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Como contar ao parceiro que você foi vítima de violência sexual

Saiu no site REVISTA COSMOPOLITAN:

 

Veja publicação original: Como contar ao parceiro que você foi vítima de violência sexual

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por Rafaela Polo e Stacy Colino

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O movimento #MeToo deu voz a mulheres que passaram por essa situação. Mas nem todas conseguem falar abertamente sobre o que sofreram

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“Foi ele, foi ele. O Vinicius, meu padrasto. Eu era só uma menina…” Foi assim que durante uma sessão de hipnose Laura (Bella Piero) descobriu que sofreu violência sexual, ainda na infância, por parte do companheiro de sua mãe. Isso a fez perceber por que não conseguia transar com seu marido, Rafael (Igor Angelkorte). A dor de reviver essas memórias do passado sofrido foi intensa, mas necessária para ela trazer o acontecimento à tona e fazer uma denúncia contra o delegado abusador na trama de O Outro Lado do Paraíso.

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Apesar de ser um assunto tratado na novela das 9 e tema de movimentos como #MeToo, em que vítimas usaram a hashtag para revelar suas histórias nas redes sociais, nem todo mundo consegue se expor e contar o que aconteceu. E olha que os números são alarmantes: a cada dois segundos, uma de nós é vítima de violência física ou verbal; e, a cada 14, de assédio, segundo o Relógio da Violência, um cronômetro virtual criado em março de 2017 pelo Instituto Maria da Penha.

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Os traumas gerados têm consequências na vida pessoal. Como se relacionar e ter confiança no outro depois de ser violentada? Para muitas, uma situação como essa é paralisante. Gera medo na hora do sexo, estranheza no contato físico… E falar com o parceiro pode ser muito duro. Na trama global, o marido da vítima a apoia prontamente, mas a vida real pode ser diferente da ficção. “Se fica tudo bem após a revelação, isso pode aproximá-los.

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Mas, se ele não entender seus receios e não tiver empatia, a tensão pode aumentar e criar um abismo entre vocês”, diz a terapeuta de relacionamentos Laura Berman, apresentadora do programa de rádio Uncovered Radio, nos Estados Unidos. Como é melhor viver sem esse peso nas costas, existem algumas maneiras de abordar o assunto quando decidir abrir o jogo com o parceiro. Veja exemplos a seguir:

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1. Defina um objetivo

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Fale em voz alta o que você gostaria de dizer e pense exatamente o que quer revelar nessa conversa. Talvez alguma notícia a esteja deixando nervosa e, por isso, sentiu necessidade de contar ao parceiro sua verdadeira história. Quando descobrir o que pretende, encontre um lugar quieto e tranquilo para abrir o coração.

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Uma ideia é iniciar o papo com o último escândalo público e perguntar a opinião dele. “Isso funciona como um teste decisivo. Você consegue analisar sua atitude e pensamentos”, diz a psicóloga Meghan Fleming, especialista em sexo e relacionamentos, de Nova York. Em outras palavras, se ele reagir de uma forma que a faça se sentir apoiada (como dizendo “Que bom que as mulheres estão falando sobre isso”), já sabe que tem um ambiente seguro para compartilhar suas experiências.

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Mas, se a reação não for bacana (“Ah, ela pediu” ou “Quando essa perseguição aos homens vai terminar?”), é melhor descobrir primeiro por que ele pensa dessa maneira. Uma criação machista pode gerar pensamentos equivocados que precisam ser desconstruídos. E esse pode ser um bom momento.

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2. Explique o que você precisa

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Quando se sentir preparada, compartilhe o que passou com o cara. “Deixe claro que quer ser ouvida, ter suporte, compreensão e empatia, em vez de receber conselhos ou avaliações”, diz a psicóloga Debra Borys, especializada em tratar traumas, de Los Angeles. “Dizer o que espera ao compartilhar a história prepara o outro para ouvir e apoiar”, completa.

