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Você é uma pessoa atenta aos detalhes? Para avançar na sua carreira, talvez você precise aprender a delegar. Se é ótima trabalhando em equipe, considere receber o crédito pelas conquistas com tanta facilidade quanto o concede aos colegas. Essas são algumas dicas que Sally Helgesen, especialista em liderança, e o coach executivo Marshall Goldsmith trazem na apresentação do livro How Women Rise: Break the 12 Habits Holding You Back from Your Next Raise (“Como as mulheres crescem: decifre os 12 hábitos que estão te impedindo de conseguir o seu próximo aumento”, em tradução livre).
Como o nome sugere, a obra discute comportamentos e hábitos que tendem a prejudicar o desenvolvimento profissional das mulheres. Não se tratam de defeitos: as características podem inclusive ter facilitado o seu ingresso e avanço inicial no mercado, mas dificultam a ascensão a maiores níveis de autoridade. O que pode não ficar claro à primeira vista, mas Sally Helgesen ressalta, é que a discussão não nega o fato de que, frequentemente, o mercado não favorece o desenvolvimento das profissionais.
“Também existem barreiras culturais e estruturais”, diz a especialista. “A razão pela qual eu quis me concentrar nas barreiras internas é porque, na minha experiência, o maior impacto que as mulheres podem ter sobre essas barreiras vem quando elas são capazes de ocupar uma posição de influência e autoridade.”
Sally conversou com Época NEGÓCIOS sobre algumas das ideias do seu livro e sobre como as mudanças provocadas pela pandemia afetam a trajetória das profissionais. Leia os principais trechos da entrevista.
Época NEGÓCIOS: Em How Women Rise, você e Marshall Goldsmith discutem 12 hábitos que dificultam a ascensão das carreiras das mulheres. Sabemos que as pessoas são diversas e as experiências profissionais podem variar muito, afetadas por fatores que vão da área de atuação até a nacionalidade. Mesmo assim, as mulheres enfrentam desafios e barreiras em comum. O que nos torna tão semelhantes?
Sally Helgesen: Sim, a semelhança é notável. Quando fiz a turnê do lançamento do livro no Japão, as pessoas diziam: “Oh, pensamos que esses eram apenas hábitos das mulheres japonesas”. Portanto, certamente é algo que pessoas de países tão diferentes quanto Brasil e Japão podem ter em comum. Acho que as mulheres trouxeram uma experiência um pouco diferente para o mundo do trabalho. Elas muitas vezes são uma das poucas mulheres em uma reunião ou situação, de modo que experienciam um pouco de isolamento. Às vezes experimentam um certo ceticismo de colegas homens, como ‘por que ela está aqui?’, ‘ela realmente tem as qualificações, ou só estávamos tentando contratar uma mulher?’. Muitas vezes há uma exigência de que provemos nossa experiência, desde o início, para lidar com esse tipo de ceticismo.
Também há outros fatores, como as múltiplas responsabilidades que muitas mulheres têm quanto à administração de suas casas – o que, na minha opinião, também lhes dá acesso à capacidade de desenvolver certas habilidades que têm faltado nos locais de trabalho em geral, como empatia, escuta e trabalho em equipe. São capacidades muito comuns agora, quando falamos de excelência e liderança, mas não eram há 30 anos. Elas sabem o valor que as pessoas com uma perspectiva externa podem trazer, e sabem o que são comportamentos e expectativas condescendentes. Às vezes, o local de trabalho se adapta muito bem a essa riqueza de experiências. Às vezes, o processo é turbulento. Essas são algumas das experiências que acho que moldaram o posicionamento das mulheres no local de trabalho e que podem levar a alguns hábitos que podem miná-las, especialmente quando buscam crescer.
Há algumas semanas, você iniciou o seu painel no Fórum Internacional do Instituto Vasselo Goldoni discutindo por que devemos compartilhar nossas conquistas e buscar reconhecimento de forma mais ativa. Você acha que esta é a lição mais importante para as mulheres?
Acho que é uma lição muito importante. Se é a mais importante ou não, depende do indivíduo e da situação. Mas eu identifiquei que os primeiros dois hábitos do livro – relutar em reivindicar suas realizações e esperar que os outros notem e valorizem espontaneamente suas contribuições – são realmente ressonantes. E acho que isso é algo sobre o que muitas vezes as mulheres se sentem desconfortáveis. Elas têm uma postura de não querer falar sobre o que fazem, de querer encontrar uma maneira confortável de falar sobre suas conquistas. Quando alguém está constantemente falando bem de si mesmo, elas dizem: ‘eu não quero ser como aquele cara’. Acho que essa questão é muito, muito importante, porque toda grande carreira é construída em três pernas: expertise, visibilidade e conexões. Articular nossa contribuição é uma parte fundamental da visibilidade e nos ajuda a construir conexões.
