Denice ingressou na Polícia Militar em 1990, na primeira turma para mulheres. A profissão ela não escolheu, lhe “veio”, como diz. Uma pessoa de sua família ficou sabendo do concurso, avisou seu pai e ela decidiu se candidatar. Seus quase trinta anos de serviço estão marcados por ações visando a melhores condições para a mulher, seja a cidadã comum ou a policial.
.
Em 2006, ela criou o Centro de Referência Maria Felipa, núcleo de gênero dentro da PM baiana que tem a missão de valorizar e melhorar as condições de trabalho da mulher no batalhão. Uma das conquistas do grupo foi a aprovação de uma portaria que assegura direitos às policiais grávidas.
.
A experiência de Denice lhe mostrou que se as violências sofridas são múltiplas, elas têm um denominador comum: o machismo. “Para mim, o machismo é um micro-organismo, um vírus ou uma bactéria que mata. E nós vamos criando diversas vacinas contra ele. O feminismo é uma delas. Aí sabe o que o machismo faz? Ele vai mudando, vai tentando se regenerar. Quando vê que estamos nos fortalecendo”, reflete.
.
Outro antídoto contra o machismo, segundo Denice, é fazer com que toda a sociedade seja envolvida na discussão: dos homens às crianças. “É preciso que os homens estejam envolvidos no processo. A violência é uma construção, uma doença social. E, como doença, ela vai precisar ser tratada. Se toda a sociedade está doente, precisa ser tratada. Precisamos transversalizar o tema nas escolas. É preciso quebrar esse tabu de falar sobre violência doméstica.
.
Eu não entendo como as pessoas assistem a cenas de violência doméstica na TV e não conversam com as crianças sobre o tema. Eu não consigo entender quando um pai grita em casa, chantageia, ameaça, humilha uma mãe na frente das crianças e isso não é trazido à mesa para conversar com os filhos e dizer ‘olha, papai gritou, mas ele está errado’. Não, não se pode falar. Ainda está muito ‘em briga de marido e mulher, não se mete a colher’. Então a gente precisa dialogar a partir dos processos de formação, da família, da escola… A gente precisa cuidar desse agressor, conversar com os homens.”
.
.