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Sueli Carneiro é uma das homenageadas ao Prêmio Trip Transformadores 2018

Saiu no site INSTITUTO GELEDÉS

 

Veja publicação original:  Sueli Carneiro é uma das homenageadas ao Prêmio Trip Transformadores 2018

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Criado com o objetivo de revelar brasileiros que trabalham para recriar a noção de desenvolvimento humano, transformando a realidade, o Trip Transformadores é um movimento permanente de transformação, pensado para promover a ideia de um mundo mais inteligente, humano e equilibrado. Uma homenagem em reconhecimento às pessoas que, com seu trabalho, ideias e iniciativas de grande impacto ou originalidade, ajudam a promover o avanço do coletivo e do outro.

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Por Renata Simões

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Há mais de 10 anos, o Update or Die é apoiador do projeto. Mais do que uma premiação, é um movimento que ganha força desde 2007 ao celebrar o trabalho de gente que transforma em todo o país paixão em ação, sonho em vida real.

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Conheça os homenageados ao Trip Transformadores 2018

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Neste posts vamos apresentar os homenageados deste ano.

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Gabriela Mansur

Gabriela Manssur
Protegendo mulheres e ressocializando agressores

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A avó, dona Marília, foi quem definiu o futuro de Gabriela Manssur: “Já que você é tão questionadora, então vai ser promotora”. Foi o que a paulistana de 44 anos fez, quando começou a carreira como promotora de justiça em Embu-Guaçu (SP), cidade com altos índices de violência contra a mulher. Lá, conheceu dona Celeste, que apanhava do filho dependente químico. Mesmo com a atuação de Gabriela, Celeste foi morta por ele com 20 facadas: “Naquele dia, minha vida mudou. Decidi não perder mais nenhuma mulher”.

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De Embu-Guaçu, a promotora foi trabalhar em Taboão da Serra (SP). À medida que lidava com mais processos, percebia padrões que se repetiam: a vergonha das mulheres em se assumirem vítimas de violência, a falta de acolhimento delas pelo sistema criminal, a masculinidade enraizada geradora de violência.

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Referência na defesa da mulher, hoje ela integra a Comissão dos Promotores de Justiça e a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário de São Paulo. Gabriela criou também iniciativas como o Tem Saída, que capacita e insere no mercado mulheres vítimas de violência doméstica, e o Tempo de Despertar, que trabalha com a ressocialização de homens que cometeram agressão contra mulheres. Também está à frente de um projeto voltado aos homens processados, que inclui aulas e debates, com 75% de adesão e baixa reincidência.

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Imagem: Revista Trip

Lázaro Ramos
Atuando pela educação

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Acostumado a contar histórias de personagens na TV, no cinema e no teatro, Lázaro Ramos contou a própria nas páginas de Na minha pele (2017). No livro, o baiano passeia por assuntos e reflexões urgentes e espinhosos da atualidade, como o racismo – tema central da publicação –, as desigualdades e a (falta de) educação.

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Desde 2009, o ator de 39 anos é embaixador da Unicef e mantém uma agenda ativa de atuação em projetos de educação, tanto por meio das ações da organização, como de maneira voluntária. “Sempre que posso, vou a escolas, tanto para dar aulas quanto para conversar sobre temas como história do Brasil ou qualquer outro que seja relevante do ponto de vista artístico e da minha vivência enquanto ativista social e cidadão.”

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Para Lázaro, uma ação transformadora é se importar com o outro, com a situação e, dentro dos seus limites e possibilidades, fazer algo efetivo. “Para transformar, é preciso lutar contra essa tendência que todos nós temos de nos habituar às injustiças e desigualdades”, defende.

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Imagem: Revista Trip

Danilo Zampronio
A ciência na prática

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“Precisamos pensar na democratização da ciência. Para quem essas tecnologias estão sendo desenvolvidas? Como será o impacto delas na sociedade?” O silêncio para essas e outras perguntas que acompanham a carreira acadêmica no Brasil foi o empurrão que faltava para o físico biomolecular Danilo Zampronio, 26 anos, pular o muro acadêmico, que separa teoria e prática. “Quis sair daquela caverna que sempre me incomodou muito, em que os artigos científicos acabavam dentro da gaveta. Não sou contra pesquisa de base, mas acredito que o momento que a ciência brasileira vive carece de projetos que façam a ponte para o mercado”, explica o paulistano, o mais jovem dos homenageados do Prêmio Trip Transformadores deste ano.

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Depois de largar o mestrado (“Percebi que aquele modelo, totalmente teórico e distante da prática, confirmava as minhas velhas angústias”), Danilo entrou para o Synbio, um grupo autônomo de alunos pesquisadores de diferentes áreas que se juntam para discutir ciência de forma despojada e democrática. Lá, o físico não só se encontrou, como também os sócios para um projeto que estava por vir.

