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Marta fala sobre Copa feminina e revela ídolo: “Minha referência era o Rivaldo”

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:

 

Veja publicação original: Marta fala sobre Copa feminina e revela ídolo: “Minha referência era o Rivaldo”

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Estrela da Seleção, a jogadora Marta falou com exclusividade à Marie Claire sobre a Copa do Mundo, seu início no futebol e suas inspirações

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Indicada pela 14ª vez ao prêmio de melhor jogadora do mundo da FIFA – e vencedora em cinco deles – aos 32 anos, a alagoana Marta Vieira da Silva é uma máquina de recordes: maior artilheira da história da Seleção Brasileira, superando inclusive a marca de Pelé, ela fez 104 gols em 102 jogos (and counting) com a amarelinha.

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Marta, que hoje joga no Orlando Pride, nos Estados Unidos, também é a única mulher a ter os pés gravados na calçada da fama do Maracanã, ao lado de nomes como Zico, Romário Mané Garrincha. Mas se engana quem pensa que ela vive para continuar quebrando recordes.

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“Não sou obcecada. Minha vontade é acordar cedo, treinar, me sentir bem, fazer bons jogos e estar sempre em evolução”, diz ela. “Parei de pensar daqui dois, três anos. Penso no agora, no que é importante eu plantar agora. A gente não pode botar o carro na frente dos bois.”

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A história da jogadora de Dois Riachos, cidade de pouco mais de 10 mil habitantes no interior do Alagoas, tem passagens por clubes no Brasil, nos Estados Unidos e na Suécia, onde se consagrou. Em entrevista à Marie Claire, Marta falou de sua rotina, de ídolos e referências, das dificuldades de se destacar no meio machista do futebol, de Tite e Neymar e, claro, da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019, na França.

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Marta no prêmio de Melhor Jogadora do Mundo da FIFA (Foto: Getty Images)

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MARIE CLAIRE – Seu discurso [sobre recordes] é muito parecido com o do Cristiano Ronaldo em sua chegada à Juventus. Você se espelha nele? Enxerga semelhanças entre vocês?

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MARTA – O Cristiano é um exemplo de força de vontade e superação. O cara quer se superar a cada dia, ele vive para o futebol, estuda muito. Então, ele não é um exemplo só pra mim, mas pra muita gente. É um dos jogadores que eu mais admiro.

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MC – As meninas que hoje sonham em jogar futebol profissional têm a Marta como referência. Quem eram as suas?

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MARTA – Quando eu comecei, tinha o propósito de fazer algo para mudar a situação da minha família. Éramos muito pobres. Meus pais se separaram quando eu tinha menos de um ano, então minha maior inspiração sempre foi a minha mãe. Ela criou a gente sozinha: quatro filhos no interior de Alagoas. Eu me inspirava nela e na vontade que ela tinha de batalhar constantemente pra criar os filhos. Na época, infelizmente, a gente não conseguia acompanhar tanto o futebol feminino, não aparecia na TV. Mas sempre tem algum jogador que te inspira, né? Quando eu comecei, com uns 7, 8 anos, era o Rivaldo. Eu amava ver o Rivaldo jogar! Ele jogava no estilo que eu queria, que eu me via: perna esquerda, ali no meio do campo, número 10. Era ele que me dava essa referência.

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MC – Como foi crescer no meio machista que é o do futebol?

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MARTA – Eu vivia me superando, dia após dia. Como eu tinha muita vontade de vencer pelo futebol, eu nunca deixei de lutar pelo meu sonho, mesmo num ambiente machista. Eu sempre me mantinha firme e tentava ficar focada no que eu queria. Não dar tanto ouvido ao preconceito, aos comentários e às rejeições foi o que ajudou.

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MC – Você lembra de episódios em que sofreu com essa discriminação?

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MARTA – Muitos! Pra começar, quando eu brincava na rua, não queriam me deixar jogar. Eu era muito sapeca, então falava: “Se não vão me deixar jogar, eu vou bagunçar isso aqui”. Quando passei a jogar no time do colégio em que eu estudava e nós disputávamos campeonatos na região, o treinador de outro time disse que, se eu continuasse jogando no torneio, ele tiraria o time dele. Aí no ano seguinte eu não pude mais jogar.

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MC – Por que?

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MARTA – Puro preconceito! Ele achava que não era certo uma mulher jogar num campeonato de futebol masculino. Na época, eu tinha 11, 12 anos. Aí o pessoal da organização veio conversar comigo e disseram que não podiam fazer muita coisa, porque ele tinha entrado com um pedido para me tirar da competição.São situações que eu tive que encarar várias vezes. Hoje eu vejo que, de certa maneira, foi importante passar por isso, porque a cada vez que acontecia algo do tipo, eu me fortalecia pra seguir minha caminhada.

