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Violência doméstica é uma das causas de depressão

Saiu no site REVISTAS DO POVO: 

 

Veja publicação original: Violência doméstica é uma das causas de depressão

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Por Joyce Oliveira

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A doença, que precisa ser tratada com atenção, atinge homens e mulheres e pode ter danos irreparáveis. Especialistas falam como a patologia manifesta-se e de que maneira ela pode ser tratada

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O mês de setembro é marcado pela campanha“Setembro Amarelo”, que visa a conscientizar a população sobre a prevenção do suicídio, problema que pode ser identificado em homens e mulheres. Segundo o Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado em 2017 pelo Ministério de Saúde (MS) — último do órgão sobre o assunto — os homens foram as principais vítimas por lesões autoprovocadas, com 79%. As mulheres, contudo, tentaram mais de uma vez cometer suicídio, representando 69% do total de tentativas entre os dois gêneros.

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Em meio aos motivos que levam as pessoas a cometerem esse ato está a depressão, doença silenciosa que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pode ser considerada o “mal do século”. De acordo com o MS, entre o público feminino analisado na pesquisa, a violência doméstica foi a principal causa da tentativa. Estudo realizado, em 2005 por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), aponta também que a violência doméstica é um dos principais fatores que ocasionam quadros depressivos em mulheres e que elas, consequentemente, começam a desenvolver a ideia de suicídio.

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De acordo com o psiquiatra Amaury Cantilino, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a violência doméstica envolve sentimentos de impotência, medo, frustração e desamparo. “Muitas vezes, a falta de esperança de que a circunstância adversa tenha uma solução dá a associação com transtornos de estresse pós-traumático, depressão e quadros patológicos de ansiedade”, afirma.

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A psicóloga Vanessa Loiola diz ser comum receber em seu consultório mulheres que estão passando por algum sofrimento na relação amorosa. “Nas relações, é possível notar a exteriorização dos processos psíquicos destrutivos. As mulheres podem assumir sua feminilidade e sua liberdade sexual, atentas para que, por meio disso, percebam quando estão sendo colocadas de maneira aprisionadora e abusiva nas relações. Se há um sentimento aprisionador na relação ou um sofrimento psíquico profundo, a ponto de não encontrar saídas que assegurem a continuidade da própria vida, é recomendável buscar ajuda psicológica e psiquiátrica”, alerta.

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De acordo com o professor Fábio Gomes de Matos, um dos autores do estudo “Qualidade de vida e depressão em mulheres vítimas de seus parceiros”, realizado pelo Programa de Atendimento ao Deprimido Refratário (Proadere), do Departamento de Medicina Clinica da Universidade Federal do Ceará, em parceria com o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), a depressão é resultado de múltiplos fatores, indo desde vulnerabilidades genéticas a estresses sociais, principalmente violência na infância, na adolescência e na vida adulta. Além disso, a pesquisa associa adversidades precoces na infância e adolescência e violência familiar com depressão.

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“Frequentemente o machismo, a dependência química, especialmente o abuso de álcool, têm provocado sequelas psicológicas que se perpetuam anatomicamente. Nosso objetivo ao tratar mulheres que sofreram violência doméstica é ser instrumento de resgate da autoestima e canal de conscientização de que elas podem ter liberdade sem sofrer maus tratos”, afirma. O professor explica, ainda, que o modelo de família convencionado na sociedade é uma das razões da permanência de mulheres em relações desse perfil. “Muitas vezes, as mulheres têm dificuldade de sair de relacionamentos abusivos devido ao poder econômico do marido. A ideia de que a família deve ser preservada a todo custo também dificulta a saída de mulheres da situação de abuso”, argumenta.

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Cantilino destaca que, em geral, as mulheres temem pedir ajuda por medo de se sentirem culpadas pelas situações que aconteceram. “Sabe-se hoje que a violência está disseminada na comunidade, nas escolas, e na família. Elas temem pedir ajuda de membros da família para encobrir o problema e evitar a desestabilização do casamento. Outras vezes, temem sofrer represálias por parte do agressor”, afirma. Ele destaca que o pedido de ajuda é fundamental, inclusive para evitar que o problema reincida. “Um círculo vicioso e adoecedor se instala na vida dela. É preciso procurar amparo familiar, assistência de profissionais de saúde e auxílio legal”, frisa.

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Múltiplos fatores da depressão 

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A psicóloga Vanessa Loiola pondera que diversas situações, como problemas de saúde, familiar e financeiro, podem causar depressão e levar ao suicídio. “As atitudes estão relacionadas com a dissociação psíquica severa. Há um grave rompimento da consciência com relação aos processos inconscientes que animam o psiquismo. As causas podem estar em um grau em que o indivíduo pode não encontrar saída para o seu sofrimento.”

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Para Mariana Queiroz*, 22, a perda da mãe, em 2011, quase resultou em um fim trágico. Isolamento e desânimo começaram a fazer parte da sua rotina. Segundo a jovem, que na época tentava uma vaga no curso de medicina, o fato de não conseguir atingir seu objetivo contribuía para a angústia. “Tudo isso acabou em 2017, quando cheguei ao meu pior momento e comecei a ter surtos. Não dormia e pensei até em suicídio. Foi aí que minha família percebeu e resolveu intervir”, conta.

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Ela acredita que vários motivos levaram-a a chegar nesse estado. “Foi toda a pressão da sociedade em cima de mim. Pressão de viver sem a mãe desde os 15 anos e ter que enfrentar sozinha as frustrações de sonhar com um curso tão concorrido e não conseguir ingressar em nenhuma faculdade. Todos os dias, eu morria um pouco, até chegar a uma situação de me questionar sobre o sentindo da vida.” Mariana passou um ano sendo acompanhada por psicólogo e psiquiatra e hoje se sente melhor. Para a universitária, que cursa medicina na Argentina, ter contado com a ajuda de sua família nesse momento foi essencial.

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“Principalmente pelo fato de minha família ter tomado uma iniciativa que eu jamais teria. Eles nunca me trataram como doente, apenas me deram apoio. Assim que provei que estava bem, me deram o voto de confiança de me deixar morar fora do Brasil. Hoje, o mundo voltou a sorrir para mim e eu aprendi a não depositar minha vida inteira em pequenas coisas.”

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Depressão: como ela pode interferir na gravidez 

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Segundo o ginecologista e especialista em medicina reprodutiva Daniel Diógenes, alguns fatores relacionados à saúde mental podem prejudicar a ovulação da mulher. “Estresse, ansiedade e depressão estão associados a uma menor ovulação, menor taxa de gravidez espontânea ou por tratamento, pior qualidade de óvulos, menor taxa de implantação embrionária e maiores taxas de abortamento.”

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Ele afirma que a depressão influi diretamente na qualidade dos óvulos e influencia na fertilidade. “Os quadros de doenças psicológicos estão diretamente ligados ao padrão de ovulação, ao ciclo menstrual e a um correto funcionamento do padrão ovulatório, portanto, ao sucesso da gravidez”, explica. “Buscar terapias alternativas (yoga, pilates, acupuntura) e realizar atividades físicas ajuda muito. Infelizmente, ainda há uma negação muito grande e a maioria das pessoas não acredita que a saúde mental pode influenciar na fertilidade. Depressão, ansiedade e estresse são doenças sérias e precisam ser tratadas adequadamente.”

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*O POVO opta por preservar a identidade original da personagem, que pediu para não ser identificada.

 

 

 

 

 

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