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Há dois anos, ele fundou a Lotan, startup incubada na USP que desenvolve pesticidas sustentáveis, com baixíssimo impacto ambiental, alta eficiência e sem toxicidade aos seres humanos e outros organismos. “O diferencial dessa tecnologia é que ela é extremamente específica. Atinge apenas as pragas que atacam as plantações, sem causar qualquer impacto aos outros animais e ao ecossistema.”

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Imagem Revista Trip

Lucinha Araújo
Do luto à vida

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Uma mãe nunca se refaz da morte de um filho. Mas Lucinha Araújo, 81, usou sua dor para encontrar um novo motivo para sua existência. Foi após testemunhar o calvário do filho, Cazuza, em sua luta contra a aids, que ela se juntou ao marido, João Araújo, amigos e médicos para fundar em 1990 a Sociedade Viva Cazuza.

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A instituição ampara crianças, jovens e adultos soropositivos e é mantida com os direitos autorais da obra musical do cantor e compositor, além de apoios, parcerias e doações. “A Viva Cazuza nasceu de uma dor e de um trauma para que eu tivesse uma tábua de salvação para a minha vida. Dependo muito mais das crianças que frequentam o espaço do que elas de mim”, diz Lucinha.

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Além da casa de apoio que abriga as crianças em regime de internato, no Rio de Janeiro, a organização promove também a difusão de informação sobre o vírus HIV, parcerias com instituições e hospitais, e mantém o Projeto Cazuza, de acervo do artista, que em 2018 completaria 60 anos.

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“Estou trabalhando para que a Viva Cazuza continue suas atividades depois que eu não estiver mais aqui. Todos os direitos do Cazuza já são dela e vou deixar minha herança para que a instituição possa continuar suas atividades.” Lucinha não para.

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imagem: Revista Trip

Luiz Chacon Filho
A sabedoria que vem da natureza

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Chacon, 43 anos, é pioneiro no Brasil na utilização de bactérias para a criação de soluções ambientais. Mas, ironicamente, o paulistano nunca estudou biologia.

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Formado em administração, teve contato com a ciência graças ao avô, Dinoberto, cientista no Instituto Butantan (centro de pesquisa biológica). Seguindo o legado do pai, que investiu no primeiro laboratório de biotecnologia do país (que faz uso de organismos vivos para solucionar problemas específicos), Luiz fundou em 1995 a SuperBAC. “Meu único propósito foi utilizar a inteligência da própria natureza para transformar os processos produtivos, provando que podemos fazer negócios e, ao mesmo tempo, respeitar o meio ambiente”, explica.

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Na prática, Luiz usa a biotecnologia como uma aliada na descontaminação da água e do chorume, no saneamento básico, na agricultura e na indústria petroquímica. “Temos que ter humildade, prestar atenção na natureza e absorver o aprendizado que ela nos transmite. Tenho certeza de que é possível transformar a realidade do planeta e acredito que nós já estamos fazendo isso.”

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Imagem Revista Trip

Valdeci Ferreira
Por um novo sistema prisional

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Aos 21 anos, Valdeci Ferreira visitou o presídio de Itaúna (MG), pela primeira vez, como parte de um trabalho social. “A situação de miséria e abandono e a presença de tantos jovens, como eu, atrás das grades me impactaram profundamente”, lembra.

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Hoje, aos 47 anos, o advogado e teólogo é diretor-executivo da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), uma associação civil ligada à atuação das Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac). Estes são centros de reintegração social, que seguem uma metodologia criada em 1972, em São José dos Campos (SP). As unidades funcionam, basicamente, sem polícias militar e civil ou agentes penitenciários. Já os serviços – da manutenção das celas à guarda das chaves – são feitos por funcionários e reclusos, que cumprem pena ali.

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Nas Apacs, conta Valdeci, o custo per capita é de um terço do gasto no sistema comum, a taxa de reincidência cai de 85% para índices inferiores a 20% e as fugas são reduzidas. Nos centros, não há rebeliões, atos de violência, drogas, corrupção ou superlotação. Os presos são obrigados a trabalhar e estudar.

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O advogado se dedica a levar esse projeto humanizador para além das 50 unidades que funcionam em cinco estados do Brasil e fora dele – já são 23 países com unidades ou estágios experimentais. “Podemos afirmar com convicção que as Apacs são a revolução do sistema prisional.”

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Imagem: Mario-Ladeira

Sueli Carneiro
Combatendo o racismo e o sexismo

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“Indignação sempre foi a palavra que mais me impulsionou. Odeio injustiça”, conta a filósofa Sueli Carneiro, 67, que viu o racismo surgir cedo em sua vida. “Meus pais me educaram dizendo que poderia ter problemas por causa da minha cor e que teria que cuidar disso. Quando era criança, resolvia batendo.” Aos 20 anos, a reação mudou: “Tive meu primeiro contato com os movimentos feminista e negro. Percebi que a luta não precisava ser solitária ou individual. Virou uma questão política”.