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Marta, Paolla Oliveira e Rosa Luz na campanha da AVON  (Foto: Divulgação)

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MC – E o que você faz para mudar isso hoje em dia?

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MARTA – Faço o que posso para continuar mostrando que o futebol feminino é um esporte atraente, interessante e tão competitivo quanto o masculino. Não é um bicho de sete cabeças. Infelizmente ainda não chegamos a um patamar em que todas as meninas que queiram jogar futebol possam ter condições boas, mas já é diferente, a aceitação é muito maior. Em escolinhas de futebol, você já vê mais meninas, bem diferente do que era na minha época. O esporte é uma ferramenta fundamental para trabalhar o empoderamento feminino e a igualdade de gênero.

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MC – Não é muito comum ver atletas mulheres em campanhas de beleza. Como você enxerga isso? [Marta é o rosto da nova campanha de maquiagem da Avon, que marca o lançamento da máscara de cílios Big&Extreme, ao lado de Paolla Oliveira e da artista multimídia e ativista trans Rosa Luz]

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MARTA – Hoje em dia, acredito que por conta das redes sociais, tem se tornado cada vez mais comum. Não tem que esperar época de Olímpiadas e Copa do Mundo para fazer, tem que expandir para que aconteça de forma mais constante.

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MC – Como foi a experiência da campanha?

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MARTA – Eu fiquei feliz em participar de uma campanha que retrata a beleza e o empoderamento da mulher, um alicerce muito importante para toda e qualquer sociedade.

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MC – Como é sua rotina de beleza? O que você costuma usar?

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MARTA – Com o passar do tempo fui me apegando mais a essas coisas, porque você sabe que as pessoas estão te observando, tem sessão de fotos. Pra treinar eu só uso protetor. Não sou nenhuma expert em maquiagem, mas passo máscara e base, aquele básico para levantar o astral. Você se sente mais empoderada quando se olha no espelho.

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Marta é o novo rosto da máscara Big&Extreme, da AVON (Foto: Divulgação)

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MC – O que você achou da atuação da Seleção Masculina na Copa da Rússia?

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MARTA – O Brasil é o país do futebol. Então quando se fala de Seleção, a expectativa é sempre grande. Eu, particularmente, gostei do desempenho do Brasil. Não perdeu porque jogou mal ou porque os atletas não mostraram garra, vontade. Pelo contrário, o último jogo do Brasil na Copa foi tipo: “meu, não dá, a bola não vai entrar. Pode ficar dez horas tentando, não vai entrar.” O primeiro sinal foi naquele lance do Thiago Silva em que a bola bateu na trave, voltou, e ninguém mais conseguiu botar pra dentro. Mas eu gostei. É lógico que brasileiro é muito mais exigente do que qualquer outro torcedor no mundo. A gente se acostumou em ser o melhor, então a decepção é muito grande quando não se ganha uma Copa. Mas o trabalho foi fantástico, tem que continuar. Eu torço muito para que o Tite possa continuar à frente da Seleçãoe os jogadores agora tenham tranquilidade pra se manter bem nos seus clubes e continuar servindo nossa Seleção. O título não veio, mas a gente não pode esquecer que eram 32 seleções e todas queriam ganhar, todas trabalharam pra isso. Não é fácil ser campeão do mundo.

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MC – Você acha que o Neymar saiu queimado da competição?

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MARTA – Eu acho que pegaram pesado com ele. O Neymar é nosso craque, referência, o melhor jogador que temos na atualidade, então a expectativa é sempre grande em cima dele. A gente não pode negar que os adversários caçavam ele dentro de campo. Só que em algumas situações ele valorizava muito o lance. Depois de um tempo ele percebeu que talvez tenha exagerado um pouquinho e melhorou. O desempenho dele foi melhorando também. Mundo afora, brasileiro sempre tem fama de simular falta, ser “cai-cai”, então ele acabou sendo mais massacrado.

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MC –  O que a gente pode esperar da Copa do Mundo de Futebol Feminino no ano que vem?

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MARTA – A gente vem trabalhando firme já há alguns anos. Temos um encontro em breve, vamos participar de um torneio aqui nos Estados Unidos. Isso tudo faz parte da preparação pro ano que vem, pra chegar bem na competição e buscar fazer o nosso melhor. Eu não estou pensando: “Vamos chegar lá e vamos ganhar”, mas sim em fazer meu trabalho da melhor maneira possível para que as próximas gerações, as meninas que virão depois de mim, possam ter um caminho menos duro. Quero olhar pra trás e falar: “Está muito melhor agora do que quando eu cheguei.”

 

 

 

 

 

 

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