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Ela já foi vilã de novela e advogada. Agora, chefia diversidade no Facebook

Saiu no site UNIVERSA

 

Veja publicação original:   Ela já foi vilã de novela e advogada. Agora, chefia diversidade no Facebook

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A jornada de Maxine Williams, diretora global de diversidade do Facebook, é longa. Acumula distâncias e experiências. Nascida em Trinidad e Tobago, uma pequena ilha do Caribe, ela estudou Direito nas conceituadas universidades Yale (EUA) e Oxford (Inglaterra). Mas Maxine já foi comediante de improviso, jornalista, ativista pelos direitos humanos e até atriz de novela. “Eu fazia a vilã”, conta, em entrevista para Universa.

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Em rápida passagem pelo Brasil, a executiva afirma que o caldeirão de vivências a ajuda a ampliar os índices de diversidade dentro da empresa de Mark Zuckerberg, cujo Relatório Global, divulgado em 2019, indica que 32,6% dos cargos de liderança da companhia são ocupados por mulheres. Sua missão é também reter talentos de diferentes contextos. “Não basta ter pessoas de categorias sub-representadas no nosso time. Precisamos criar um ambiente para que elas se sintam apoiadas em suas diferenças”, afirma.

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E ela sabe que o caminho dos integrantes de grupos minoritários é difícil. “Não dá para ser mulher e negra sem ter enfrentado algumas coisas”, diz, com sotaque caribenho. Esta, por sinal, é sua arma secreta. “É quem eu sou. Quero que outras pessoas que tenham sotaque saibam que também podem ser bem-sucedidas.”

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Em papo para Universa, Maxine fala de seu extenso –e variado– currículo, de como precisou trabalhar o dobro de seus colegas mais privilegiados e como o sucesso lhe garantiu a liberdade de ser quem é: mulher, negra e caribenha. Leia:

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Você já foi comediante?
Já fui comediante, mas improvisei por oito anos quando estava na faculdade. E foi a melhor coisa da minha vida, acho que todo mundo deveria fazer comédia de improviso, porque trabalha habilidades como estar na frente de um público sem roteiro, criando uma conexão, tendo que usar sua esperteza e humor para conseguir alcançar seus objetivos.

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Também trabalhei como atriz. Inclusive fiz uma novela. Eu interpretava a vilã [risos]. Também fui jornalista de cultura, de economia, e entrevistadora. Trabalhei como advogada por um tempo, fui ativista de direitos humanos, professora… Fiz muitas coisas diferentes.

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Como transitar em áreas tão destoantes influenciou sua carreira?
Acho que todas essas experiências me deram boa compreensão sobre a diferença entre as pessoas. Como vim de um país pequeno, com uma economia em desenvolvimento sem grande poder geopolítico, tenho perspectiva única de como vozes sub-representadas podem contribuir, se tiverem espaço.

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"O Facebook investe mais em estratégias de inclusão do que em diversidade na contratação. Manter essas pessoas é o mais difícil", falou a executiva - Keiny Andrade/UOL
“O Facebook investe mais em estratégias de inclusão do que em diversidade na contratação. Manter essas pessoas é o mais difícil”, falou a executivaImagem: Keiny Andrade/UOL

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Como começou a trabalhar com diversidade?
Foi há 13 anos, em um escritório de advocacia em Nova York, que tinha acabado de começar um trabalho para ampliar a diversidade. Por ser advogada, entendia o mercado de trabalho mas também tinha experiência em direitos humanos. Fiquei sete anos nessa empresa. Há seis anos, o Facebook queria começar a melhorar os índices de diversidade e eu era a combinação perfeita. Porque, por ser uma empresa global, o Facebook criaria uma nova perspectiva, ao contratar alguém que não fosse americano, que viesse de um país em desenvolvimento, Afinal, a maior parte das pessoas que usam nossos produtos não são ricas e não estão nos EUA.

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Por que é tão importante para o Facebook aumentar os índices de diversidade entre seus funcionários?
Se vamos fazer algo para o mundo todo, sabemos que vamos atender melhor às pessoas se os funcionários que estiverem trabalhando nos produtos tiverem pontos de vista diferentes. E sua visão de mundo é influenciada por seu contexto, pelo lugar de onde você veio. Além disso, diversidade traz mais inovação.

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Outras empresas vão também buscar mais diversidade?
Outras empresas já estão fazendo isso. Mas a questão é onde está o seu negócio e quais são suas ambições. Dá para ser relativamente bem-sucedido sem focar em diversidade, mas acho que uma empresa alcançará todos os seus objetivos se for global. Se você quiser ser um negócio de nicho, fazer, por exemplo, xampu só para pessoas com cabelo liso, não precisa ir atrás de diversidade. Mas se você quiser falar com todo mundo, tem que saber que xampu para cabelo cacheado não é o mesmo que para fios lisos. Se a empresa quiser ser global, vai precisar investir em diversidade.

