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A cientista que ajudou na descoberta da fissão nuclear

Saiu no site NEXO

 

Veja publicação original:  A cientista que ajudou na descoberta da fissão nuclear

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Nascimento de Lise Meitner completa 140 anos em 2018. Física austríaca nunca recebeu um Nobel

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Por Juliana Domingos de Lima

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Em 1945, a Academia Real Sueca de Ciências, responsável pela atribuição do Prêmio Nobel, concedeu a honraria ao químico alemão Otto Hahn pela descoberta da fissão nuclear.

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Descoberto no final da década de 1930, o processo de fissão consiste na divisão do átomo de urânio em elementos mais leves, ao ser bombardeado por partículas como os nêutrons, liberando uma explosão de energia.

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Isso provoca uma reação em cadeia: uma série de fissões nucleares com liberação contínua de energia, que têm potencial explosivo.

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O prêmio ignorou a contribuição de Lise Meitner, física austríaca que participou do trabalho de pesquisa e, mais do que isso, forneceu a primeira explicação teórica para a fissão.

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A descoberta abria espaço para o início da Era Atômica, período da história posterior à primeira explosão nuclear, ocorrida em 1945. Ciente de seu poder destrutivo, Meitner era contra as armas nucleares.

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O trabalho da física

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Pioneira nas pesquisas sobre radioatividade e uma das cientistas mais importantes do século 20, Meitner nasceu em Viena em 7 de novembro de 1878.

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Terceira de oito filhos em uma família judia de classe média, ela foi além das restrições impostas à época em seu país à educação feminina, segundo as quais meninas só podiam receber educação formal até os 14 anos.

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Meitner completou sua formação com um professor particular e ingressou na Universidade de Viena em 1901. Em 1905, obteve seu doutorado em física pela instituição. Foi a segunda mulher a alcançar este feito.

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A colaboração com Otto Hahn se iniciou alguns anos depois, por volta de 1907, quando a física decidiu ir trabalhar na Alemanha.

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Nessa época, Hahn tinha acesso a algumas das melhores instalações como assistente do Instituto de Química da Universidade de Berlim.

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Já Meitner, por ser mulher, não possuía uma posição profissional e só tinha permissão para fazer seu trabalho em um antigo armário de carpinteiro localizado no porão do instituto. O único banheiro acessível para ela ficava em um restaurante fora da universidade, na rua.

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Isso só começou a mudar em em 1909, quando as universidades prussianas começaram a diminuir suas barreiras para mulheres.

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Hahn e Meitner deram grandes passos no trabalho com radioatividade, publicando uma rápida sucessão de artigos nestes anos.

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Apenas uma pequena porcentagem do trabalho de pesquisa de Meitner, no entanto, foi publicado, segundo um artigo do site do “Women’s Museum of California” (Museu das mulheres da Califórnia). E, quando era publicado, o nome de um colega de laboratório tinha que ser colocado na frente de sua assinatura.

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Em 1917, ela enfim recebeu um espaço próprio para trabalhar e um salário mais próximo ao de Hahn.

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Na mesma época, os dois cientistas descobriram o isótopo de protactínio, um elemento químico radioativo produzido artificialmente, o que rendeu a Meitner Medalha Leibniz. Em 1926, Meitner se tornou a primeira mulher na Alemanha a ser professora titular de física, na Universidade de Berlim.

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FOTO: WIKIMEDIA COMMONS

 SENTADA NA PRIMEIRA FILEIRA, MEITNER FOI UMA DE SOMENTE TRÊS MULHERES A PARTITIPAREM DESTA CONFERÊNCIA EM COPENHAGUE EM 1932

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A cientista teve de deixar a Alemanha em 1938 devido à ascensão do nazismo. A fuga a levou a Estocolmo, na Suécia, para trabalhar no Instituto Nobel de Física. Manne Siegbahn, laureado em 1924, havia sido nomeado diretor do instituto.

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Siegbahn nutria um forte preconceito contra a atuação de mulheres na ciência. No instituto, a já experiente física recebeu o salário de um assistente júnior, não recebeu recursos suficientes para iniciar seu próprio grupo de pesquisa nem foi convidada para integrar o do diretor.

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Mesmo à distância, e dadas as limitações da comunicação da época, a física continuou a colaborar com Hahn, que estava na Alemanha.

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Pouco antes do fim do ano de 1938, em Estocolmo, Meitner e seu sobrinho Otto Frisch, também físico, chegaram, por meio de cálculos e teoria, à explicação para o fenômeno do urânio se dividir em elementos mais leves, em vez de se converter em um elemento mais pesado quando bombardeado com nêutrons. E batizaram o processo de fissão nuclear.

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O apagamento

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A separação geográfica dos colaboradores e o exílio de Lise Meitner estão entre as razões apontadas para o comitê do Nobel falhasse em compreender a contribuição da cientista para o trabalho.

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A participação de Manne Siegbahn no comitê também consta entre as hipóteses sobre por que Meitner foi ignorada.

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Segundo um artigo publicado pela revista Scientific American Brasil, Hahn inicialmente se referiu ao trabalho como um esforço colaborativo entre ele, Meitner e Fritz Strassmann. Depois de um certo tempo, porém, adotou o discurso de que o achado foi fruto apenas da química experimental, desenvolvida por ele e Strassmann.

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Embora suas contribuições para a descoberta da fissão nuclear estejam bem documentadas e ela tenha sido indicada ao Prêmio Nobel em diversas ocasiões, morreu em 1968 sem nunca ter sido reconhecida pela Academia Real Sueca de Ciências.

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Em 1982, o elemento radioativo sintético meitnério foi criado e nomeado em homenagem à cientista. Trata-se do único elemento, até o presente, a receber o nome de uma mulher real.

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Os demais elementos que derivam nomes femininos prestam tributo a figuras mitológicas, como o Nióbio, que vem de Níobe personagem da mitologia grega que é filha de Tântalo e Dione.

 

 

 

 

 

 

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