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“Putafobia” não é uma ameaça ao feminismo — mas ignorar o abuso das mulheres é

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Veja publicação original: “Putafobia” não é uma ameaça ao feminismo — mas ignorar o abuso das mulheres é

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Por Julie Bindel/ Traduzido por Carol Correia

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“Se consentimento tem que ser comprado, não é consentimento”

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Tem havido uma discussão acalorada dentro do movimento feminista sobre a prostituição.

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A primeira vez que ouvi a palavra “putafobia” — que se destina a significar ódio ou estigmatização das mulheres prostituídas — foi em uma conferência em 2005, onde eu estava falando sobre os danos para as mulheres no comércio do sexo. Durante a sessão de Q&A, uma jovem feminista me disse que minha “putafobia” era um grande problema. “As feministas da segunda onda odeiam as trabalhadoras do sexo”, ela me disse. “Sua política é redundante”.

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Acusações de “putafobia” são cada vez mais utilizados para silenciar e dissuadir qualquer crítica do comércio do sexo. Este ponto de vista é consagrado nas políticas universitárias de espaço seguro, onde os estudantes muitas vezes tentam esconder a prostituição em uma identidade sexual, ao invés de algo que é feito para as mulheres mais pobres e mais desprotegidas do planeta, salvo algumas exceções de alto perfil da “puta feliz”.

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A prostituição não é uma sexualidade. Há uma clara diferença entre uma preferência sexual ou identidade e prostituição (uma forma de abuso dos homens). As feministas radicais reconhecem isso, mas para a quarta onda, tudo faz parte de um grande, muitas vezes “queer”, de transformar uma sociedade heterogênea em homogênea.

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A noção de que eu ou outra qualquer feminista que critica o comércio sexual sofra de um “medo irracional” das mulheres prostituídas é surpreendente. O uso do termo “puta” como algum perturbador distintivo de honra para descrever uma mulher prostituída é nada menos que grotesco. Os homens conseguem definir quem é uma “puta” e as mulheres não podem recuperar uma palavra que nunca foi nossa em primeiro lugar.

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A prostituição tem sido descrita para mim pelas mulheres que sobrevivem a prostituição como estupro pago. Os homens que pagam pelo sexo estão comprando subordinação sexual. Se “consentimento” tem que ser comprado, não é consentimento. Nenhuma das centenas de sobreviventes que conheci escapou de violências, abusos e degradações graves durante seu tempo na prostituição. As dúzias de compradores que eu entrevistei todos exibiram atitudes de desprezo para com as mulheres — por quê? Para tratar uma mulher como uma mercadoria, é necessário primeiro desumanizá-la.

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Quando as feministas começaram a apoiar as próprias estruturas e práticas que são uma causa e uma consequência da opressão das mulheres? As feministas mais jovens e de quarta onda estão hoje mais propensas a serem ofendidas pelos abolicionistas que fazem campanha para acabar com o comércio sexual do que com o proxenetismo e a compra de sexo. Inúmeros acadêmicos, que se descreveriam como progressistas, insistem que o “trabalho sexual” é “empoderador” e nada além de uma escolha.

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Enquanto as feministas radicais entendem as mulheres como uma classe de sexo e procuram desmantelar a opressão estrutural da supremacia masculina, as feministas da quarta onda ou “liberais” veem as mulheres como indivíduos desconectados com escolhas individuais. As liberais também tendem a se concentrar nas escolhas disponíveis para as mulheres, ao invés das escolhas que lhes foram negadas. É um argumento político sofisticado desprovido de sofisticação e política. Embora interessante, se eles aceitam ou não, os homens são capazes de se juntar: poucas coisas trazem os homens mais perto do que a violência que cometem contra as mulheres.

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Não é de admirar que as feministas que aprendem sua política na universidade tenham se envolvido numa cultura de política “de escolha” neoliberal. Existe uma hostilidade aberta dos acadêmicos pró-prostituição aos estudiosos que se desviam da linha pró-prostituição. Aqueles acadêmicos que defendem o comércio do sexo são dificilmente inofensivos indivíduos ineficazes em torres de marfim publicando papeis que ninguém lê; são ativistas poderosos que usam suas posições acadêmicas e credenciais para exercer influência na política de prostituição como membros de órgãos de pesquisa nacionais e internacionais. É preocupante que a pesquisa se detém a ideologia do comércio sexual e não a evidência acadêmica muitas vezes que acaba por informar esta discussão com consequências negativas para mulheres e meninas e consequências positivas para aqueles que lucram com esse regime de violência.

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Durante os últimos dois anos, tenho investigado profundamente o comércio global do sexo para o meu próximo livro e tenho viajado ao redor do mundo, entrevistando quase 250 pessoas. Essas pessoas incluem sobreviventes do comércio sexual, ativistas dos direitos dos trabalhadores do sexo, proxenetas, compradores de sexo e mulheres e homens que vendem sexo. O movimento abolicionista liderado pelos sobreviventes está em ascensão e vários países estão respondendo aos apelos para criminalizar aqueles que criam a demanda por prostituição, ao invés daquelas envolvidos nela.

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Num mundo em que os corpos de mulheres e meninas são vistos como produtos para serem comprados e vendidos, é muito importante resistimos a esse comércio de miséria e desafiar aqueles que lutam pelo “direito” das mulheres de serem abusadas.
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