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Além de Chimamanda: 9 escritoras de origem africana que você deveria conhecer

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Veja publicação original: Além de Chimamanda: 9 escritoras de origem africana que você deveria conhecer

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Por Leda Antunes

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Pare e olhe para a sua estante de livros: quantos livros de autoras de origem africana você já leu?

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A conquista da libertação dos países do continente africano do colonialismo e do apartheidé comemorada no mundo todo no dia 25 de maio. A data remete ao dia em que mais de trinta chefes de Estado africanos se reuniram em Addis Abeba, na Etiópia, em 1963, para fundar a Organização da Unidade Africana, hoje chamada de União Africana (UA), com objetivo de organizar e incentivar a descolonização de países que ainda estavam sob domínio europeu. À época, dois terços do continente já havia conquistado a independência.

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A Organização das Nações Unidas (ONU), ao perceber a importância desse encontro, instituiu, em 1972, o Dia da África. Passados 55 anos, a data é um marco na memória coletiva dos povos africanos e reforça o objetivo comum “de unidade e solidariedade dos africanos na luta pelo desenvolvimento do continente”, define a Fundação Cultural Palmares.

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A literatura dos países africanos foi e continua sendo utilizada como instrumento de luta pela liberdade, pela transformação social e como construção e representação da identidade desses povos. “O despertar para a consciência nacional e para a luta pela libertação nacional foi feito pela poesia. Mesmo a luta das mulheres. Há poemas que foram feitos para despertar a mulher para a luta”, explicou a escritora moçambicana Paulina Chiziane, a primeira mulher a publicar um romance no país, em entrevista à BBC Brasil.

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Por isso, conhecer a literatura africana é também conhecer a cultura e a história do continente, que é indissociável da história do Brasil, o País que concentra a maior população negra fora da África. “Sabemos que estudar literatura africana no Brasil não é a mesma coisa que estudar literatura árabe ou japonesa. Faz parte de entender da onde viemos e para onde queremos ir”, afirma a pesquisadora Natasha Magno, fundadora do GELCA (Grupo de Estudos de Literaturas e Culturas Africanas), da Unicamp.

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Porém, num mercado editorial que sempre foi dominado pela produção literária eurocêntrica e masculina, você já se perguntou quantas autoras africanas já leu? Nos últimos anos vivemos uma espécie de boom literário, principalmente com a popularização internacional de autoras como a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Mas, mesmo nas universidades, o acesso e a dedicação ao estudo da literatura e do pensamento teórico africano ainda é escasso e problemático, avalia Natasha.

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“Os elementos africanos estão presentes não só na genética de grande parte da população brasileira, mas também em expressões sociais, culturais e religiosas, que, ainda hoje, continuam à margem do universo acadêmico e editorial”, completa a pesquisadora.

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A pedido da reportagem do HuffPost Brasil, ela e Evelyn Sacramento, do projeto Lendo Mulheres Negras, elencaram algumas mulheres africanas que, através das palavras, contam um pouco da história dos seus países, e que podem servir como porta de entrada para este vasto e múltiplo universo da literatura africana.

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1. Ana Paula Tavares

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Angola, 1952

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“Paula Tavares é uma dessas escritoras que cedem sua voz para expressar, com rebeldia e ternura, o clamor amargo das mulheres encarceradas em seu próprio silêncio”, diz a biografia da autora na página da editora Pallas, que lançou no Brasil uma antologia dos seus poemas em 2001.

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Poeta, cronista, historiadora e crítica literária, ela faz parte da elite intelectual do país e, pela reflexão literária, participa do processo de reconstrução cultural de Angola após a independência. O primeiro livro, “Rito de Passagem”, foi lançado em 1985. Foi apontada como a primeira voz feminina de impacto na cena poética angolana, fazendo o resgate da tradição oral do país. “A oralidade é meu culto“, disse a poeta certa vez ao jornalista luso-angolano Pedro Cardoso.

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Na mesma entrevista, Ana Paula contou da influência da cultura brasileira na sua escrita. “O Brasil literário e musical foi chegando aos poucos, por ondas em todos os momentos de crescimento, maturidade e velhice. Chico e Caetano, Elza Sores, Elis Regina, Tom Jobim, e tantos outros. A poesia impôs-se com Manuel Bandeira, Drummond de Andrade, Murillo Mendes, o definitivo João Cabral de Melo Neto. Depois a prosa com um lugar de visita constante para Clarice Lispector, Nélida Pinon, Lygia Fagundes Telles”, disse.