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Há 30 anos, Sueli fundou, ao lado de outras nove mulheres negras, o Geledés – Instituto da Mulher Negra. Primeira organização negra e feminista independente de São Paulo, o Geledés escancara a desigualdade e impulsiona estratégias de inclusão. Na prática, trabalha junto às maiores instituições públicas e privadas no país, combatendo o racismo e o sexismo.

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Nessa luta, Sueli participou de audiências públicas do Supremo Tribunal Federal (STF) para a criação de cotas. Dez anos depois, com três vezes mais negros na universidade no Brasil, ela se depara com uma nova situação: “Os jovens se defrontam com o racismo no mercado de trabalho”.

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Sueli também atua na criação e difusão de cursos de cidadania para mulheres de periferia e lideranças populares na área de proteção à mulher com a criação de programas e aplicativos, além do desenho de políticas públicas para a igualdade de gênero. “É a nova geração que leva esse legado. Tenho recebido muito carinho, e com isso vem a certeza de que a luta valeu a pena.”

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Imagem: Revista Trip

Sebastião Oliveira
Um novo futuro pelo esporte

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Quando era interno da Fundação do Bem-Estar do Menor do Rio de Janeiro, Sebastião Oliveira, 52, conheceu Izaías, seu então professor: “Ele foi um mestre para mim. Aprendi o que devemos fazer com as pessoas: amar, unir, ajudar e dividir. Inclusão, de fato”.

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Pouco depois, Sebastião começou a trabalhar na instituição da qual foi interno e a fomentar o sonho de atrair jovens pelo esporte.

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Já casado e morando na comunidade da Chacrinha, em Jacarepaguá, no Rio, vendo as crianças da favela sem perspectivas de uma vida melhor, interrompeu a construção da própria casa para criar, em 1998, o que até então era um sonho: a Associação Miratus de Badminton. Sebastião conheceu o esporte – parecido com frescobol – quando dava aula de educação física num colégio da cidade. Em 20 anos, a Miratus qualificou dois atletas para a Olimpíada do Rio e acumulou 60 medalhas internacionais.

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Sebastião desenvolveu também uma metodologia própria – e totalmente peculiar – de treinamento: o bamon, que combina os movimentos do esporte com as batidas do samba. “Ações como a Miratus são fundamentais para concorrer com o tráfico, que exerce suas atividades com muita competência e atrai jovens a partir dos 7 anos. Meu sonho é levar a outras comunidades o que acontece aqui. Assim, sigo retribuindo o que fizeram por mim.”

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Crédito :Rogério Alonso

Ricky Ribeiro
De um duro diagnóstico, nasceu uma grande iniciativa

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Há dez anos, Ricky Ribeiro chegava de Barcelona, onde fez mestrado em sustentabilidade, quando percebeu que seu fôlego, força e resistência na prática de esportes tinham mudado. Ricky tinha 28 anos e recebia o que poderia ter sido uma sentença: o diagnóstico de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas.

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Para adaptar-se à nova realidade, o administrador – à época cadeirante – pesquisou o termo “mobilidade” e só encontrou informações dispersas. Dessa deficiência, nascia o Mobilize Brasil, portal sobre mobilidade urbana sustentável (de calçadas acessíveis a um transporte público de qualidade).

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A progressão da doença fez com que hoje, aos 38 anos, Ricky viva acamado e se comunique através de um leitor óptico para escrita e com um programa que transforma texto em voz. Condição que não o impediu de coescrever o livro Movido pela mente (2017). “Quero inspirar as pessoas a não desistir nunca. Recebi uma sentença de morte e me recusei a cumpri-la. Pelo contrário, a noção da brevidade da vida aumentou meu desejo de deixar um legado e me dedicar a algo que faça sentido para mim.”

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Foto Mario Ladeira

Padre Júlio Lancellotti
Pelos direitos humanos e pelas minorias

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Há mais de 30 anos, Padre Júlio Lancellotti milita pelos direitos humanos. O paulistano de 69 anos fundou as Casas Vida I e II (criadas originalmente para acolher crianças portadoras do HIV) e é vigário da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo. Mas, acima de tudo, ele está atento às minorias: “O movimento LGBT, a defesa dos trans, dos discriminados, dos presos, da população de rua – que é o amálgama do que não se quer –, dos doentes, dos prostituídos, dos dependentes químicos. Enfim, desses que são considerados os restos que incomodam os que se sentam às mesas”, resume.

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Processos são uma constante na sua história. Atualmente, o padre está sendo processado por Jair Bolsonaro, por chamá-lo de homofóbico, racista e machista, e é alvo de ameaças de morte e agressões em redes sociais por sua atuação diante das políticas da prefeitura de São Paulo. “Isso faz parte da prática de desqualificar quem defende os direitos humanos”, diz.

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Para Júlio, uma ação transformadora rompe com o que está estabelecido “e esse é um momento de resistência”, diz. “Não vou ver a mudança, faço parte da luta. Sempre perderei, minha perspectiva é o fracasso. Se tiver sucesso, significa que me tornei parte desse sistema preconceituoso, discriminatório e meritocrático que descarta as pessoas.”

 

 

 

 

 

 

 

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