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Amelinha Teles: “Refletir sobre o cotidiano nos faz feministas”

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Veja publicação original:   Amelinha Teles: “Refletir sobre o cotidiano nos faz feministas”

 

A feminista defende que feminismo é a luta pela igualdade, para que as pessoas possam protagonizar suas vidas, seus trabalhos

Por Isabella D’Ercole Do Claudia

 

Maria Amélia de Almeida Telles, conhecida como Amelinha, militava clandestinamente no PCdoB, em plena ditadura militar (1964-1985), quando se compreendeu feminista. “Militei muitos anos só com homens. Trabalhei na imprensa clandestina e, ali, só trabalhavam homens. Eu sentia falta das mulheres. Percebia a desigualdade dentro e fora do partido”, relatou à CLAUDIApor telefone.

Ao tomar contato com obras como a da ativista e filósofa negra norte-americana Angela Davis, foi solidificando sua posição, entendendo seu lugar no que chama de “coletivo de mulheres que se rebelam frente à discriminação histórica contra elas”. Na mesma época em que a Assembleia Geral da ONU declarou 1975 como o Ano Internacional das Mulheres, Amelinha começou a escrever para o jornal Brasil Mulher, um dos primeiros direcionados às mulheres e feitos por mulheres.

“Vivi muitas lutas em momentos históricos muito distintos. Eu sou de um tempo em que a palavra creche era estigmatizada e que, hoje, é entendida como um direito, graças às feministas”, coloca Amelinha, acrescentando às conquistas a igualdade de direitos solidificada pela Constituição de 1988, o ganho de consciência política entre as mulheres, o aumento das notificações de denúncias de violência.

CLAUDIA: O que é o feminismo para você?

Amelinha Teles: Um movimento político. Um coletivo de mulheres que se rebelam frente à discriminação histórica contra elas. Eu entro nesse coletivo, eu sou uma dessas mulheres e isso muda a minha vida, o meu cotidiano, na medida em que luto para ser uma mulher com autonomia em todos os sentidos, pessoal, econômico, político. Não tem um feminismo, são feminismos, são muitos. É ter direitos sobre meu corpo, minha sexualidade, meu direito de ir e vir, minha opinião. E ser como eu sou.

CLAUDIA: Em que momento você se percebeu feminista?

Amelinha: Me tornei feminista na clandestinidade. Eu me dei conta que era feminista além de comunista. Na organização, militei muitos anos só com homens. Não que não tivessem mulheres na luta contra a ditadura, mas nos núcleos em que eu me encontrava só tinham homens. Sentia falta das mulheres, percebia que havia desigualdades entre homens e mulheres, não só dentro do partido como fora também. As mulheres alvo de violência, salários menores… E comecei a me questionar: “por que isso?” Fui tomando conhecimento do que acontecia no mundo. Que existia uma Angela Davis nos EUA, uma mulher negra, comunista e feminista. Mulheres na Europa falando sobre o feminismo. Mas só em 1975 me tornei publicamente feminista, participei do jornal Brasil Mulher. A ONU declarou o ano de 1975 como o ano da mulher, então o movimento já ganhou uma visibilidade maior. O feminismo hoje é mais falado, mais aceito do que na época em que eu me tornei feminista. Feminismo é uma construção histórica que acontece dentro da sociedade e dentro de nós mesmos. Sempre estamos buscando respostas e formulando perguntas nas relações de um modo geral… Nos anos 1960, e 1970, feminismo era quase um palavrão. Hoje as pessoas dão um sorrisinho de lado. Ou levam na brincadeira, como se não fosse algo sério.

CLAUDIA: Um levantamento realizado pela Abril Inteligência com 1,5 mil leitoras mostra que 25% delas não se identifica com o feminismo. Isso quer dizer que o estigma com a palavra ainda é forte…

Amelinha: Vivemos em uma sociedade extremamente machista, e esse machismo é incorporado por homens e mulheres. Passa-se a ideia de que as desigualdades entre homens e mulheres são naturais, como se a mulher tivesse nascido para ser submissa e o homem para ser poderoso. Isso é visto como natural, mas é uma construção social. Você se rebelar tem um lado prazeroso, que dá orgulho, porque você vai lá e enfrenta. Mas às vezes há um certo comodismo em deixar as coisas como estão porque o preço pode ser alto. Então são vários os fatores pelos quais as mulheres não se assumem como feministas. Porque até os homens deveriam ser feministas. É uma proposta política de igualdade entre homens e mulheres em condições e em direitos. Não quer dizer que você não vá respeitar as diferenças que há entre nós. Não interessa o sexo, interessa a capacidade para que as pessoas possam protagonizar suas próprias vidas, seu trabalho, sua criatividade. Acho que muitas mulheres que não se consideram feministas não tiveram ainda a oportunidade de refletir sobre o próprio cotidiano. Porque basta refletir sobre o seu cotidiano que você se torna feminista.

 

 

 

 

 

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