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Esse processo deu certo para a escritora Jandra, 28 anos, de Nashville, Tennessee. Depois que a hashtag #MeToo se tornou um viral, ela se sentiu preparada para contar ao marido sobre uma agressão sexual. Começou dizendo que estava feliz de ver pessoas se abrindo, mas também triste por muitas mulheres estarem sofrendo. Durante um show do Calvin Harris, um estranho colocou a mão embaixo de sua saia e tentou tocá-la.

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“Abordei o assunto com honestidade e não pedi para ele nada além de me ouvir”, contou. E foi o que ele fez. Se teve uma experiência específica que quer trazer à tona, seja direta e diga “É difícil para mim falar sobre isso porque é triste, mas…” Depois explique o que aconteceu com você. Pode ir aos poucos e parar se começar a se sentir muito fragilizada, por exemplo. Esse é, de fato, um momento bem difícil para a mulher.

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3. Prepare-se para impasses

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No mundo ideal, seu parceiro vai responder com compreensão e apoio – mas existe uma chance de que não faça isso. Precisamos nos preparar para os dois cenários. “Se ele te julgar ou não tiver consideração, fizer pouco de você ou da vítima na situação que estão discutindo, tente saber de onde vem esse posicionamento”, diz Meghan.

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Depois explique como a resposta dele a faz se sentir usando o pronome “eu” em suas afirmações. Por exemplo: “Eu não tenho certeza se entendeu como me sinto sobre isso” ou “Me magoa que esteja focando no que eu [ou a vítima] possa ter feito em vez de ver a responsabilidade do homem sobre seu comportamento”.

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Pode parecer difícil manter-se calma, mas falar com agressividade não vai prolongar a conversa. Dito isso, você pode dar um tempo – especialmente se o cara fizer pouco caso das suas afirmações – e depois voltar a esse papo. Lembre-se de que sua perspectiva pode ser distante da do parceiro (e vice-versa) ou então ele pode se sentir inútil (por não ter como te ajudar). Levará algumas tentativas para conseguirem “acertar” os sentimentos. Tópicos de complexidade emocional têm curvas de aprendizado e é raro rolar uma, digamos, “fluência” entre você e o boy logo de cara.

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Uma opção, se você se sentir mais confortável, é não divulgar todos os detalhes do que aconteceu de uma vez. Compartilhar por partes também pode ajudar. Quando a consultora de imagem Rachel, 27 anos, de Nova York, teve sua bunda agarrada por um cliente, ela confrontou o homem – e contou ao namorado logo em seguida.

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O que não revelou foi que, depois do incidente, o cliente se recusou a pagá-la, a menos que ela se encontrasse com ele em pessoa. Rachel não aceitou a condição e nunca foi paga. Somente mais de um ano depois é que contou ao namorado o resto da história. “Ele ficou indignado, mas também orgulhoso por eu ter tomado controle da situação”, diz ela.

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4. Olhe para o futuro

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Ao sentir que tem o suporte do qual precisa, siga em frente e sugira ao parceiro o que ele pode fazer para ajudar. Por exemplo: sabe esses grupos de WhatsApp cheios de memes e papos desrespeitosos sobre mulheres que rolam entre alguns amigos no bar? Seu parceiro pode começar chamando a atenção dos colegas e encorajando-os a tratar as mulheres com mais respeito. De pouco em pouco, a gente faz a diferença.

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Se, por outro lado, ao longo do tempo e com algumas conversas seu parceiro não é empático ou nem te apoia, infelizmente essa não é a relação certa para você. “Isso não é bom para a longevidade do relacionamento”, diz a psicóloga Christine Nicholson, de Kirkland, Washington.

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Pode ser que ele tenha preconceitos ocultos ou esteja confuso com o próprio momento que estamos vivendo, com tantas vítimas denunciando seus agressores. Você precisará decidir se quer ficar em uma relação como essa. Ou encontrar uma cheia do apoio e da compreensão que você merece. Indicamos a segunda opção.

 

 

 

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