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Livro sugerido:

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Amargos como os frutos (2001), antologia poética

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Editora Pallas

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2. Chimamanda Ngozi Adichie

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Nigéria, 1977

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Chimamanda é, provavelmente, o nome mais familiar dessa lista. Não é à toa, ela é reconhecida hoje como uma das mais importantes jovens autoras em língua inglesa e também por sua atuação no feminismo global.

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Nascida na Nigéria, a escritora se mudou para os Estados Unidos ao 19 anos. Lançou uma coletânea de poemas em 1997, mas seu primeiro romance, Hibisco Roxo, foi publicado em 2003. Alguns anos depois, em 2006, lançou Meio Sol Amarelo, ambientado na guerra de Biafra. O estouro mundial veio com Americanah, em 2013.

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“Chimamanda é pop e está sempre colocando diversas questões para a pensar a diáspora, para pensar o lugar dessa mulher em trânsito, que nasce na África mas vai estudar nos Estados Unidos”, opina Natasha Magno.

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Seu ativismo também foi transformado em livro, com a edição do discurso no TED Talks, “Sejamos Todos Feministas”, e “Para Educar Crianças Feministas”, uma extensa carta para uma amiga que acabou de se tornar mãe de uma menina. Chimamanda é leitura obrigatória.

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Livro sugerido:

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Meio Sol Amarelo (2017), Companhia das Letras

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3. Djaimilia Pereira de Almeida

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Angola, 1982

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Também da nova geração de escritoras, Djaimilia mudou-se para Portugal ainda criança, lugar onde cresceu e vive até hoje. Estreou em 2015, com o livro “Esse Cabelo”, um livro de memórias, ficção e ensaio. E também um manifesto antirracista.

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“Uma tragicomédia de um cabelo crespo que cruza fronteiras”, define Evelyn Sacramento, do projeto Lendo Mulheres Negras. “Nesse livro, que pode ser considerado autobiográfico, ela conta a história de uma menina que vive em Lisboa e suas relações com o cabelo ao longo dos anos”, completa.

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Djaimilia participou da 15ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), no ano passado e foi categórica: “Escrevo para não desperdiçar a minha vida. Seria uma vida sem viver, uma vida mal aproveitada. Para mim, escrever é uma questão de vida ou morte”

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Livro sugerido:

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Esse cabelo (2015), Editora LeYa

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4. Marguerite Abouet

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Costa do Marfim, 1971

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Marguerite nasceu na Costa do Marfim, mas aos 12 anos mudou-se para França, para estudar. Publicou, em 2006, o premiado livro “Aya de Yopougon”, uma história em quadrinhos, ilustrada pelo seu marido, Clément Oubrerie, que conta a história de três amigas, Aya, Bintou e Adjoua, que vivem os mesmos dilemas de tantas outras jovens de sua geração: garotos, festas e dúvidas sobre o futuro.

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A aventura de construir uma narrativa diferente sobre o continente africano virou a missão de Marguerite. “Meu trabalho é o de contar uma outra África“, disse a autora. A personagem Aya ganhou uma série, com outros cinco livros lançados e mais de 700 mil exemplares vendidos no mundo.

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Livro sugerido:

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Aya de Yopougon (2009), Editora L&PM

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5. Noémia de Sousa

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Moçambique, 1926 -2002

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Conhecida como a “mãe dos poetas moçambicanos”, sua obra representa a resistência da mulher africana e luta do povo moçambicano por sua liberdade.

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A edição de “Sangue negro”, único livro de Noémia, chegou ao Brasil em 2016, pela editora Kapulana. A obra é composta por 49 poemas, escritos entre 1948 e 1951, que circularam na época em jornais como O brado africano.

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“Ela é uma das grande vozes moçambicanas, participou da luta pela libertação e escreveu muito sobre o que é ser mulher e, principalmente, o que é ser uma mulher negra”, explica Natasha Magno.

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Noémia tem uma ligação com o Brasil , que está presente inclusive na sua poesia, quando a autora menciona sua passagem pelo país. Ela dedica um dos poemas ao escritor baiano Jorge Amado. Leia um trecho:

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[…]

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As estrelas também são iguais

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às que se acendem nas noites baianas

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de mistério e macumba…

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(Que importa, afinal, que as gentes sejam moçambicanas

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ou brasileiras, brancas ou negras?)

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Jorge Amado, vem!

