar. Ele tentou, mas eu não quis. Chorei um ano inteiro por causa do meu casamento desfeito, mas tive a coragem de dizer a Rafael que poderia até perdoá-lo pela traição, mas que não conseguiria viver com alguém sem tesão por mim. Também não escondi nada dele. Rafael ouviu de minha própria voz a maior loucura que fiz na vida. Mas ele não acreditou. Uma pena. Disse que a minha imaginação é fértil e que eu não teria coragem para tanto. Com o tempo e com a terapia fui me valorizando e percebendo que eu me anulava ao lado dele. Passei 24 anos convivendo com uma pessoa que me iludiu mais de uma vez, porque depois fiquei sabendo que a secretária não tinha sido a única.

 

 

Hoje, passados mais de cinco anos, acho que a minha maior loucura foi a maneira que encontrei para não deixar que Rafael destruísse uma das coisas que mais gosto de fazer, que é sexo. Nunca tive vergonha do meu corpo e sexo, para mim, é uma coisa saudável. Estou reconstruindo a minha vida em Belo Horizonte, junto com os dois filhos maravilhosos que tenho. Moro num apartamento pequeno, decorado em tons de lilás, uma cor que gosto desde a infância. Tudo aqui tem a minha cara, o meu jeito de ser. Sou espiritualizada, faço meditação e estou livre dos remédios para a depressão, que tomava durante a crise do meu casamento. Mantenho meu peso, namoro, danço, nado e tenho muito fogo para ser gasto por longos e longos anos.”

 

 

*Para garantir a privacidade da autora, publicamos apenas as iniciais de seu nome e trocamos o nome de seu ex-marido.

 

 

 

 

 

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