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A brotheragem e um espancamento em via pública

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original: A brotheragem e um espancamento em via pública

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A empresária Beatriz Schauff presenciou um espancamento de uma mulher na rua, na frente de um bar. Vinte homens assistiram a cena e não fizeram nada. A justificativa? “Ela é a mulher dele”. Aqui, uma reflexão sobre o silenciamento perante a violência

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Por Beatriz Schauff

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O que você faria se estivesse diante de uma cena real, de um homem grande e forte, espancando a própria esposa, no meio da rua? Não se trata de um vídeo na internet, o qual basta comentar com revolta clamando por vingança. Não se trata de uma matéria na TV, que você comenta indignado com quem está ao seu lado no sofá. É ao vivo, em tempo real, acontecendo bem diante de você, em espaço público – o qual também lhe pertence.

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A resposta de dezenas de homens para essa pergunta foi a mesma, ontem à noite, quando uma mulher jovem, na faixa dos trinta anos, era brutalmente espancada diante de todos: nada.

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“Ela é a mulher dele”, disse um. “Foi ela que começou”, disse outro. “Deixa, daqui a pouco ela já perdoou”, disse uma garota (isso mesmo, uma garota). E assim, apáticos e inertes, homens que poderiam impedir o horror que acontecia bem diante de nossos olhos, que tinham força suficiente para parar aquele indivíduo de mais de 1,90 de altura, justificavam a sua conivência com a violência contra a mulher.

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Apenas três pessoas se colocaram entre o casal. Eu, uma amiga e um rapaz, que jamais venceria uma briga com um homem daquele tamanho, como de fato, perdeu. O agressor alegava que ela era sua esposa e nos ameaçou com violência. Arrastou-a pelos cabelos da calçada até a rua, quase despindo a mulher, dando murros com vontade. Ninguém fazia nada. Em plena Vila Madalena, bairro famoso por bares bacanas em São Paulo. A moça entrou num táxi que passava.  Minha amiga chamou a polícia, que levou o agressor.

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A rouquidão na voz de hoje é dos gritos em vão para que os homens ali presentes fizessem alguma coisa antes que ele a matasse bem diante de todos nós. Gritos solenemente ignorados. Gritos de uma mulher. Porque nós não somos ouvidas mesmo que falemos mais alto, afinal, nosso lugar é o de aceitar. “Ela é esposa dele” e ponto final. Seu corpo, sua pele, sua roupa, sua mente, tudo passa a pertencer a um novo sistema hierárquico de poder absoluto sobre ela, poder esse que ultrapassa todas as demais instâncias sociais e políticas. Nada nem ninguém pode se meter.

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Mesmo ainda sem voz, o meu pedido é uma reflexão urgente: o espancamento da moça no meio da rua sem ninguém agir para salvá-la é produto do machismo. O machismo que valida a violência e que empodera os homens da pior forma possível: eles não precisam aprender a lidar com frustrações, são prometidas a eles relações de submissão onde reinarão soberanos, estão garantidas a eles posições de poder em todas as áreas da vida: trabalho, relacionamentos e família. Quando isso não acontece, estão livres para agir com a força – sua maior vantagem sobre nós – e aí, eles se valem da “brotheragem” que os protege.

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Agora, o que você faria se tivesse assistido ontem a essa cena de espancamento e a mulher fosse sua irmã? O que faria se ela fosse sua mãe? E o que faria se fosse sua filha?

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Mulher, que está lendo essa coluna: o que faria se fosse você?

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Beatriz Schauff  (Foto: Arquivo pessoal)

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*Beatriz Schauff é empresária e sócia-proprietária da Floter & Schauff assessoria de comunicação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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