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Aqui, nesta povoação africana

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o povo é o mesmo também

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é irmão do povo marinheiro da Baía,

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companheiro de Jorge Amado,

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amigo do povo, da justiça e da liberdade!

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[…]

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(SOUSA, Noémia. “Poema a Jorge Amado”)

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Livro sugerido:

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Sangue Negro (2016), Kapulana

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6. Paulina Chiziane

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Moçambique, 1955

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Paulina foi a primeira mulher moçambicana a publicar um romance, em 1990. A escritora cresceu no subúrbio da capital Maputo e participou ativamente da cena política de Moçambique como membro da Frelimo (Frente de Libertação Moçambique). Ela deixou o movimento nos anos 80 para se dedicar à literatura, mas seguiu lutando através das palavras. Teve os primeiros contos publicados na imprensa moçambicana em 1984 e, em 1990, publicou , “A bala de amor ao vento”, seu primeiro romance.

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Paulina nega o rótulo e romancista e se define como “contadora de histórias”. “Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte”, afirma. Nos seus livros, conta histórias de mulheres, amores, conflitos, política e espiritualidade. Ela reconhece a literatura e as palavras como instrumento de transformação da realidade..

 

“A escravatura durou quase cinco séculos e a libertação durará outros séculos. Palavras são para construir nova identidade. Lutar por liberdade é desconstruir mentiras construídas como verdades. Nós temos a palavra e vamos usá-la em sua potência máxima para desconstruir mentiras construídas ao longo de séculos”, disse a escritora em entrevista ao Brasil de Fato, no final do ano passado.

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Livro sugerido:

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Niketche – Uma História da Poligamia

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7. Scholastique Mukasonga

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Ruanda, 1956

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Nascida em Ruanda nos anos 50, Scholastique conviveu desde a infância com a violência e a discriminação oriundas dos conflitos étnicos em seu país.

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Dois anos antes do genocídio em Ruanda, Mukasonga mudou-se para a França, onde vive até hoje, mas foi o massacre que a tornou escritora. Ela perdeu 27 membros da sua família na guerra civil que dizimou centenas de milhares de tutsi, sua etnia, em 1994.

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Sua entrada na literatura foi marcada pelo autobiográfico “Inyenzi ou les Cafards”, lançado em 2006. “Escrevo para salvaguardar a memória dos meus: é disso que tiro a coragem para sobreviver”, disse a autora em entrevista à Folha, no ano passado, durante sua participação na Flip.

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Livro sugerido:

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Nossa senhora do Nilo (2017), editora Nós

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8. Rutendo Tavengerwei

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Zimbábue

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Rutendo é a mais recente revelação literária do Zimbábue, onde nasceu e morou até os 18 anos. Ela seguiu seus estudos na África do Sul, onde se formou em direito.

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Seu primeiro romance “Esperança para voar”, lançado neste ano inclusive no Brasil, pela Kapulana, conta a história de superação e amizade de duas adolescentes. O cenário é o Zimbábue, em 2008, ano de grave crise política nesse país africano.

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Em entrevista à editora, Rutendo comentou sobre o processo de elaboração do romance e das criações das personagens: “Quando refleti sobre 2008, percebi que a maioria das minhas lembranças e a maneira como eu via o mundo era da perspectiva de uma adolescente, então fez sentido para mim que as protagonistas fossem adolescentes. Ainda mais porque lições sobre esperança e perseverança são importantes, e eu queria compartilhá-las especialmente com o público jovem”.

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Livro sugerido:

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Esperança para voar (2018), Kapulana

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9. Yaa Gyasi

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Gana, 1989

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Yaa Gyasi virou sensação da literatura mundial ao entrar, em 2016, na lista de melhores livros do ano do The New York Times. A ganesa, filha de um professor e uma enfermeira, mudou-se para os Estados Unidos ao dois anos de idade. Seu primeiro romance, “A Caminho de Casa”, que conta a história de duas irmãs com destinos completamente diferentes, e o impacto em suas vidas do comércio de escravos nos dois lados do Atlântico.

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“Ela traz uma narrativa impecável, muito bem escrita, ficamos presos na história das irmãs Effia e Esi”, comenta Evelyn Sacramento, do Lendo Mulheres Negras. O sucesso da estreia tem levado a comparações com escritores de renome, como a nigeriana Chimamanda Ngozie Adichie.

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Livro sugerido:

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A Caminho de Casa (2017), Rocco

 

 

 

 

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