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Site The São Paulo Times (18/11/15) – TEDx São Paulo: a conexão da força feminina

É muito significativo que o TEDxSão Paulo que aconteceu na última segunda-feira, dia 16 de novembro, na Sala São Paulo, tenha refletido com tamanha clareza a força feminina tão presente neste momento; onde o questionamento sobre a presença e, porque não dizer, o domínio feminino de certos espaços e questões mostra-se tão importante. Vivemos um tempo de profundo questionamento do papel e do espaço da mulher no mundo; estimulado por campanhas como #primeiroassedio; pela ocupação temporária de espaços editoriais de seus colegas em diversos veículos; pela renovada discussão sobre o direito ao aborto e as liberdades femininas numa sociedade ainda tão dominada por um renitente machismo, consciente ou inconsciente.

Pois o TEDxSão Paulo foi um espaço dominado pelo feminino. Bastou um breve olhar para os créditos no programa para perceber que a equipe que organizou o evento era composta principalmente de mulheres. Entre os nomes nos programa, apenas 3 nomes de homens num total de 33 nomes nos créditos. E mesmo entre os palestrantes, a maioria era feminina.
E o que isto disse sobre o clima do evento? Muitíssimo. O tema oficial era “Conexões”, um tema convenientemente aberto e inclusivo. Mas, extra-oficialmente, o tema do TEDx parecia ser compaixão, amor, respeito pela diferença. Reconhecimento da importância das narrativas positivas e construtivas, numa sociedade ainda no seu todo tão violenta e agressiva.
Já de início, a primeira apresentadora, a escritora Gisela Cochrane Rao, trocou o minuto de silencio em honra de todas as vítimas das catástrofes recentes de Minas Gerais, Paris e todos os conflitos do mundo por um minuto de abraços. E assim começou um evento desenhado para aproximar, conectar, tocar. Em seguida, a pianista Juliana D’Agostini, numa linda imagem de uma mulher grávida e gestando outra vida, arrebatou a sala com uma abertura de musica clássica em piano solo que valorizou a escolha da sala famosa como a melhor Acústica de concerto no país; seguida por Beto Pandiani e suas histórias de um universo que um dia foi quase exclusivamente masculino, o das viagens de aventura, navegando o mundo num barquinho. Hoje, mesmo os relatos de marinheiros tem uma sensibilidade e uma narrativa sensíveis. Mais que o tempo a bordo e as durezas das travessias, Beto colocou seu foco nas experiências e conexões vividas em terra, com os ianomâmis na Amazônia, trazendo uma visão de comunidade e um senso de descoberta renovado por um olhar muito mais “família” que o que se esperaria de um aventureiro pelos mares do mundo.
Ele foi sucedido no palco por Roberta Estrela D’Alva, trazendo poemas numa leitura apaixonante e emocionada, com uma carga de emoção e força de mover paredes, a “força da luta em tempos sombrios – e a busca por uma luta que não apenas endureça, mas, também, sensibilize; deixando o palco com o punho erguido e a conclamação “Poder ao povo preto”. O palco navegou entre extremos na troca entre Roberta e a força da lírica contra a opressão e a presença da empresária e filantropa Alcione Albanesi, que há décadas capitaneia uma iniciativa que leva alimentos e donativos para as regiões mais pobres do Nordeste brasileiro. As fotos de sua apresentação mostravam, sobretudo, crianças e famílias na sua luta pela sobrevivência num pedaço da nação que é praticamente esquecido pelos programas sociais oficiais; lembrando dolorosamente que ainda vivemos num mundo em que 1 em cada 8 seres humanos padecem de fome e desnutrição.
Christian Westphal, um jovem de apenas 20 anos, trouxe o espaço, a ciência e a astronomia ao TED, assim como leva a sua paixão pela divulgação científica às praças e espaços públicos do sul do Brasil, lembrando que podemos ser mais curiosos; questionadores e manter viva a chama da juventude por perseguir respostas.
Fechando o primeiro bloco de palestras, a cardiologista Luciana Fornari colocou a compaixão e a empatia num lugar de honra na prática médica; elevando o amor pelo outro a condição essencial para a cura, inclusive de nós mesmos. Um fechamento emocionante e aplaudido de pé.