Ambientes de trabalho, líderes e equipes podem ser mais ou menos favoráveis ao crescimento das profissionais. Nem todos os fatores que influenciam suas carreiras dependem delas, e às vezes pode ser difícil separar as coisas. Como trabalhar nisso?
Eu considero que escrever sobre os comportamentos e as barreiras internas que impedem as mulheres de avançar profissionalmente é muito importante e tem sido muito útil para elas. Mas não faço isso porque eu ou o Marshall acreditamos que as barreiras internas são as principais, ou a única coisa que prejudica as mulheres. Existem também barreiras culturais e estruturais. Quando digo estrutural, quero dizer aspectos sobre como o trabalho é projetado, presumindo que alguém está em casa cuidando das crianças. Com cultural, me refiro a todos os tipos de expectativas e à crença de que um certo estilo masculino de comunicação é uma demonstração de liderança. Todos esses fatores estão melhorando, mas continuam a ser problemas. A razão pela qual eu quis me concentrar nas barreiras internas é porque, na minha experiência, o maior impacto que as mulheres podem ter sobre as barreiras culturais e estruturais vem quando elas são capazes de ocupar uma posição de influência e autoridade. É então que as coisas começam a mudar. Portanto, minha preocupação é ajudar o maior número de mulheres possível a chegar a essas posições e abordar as barreiras internas que nos impedem de fazer isso.
Como a pandemia e as mudanças no modo como trabalhamos influenciam essa discussão?
Eu gosto de separar os problemas específicos que foram causados pela pandemia das mudanças de longo prazo que já estavam em andamento, mas tiveram um impulso muito forte na pandemia. Educar as crianças em casa e tentar gerenciar o trabalho enquanto você tem uma criança de três anos debaixo da mesa é muito difícil, então a pandemia colocou um fardo terrível sobre muitas mulheres. Também sobre os homens, mas particularmente sobre as mulheres. Temos visto taxas decrescentes de participação das mulheres na força de trabalho, pelo menos em nosso país [EUA], e parte disso também é determinado pelo fato de que os setores que foram mais impactados, varejo e hotelaria, são fortemente femininos. Acho que esses são impactos mais de curto prazo.
Por outro lado, a descoberta de que trabalhar em casa não tem um impacto negativo na produtividade está fazendo com que muitas organizações repensem suas políticas de home office. E isso é quase inteiramente uma boa notícia para as mulheres. Trabalhei com muitas empresas que tiveram problemas para atrair ou reter mulheres talentosas, porque tinham políticas muito punitivas em relação ao trabalho em casa, e isso as desencorajava. Elas também podem ter mais dificuldade em se mudar por causa de um emprego, porque os maridos estão menos dispostos a se mudar do que as esposas. Esses problemas começaram a desaparecer com o advento de mais e mais trabalhos virtuais. E eu acho que essa é uma tendência de longo prazo que vai estar conosco por muito tempo. Não será exclusivamente virtual, mas acho que a ideia de se deslocar até o escritório cinco dias por semana vai desaparecer na próxima década. A longo prazo, acho que vamos olhar para trás e ver o impacto que isso teve como uma das coisas mais positivas que aconteceram para as mulheres no mundo do trabalho.
Pegando carona no título do seu livro, gostaria de saber: como as mulheres avançam nas suas carreiras? Como construir a base para esse crescimento?
Eu diria que existem três coisas. Primeiro, as mulheres crescem construindo solidariedade com outras mulheres. Não podemos fazer isso sozinhas. Quando comecei a trabalhar com liderança feminina, em 1989, as mulheres não eram muito boas em apoiar umas às outras. Obviamente houve exceções, mas isso mudou, e acho que reconhecemos que nos elevamos ao nos elevarmos juntas. Em segundo lugar, a capacidade de formar alianças habilidosas e úteis com os homens de uma forma que atenda aos nossos interesses, e na qual também possamos ser úteis para eles, é uma parte fundamental de como as mulheres crescem. E estou muito feliz em ver que há cada vez mais ênfase nisso nas organizações.
Em terceiro lugar, eu citaria a importância de identificar quais são os comportamentos que você desenvolveu por serem úteis em sua carreira, mas que podem impedi-la de subir para o próximo nível. O livro é muito útil para fazer isso, mas também é útil pedir feedback às pessoas. ‘Você acha que eu sou um perfeccionista? Pareço minimizar minhas realizações? Sou concisa o suficiente em minha comunicação ou tenho a tendência de me repetir continuamente? Sou boa em recrutar pessoas para me apoiar, não apenas na construção de relacionamentos?’. Esses são alguns tipos de perguntas que podemos fazer. Receber feedback e criar esse tipo de feedback positivo nos dá mais informações. É também uma forma de construir alianças e buscar apoio. Portanto, acho que todas essas três coisas são realmente essenciais em nosso pensamento sobre como crescer.
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