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Maternidade pode ser a causa da desigualdade salarial entre homens e mulheres, diz estudo

Saiu no site FINANÇAS FEMININAS: 

 

Veja publicação original: Maternidade pode ser a causa da desigualdade salarial entre homens e mulheres, diz estudo

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Por Ana Paula de Araujo

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Todas nós sabemos que mulheres ganham menos do que os homens. A desigualdade salarial não é exclusividade de países em desenvolvimento: nos Estados Unidos, as norte-americanas ganham apenas 79% da renda do gênero masculino. Já aqui no Brasil, segundo o IBGE, ganhamos apenas 75% do que eles recebem, mesmo estando em maior número entre as pessoas com ensino superior.

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Essa desigualdade entre gêneros é tamanha que levanta uma série de debates e inspirou o 18º episódio da série Explicando, produção exclusiva da Netflix que entrevista desde Hillary Clinton, ex-candidata à Presidência dos Estados Unidos, até Valentine Rugwabiza, embaixadora da ONU em Ruanda.

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Afinal, qual é o motivo para essa discrepância? Há quem diga que é culpa da discriminação de gêneros – ou seja, o sistema econômico em geral não acredita que mulheres podem ter o mesmo desempenho de um homem. Outros argumentam que nós escolhemos áreas que pagam menos.

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No entanto, um novo estudo da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, chegou a outra conclusão: a diferença salarial entre homens e mulheres é, basicamente, uma penalização por nós termos filhos. É sobre este estudo, entre outros, que o episódio da série documental da Netflix se debruça.

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Culpadas pela maternidade

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Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores usaram dados de um dos países com maior suporte social: a Dinamarca. Lá, eles oferecem aos novos pais um ano de bolsa para ajudar na criação.

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Eles encontraram uma queda brusca na renda de mulheres depois do nascimento do primeiro filho – sendo que, para homens na mesma situação, não há nenhum impacto. O efeito acumulativo é assustador. As mulheres acabam recebendo 20% a menos do que eles ao longo da carreira.

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No país, mulheres sem filhos têm renda similar aos homens, enquanto as mães sofrem com a desigualdade salarial. O gráfico a seguir compara a trajetória da carreira de uma mãe com a daquelas que não tiveram filhos.

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O estudo estima que a gravidez seja culpada por 80% da diferença de salários na Dinamarca.

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Este estudo foi feito com dados do país europeu, mas há levantamentos similares feitos nos Estados Unidos. Um deles, da Universidade de Harvard, aponta que a diferença salarial no país é maior entre mulheres na faixa dos 30 – época na qual, geralmente, se têm o primeiro filho.

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Alguns culpados históricos pela diferença salarial entre gêneros, como a disparidade na formação e educação, estão sumindo. “A única coisa que não está mudando é o efeito de ter filhos. Isso é muito persistente e constante”, disse o economista Henrik Kleven, responsável pelo estudo da Universidade de Princeton, ao site Vox.

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E os homens?

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Kleven descobriu que, depois da gravidez, as novas mães acabam em trabalhos com menor carga horária e salários inferiores. Na Dinamarca, dez anos depois da primeira gravidez, mulheres têm 10% mais probabilidade de acabar em um cargo público do que um homem – no país europeu, estes trabalhos tipicamente oferecem horas de trabalho mais flexíveis e possibilidade de sair para levar a criança ao médico, mas também pagam menos.

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Já a renda dos novos pais permanece intacta: a curva salarial de homens com ou sem filhos é praticamente igual ao longo das décadas seguintes.

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Segundo o economista, acredite se quiser, a política de flexibilidade da Dinamarca pode estar exacerbando a disparidade salarial entre gêneros no país. Na teoria, a política dinamarquesa permite que tanto pais quanto mães saiam do trabalho para cuidar dos filhos. Porém, na prática, são elas que cuidam disso na vasta maioria dos casos – eles cumprem essa função em apenas 10% dos casos, deixando para as mães o ônus de 90%, segundo o próprio governo dinamarquês.

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É por isso que, para Kleven, essa flexibilidade não apenas não corrige a desigualdade entre gêneros como, ainda, pode aumentar a disparidade por tirar apenas a mulher de seus postos de trabalho, diminuindo seu potencial de renda. “Quando essa política é neutra [não é especificamente dividida entre o pai e mãe], não podemos esperar que faça algo notável pela desigualdade de gêneros.”

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Por que as mães ainda são penalizadas?

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A questão ainda não tem resposta mas, para o economista, há duas hipóteses possíveis que não necessariamente são excludentes. A primeira diz respeito ao ambiente, onde normas sociais dificultam a permanência das mães no mercado de trabalho. Elas podem sentir que não lhe são oferecidas certas oportunidades – como um trabalho que exija longas viagens ou carga horária extensa – por causa da percepção de que elas são as principais cuidadoras de uma criança.

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Um levantamento citado por Kleven mostra que a maior parte dos adultos dinamarqueses e norte-americanos acreditam que mulheres com crianças pequenas não devem ter trabalhos em tempo integral.

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A outra explicação seria biológica: mulheres poderiam ter uma tendência mais forte de preferir passar mais tempo em atividades relacionadas ao cuidado das crianças.

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Independentemente desses apontamentos, as políticas públicas têm um papel muito importante – os governos têm a capacidade de moldar como os filhos devem ser criados ao mudar a estrutura da licença parental, por exemplo. Fora da Dinamarca, a maioria dos países escandinavos decidiram que é bom para a sociedade encorajar homens a tirarem licença depois do nascimento de seus filhos.

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Em 2000, a Islândia, por exemplo, reservou 13 semanas para pais deixarem o trabalho para cuidar dos filhos – obrigatoriamente. Como resultado, mais de 90% dos homens com filhos aproveitam o benefício. Isso também diminuiu a discriminação dos empresários, que sabem que tanto homens quanto mulheres gozarão de uma licença remunerada – aqui no Brasil, até alguns candidatos à Presidência defendem que mulheres ganhem menos por causa da maternidade.

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O documentário do Netflix aponta essa política como uma grande responsável por mudar culturalmente a perspectiva sobre a criação dos filhos, mostrando que ela deve ser dividida entre pais e mães. Lá, para cada dólar que um homem ganha, a mulher ganha US$ 0,90 – um dos índices mais igualitários do mundo. Na entrevista, Clinton afirma: “A desigualdade salarial não é problema só da mulher, mas da família.”

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Outro país que conseguiu reverter drasticamente a desigualdade salarial entre homens e mulheres é Ruanda – porém, em um cenário muito mais dramático. A nação – que outrora sequer permitia que as mulheres falassem em público – enfrentou um grande genocídio em 1994, com aproximadamente 800 mil pessoas mortas, homens em maior parte. Com isso, as mulheres se tornaram de 60% a 70% da população.

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A necessidade fez com que Ruanda criasse novas políticas para levar as mulheres ao poder – por exemplo, que ao menos 30% das cadeiras do legislativo deveriam ser ocupadas por elas. Hoje, no entanto, o índice é de 61%, de acordo com o documentário Explicando. Essas políticas são levadas tão a sério que existe o cargo de Fiscal de Gênero, que cobra das autoridades que elas estejam sendo cumpridas.

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É uma decisão que cada país deve tomar: adotar políticas que tragam mais equidade para sua força de trabalho ou que colocam o peso da criação dos filhos majoritariamente nas costas das mulheres?

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Fotos: Fotolia

 

 

 

 

 

 

 

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