Saiu no site UNIVERSA
Veja publicação no site original: Mulheres e negros estão fora de melhores do ano. Os novos tempos acabaram?
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Por Nina Lemos
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Desde 2017, a indústria de Hollywood prometeu ficar mais “inclusiva” (a palavra está em aspas porque colocar mulheres e negros na mesma situação que homens brancos deveria ser o normal, já que somos mais da metade da população). As coisas pareciam estar mudando quando, em 2017, o escândalo do “Me Too” apareceu, levando mulheres do mundo todo a falar não só sobre assédio, mas para gritar pelos mesmos direitos também em Hollywood, onde foi criado o movimento “Times Up”.
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Em 2018, por exemplo, entrou para a história a cerimônia do Globo de Ouro, quando todas as mulheres foram vestidas de preto em protesto contra o assédio e também por igualdade de salários (e de trabalho, prêmios, valorização). Os movimentos das mulheres foram homenageados também no Oscar. E o ano passado foi o ano em que mulheres e negros foram mais premiados no Oscar.
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Ao mesmo tempo, as revistas que publicam aquelas capas de “melhores do ano” também pareciam ter detectado que o mundo não era mais “o macho adulto branco sempre no comando.” Em 2017, a revista americana “Times” publicou pela primeira vez uma capa de personalidades mais importantes do ano apenas com mulheres. Lá estavam aquelas que lutaram pelo #MeToo e também por mais respeito para mulheres em Hollywood.
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A gente existia, olha só. Assim como gays, pessoas com deficiência, pessoas gordas. Que beleza! Só que, pelo jeito, isso só durou dois anos. Pelo menos é o que parece quando olhamos as indicações para o Globo de Ouro, divulgadas na segunda-feita.
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Pelo jeito, “a mudança” era só para inglês ver, ou melhor, para calar a boca… das mulheres, dos negros, dos gays e dar uma “repaginada” na indústria de entretenimento. Olha, nós agora somos inclusivos! Olha, agora percebemos que vocês existem e, nossa, vocês até falam e inclusive são inteligentes!
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Dois anos depois, o cenário não é tão positivo. De novo, estamos voltando para nosso lugar de origem (acompanhando esposos que ganham prêmios?).
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Aos fatos. No Globo de Ouro que elegerá os melhores de 2019, nenhuma mulher negra foi indicada para o prêmio de melhor atriz de TV. A tal inclusão simplesmente deixou de lado TODAS as atrizes negras ou latinas. Isso, claro, em um momento em que as plataformas de TV, como HBO e Netflix tentam, sim, colocar atores de diferentes etnias nas telas. Mas, nenhuma delas vai voltar para casa com um prêmio. No mundo, a premiação já está sendo chamada de “Dolorosamente branca.”
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Na parte de direção de cinema, as notícias também não são boas. As mulheres também não foram indicadas.
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A revista “Variety” fez uma lista de filmes dirigidos por mulheres que poderiam (e deveriam, oras) ter sido indicados, mas não foram. Ficaram de fora, por exemplo: Greta Gerwig, diretora de “Adoráveis Mulheres” e Marielle Heller, de “Um Lindo Dia na Vizinhança”. Entre outras..
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Não é mimimi, é matemática
E no Brasil? Bem, por enquanto, a tal “hora das mulheres” parece que era só uma moda mesmo. Eu sei que a nossa hora é todas as horas, mas estou falando da mídia e do mercado.
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Um caso emblemático que provocou muitas críticas na internet foi o da premiação dos melhores do ano da Internet. Os agraciados foram 13 pessoas. Desses, apenas 3 eram mulheres. E os negros, bem, eles foram representados por uma pessoa (homem, claro). Espera. Cadê Maju, Emicida, Thais Araújo, Gaby Amarantos, Ludmilla e tantos, tantos outros que quebraram tabus e brilharam esse ano? De fora.
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“Ah, mas os brancos e homens ganharam mais prêmios porque eles foram melhores”. Jura que você ainda acredita nisso? O quanto mais fácil é para um homem branco padrão ganhar um prêmio? Se você acha que tudo isso é “mimimi” e mania de perseguição, exemplos que não deixam dúvidas quanto a discriminação:
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Sabe quantas mulheres já ganharam um Globo de Ouro de Melhor Direção? Uma. Barbra Streisand, em 84.
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No caso do Oscar, mais de 33 mil estatuetas já foram entregues desde a criação do prêmio. Apenas 44 delas foram para negros.
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E sabe quantas mulheres já ganharam o prêmio de melhor direção? Uma. E apenas 5 foram indicadas na história na categoria. Não é mimimi. É matemática…
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