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Qual é o maior desafio que uma empresa enfrenta quando ela busca diversidade?
São muitos [risos]. Mas um deles é que a empresa não existe independente da sociedade, e que cada uma tem questões internas de desigualdade. Não há um pó mágico que você pode jogar no ambiente e fazer com que seus funcionários sejam melhores do que a sociedade de onde eles vieram. A gente tem de trabalhar com o que tem.

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Você enfrentou algum tipo de dificuldade por causa da sua origem?
Você não pode ser uma mulher negra de um país em desenvolvimento sem enfrentar certas coisas. As pessoas fazem suposições, elas te subestimam.

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Para superar isso, pessoas sub-representadas precisam trabalhar duas vezes mais duro para, algumas vezes, ter metade do reconhecimento.

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Eu tenho sotaque, certo? E pesquisas dizem que as pessoas tendem a não confiar em quem tem sotaque. Além disso, tenho a pele escura e há estudos dizendo que as pessoas acreditam que quem tem a pele mais clara é mais inteligente. Mas eu tive que superar tudo isso, mesmo quando as pessoas me subestimavam.

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Agora, como diretora global do Facebook, as coisas se tornaram mais fáceis?
Sim. Pessoas respeitam sucesso profissional e hierarquia. A partir de um momento, sua reputação, conquistada com muito esforço, começa a fazer parte do trabalho por você. Mas, como membro de uma minoria, é preciso dar mais de si do que uma pessoa branca, por exemplo.

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Você acha que ter mais mulheres em altos cargos afeta diretamente as pessoas do ‘chão de fábrica’?
Sim, porque quando as pessoas veem, elas acreditam. Então, se você vê uma mulher, uma imigrante ou uma pessoa com sotaque em um papel de liderança, começa a construir uma nova ideia sobre o que significa ser aquela pessoa. Mulheres negras ocupam poucos cargos de liderança em todos os lugares, então quando as pessoas veem uma mulher negra nesse tipo de cargo, sua visão começa a mudar, principalmente em relação a todas as pessoas que fazem parte daquele grupo.

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Maxine foi comediante de improviso por oito anos antes de trabalhar como advogada e jornalista - Keiny Andrade/UOL
Maxine foi comediante de improviso por oito anos antes de trabalhar como advogada e jornalistaImagem: Keiny Andrade/UOL

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O que aprendeu em sua carreira que pode ensinar às mulheres?
Aprendi que excelência te garante liberdade e poder. Não é justo, mas quanto mais você se impõe, mais você entrega, mais liberdade e poder você terá de ser quem você é. Quando uma pessoa começa a trabalha no Facebook, o primeiro líder que ela vê na palestra de orientação sou eu. Depois da palestra, muita gente vem falar comigo que também é do Caribe, mas que mudou o sotaque para soar como americano, porque sabia que soar como um caribenho faria com que os outros as subestimassem.

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Você fala bastante sobre o seu sotaque. Ele é importante para o que você faz e representa?
Ele é quem eu sou. As pessoas escolhem esconder o sotaque para serem aceitas. Mas, para mim, é importante mantê-lo porque quero que outras pessoas que têm sotaque vejam que é possível ser bem-sucedido como eu. E o que me deu a liberdade de falar como eu falo foi o sucesso. Por isso eu digo que a excelência te garante a liberdade e poder. E eu uso isso para ajudar outras pessoas, abrindo caminho para elas.

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Uma das suas atividades é fazer políticas para reter pessoas diversas na equipe de Facebook. Qual é o maior desafio em manter esses talentos dentro da casa?
Criar um ambiente em que essas pessoas se sintam à vontade. O Facebook investe mais em estratégias de inclusão do que diversidade na contratação. Porque a gente sabe que ter as pessoas de diferentes contextos ali não é o bastante. Precisamos ter um ambiente que pode apoiá-las em suas diferenças. Por isso, fazemos muitos treinamentos, pedimos feedback de nossos funcionários porque queremos que eles sejam escutados. Mas é difícil, uma vez que o que te faz se sentir valioso não funciona para o colega do lado. Isso custa dinheiro, mas vale a pena.

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Há muitos programas para aumentar a representatividade de pessoas negras, LGBT, mulheres. Em qual outra categoria de pessoas sub-representadas deveríamos prestar mais atenção?
Pessoas com deficiência. É um grupo que está pouco representado, mas há uma complicação. Muitas delas não se identificam como deficientes. Ter uma deficiência não é apenas apresentar uma condição física óbvia, como estar em uma cadeira de rodas. Há pessoas com diabetes, com depressão, que precisam de um cuidado especial. Elas não se identificam como deficientes e, por isso, não temos o número exato de quantas pessoas têm esse tipo de problema sem que a gente atenda suas necessidades. É uma área desafiadora, porque cada país tem suas próprias políticas, mas elas realmente precisam de mais atenção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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