Segundo bloco
O apresentador do segundo bloco foi aberto com a frase “Sejam todas muito bem-vindas!” – e a provocação de gênero na frase fazia completo sentido; especialmente quando completa: “Sejam todas muito bem-vindas, pessoas lindas!”. Edgard Gouveia Júnior estabeleceu uma incrível descontração na sóbria sala de concertos, apresentando a surpreendente cantora Bibba Chuqui; que literalmente derrubou os queixos da sala toda numa performance arrebatadora; mais uma vez explorando a Acústica perfeita da sala ao deixar de lado o microfone na abertura e no final de seu número, cantar no meio do público e até tomar a câmera de uma das fotografas para fazer um “selfie” no meio do público.
Gil Giardelli trouxe um robô e um desfile de inovação e novos paradigmas saídos diretamente do Vale do silício e das grandes universidades e instituições de pesquisa do mundo, fazendo talvez a única palestra onde a conexão emocional não dominou o tom. Ainda assim, em meio a toda a inclinação tecnológica, permaneceu evidente o centro no valor da transformação do mundo: a tecnologia, que um dia pareceu “um valor em si mesma”; é hoje percebida antes de mais nada como veículo para o enriquecimento da experiência humana.
Experiência humana que ganhou contornos históricos através do Gandhi que o ator João Signorelli trouxe ao palco do TED. Curiosa sensação ver neste palco do século 21 um personagem tão importante do início do século passado; com sua mensagem tão atual de compaixão e não-violência como grande caminho para a transformação do mundo; adicionando ainda mais a presença do feminino ao interpretar, entre outros trechos, a leitura da carta enviada a Gandhi por sua esposa.

Depois da presença viva do grande mentor da libertação indiana; foi a vez da jovem Vivian Hanai falar, justamente, da importância de escolher bons mentores.
O médico Fabio Atui abriu sua fala com uma constatação cada vez mais clara: “a medicina está doente. E está doente pela falta de empatia e proximidade na relação médico-paciente.” Mais uma vez, o destaque para a conexão humana, o resgate do sensível: “o exame não fala pelo paciente!” Mais uma vez um homem trazia ao palco uma temática tradicionalmente associada ao universo feminino e relacional.
Do universo da pessoa; passamos à visão social de Rogério Chequer, do movimento vem pra rua; que falou exatamente da importância do relacional nos movimentos; ao descrever como a transição da “rede social virtual” para a “rede de pessoas reais engajadas” vem mudando os rumos de movimentos e protestos na cidade de São Paulo: mesmo no grande movimento de massas, permanecem as relações individuais na base da motivação para o engajamento e a participação.
O segundo bloco foi fechado por uma apresentação forte e dramática, do tipo que não se espera de uma promotora de justiça: Gabriela Manssur não apenas compartilhou histórias: ela viveu no palco alguns dos personagens dos dramas domésticos de violência contra a mulher de um modo intenso e interpretativo. Muito mais que ouvir uma promotora sobre casos judiciais, ouvimos uma mulher dando voz à dor de muitas mulheres.

Terceiro Bloco
O terceiro bloco foi marcado pela presença e a figura absolutamente contagiante de Wellington Nogueira, criador do Doutores da Alegria. Um mestre de cerimônias absolutamente impecável, que tomou o pulso do público e simplesmente levou-o pela mão. Há muito tempo eu não via um apresentador conduzir com tamanha maestria, leveza e perfeição a dinâmica de um evento.
Renato Braz e um duo de violões trouxe o tom latino americano com belíssimas canções em espanhol, embalando uma performance de um casal argentino que foi a própria imagem da conexão entre dois seres humanos, parecendo levitar sobre o palco, completamente absortos na profundidade da conexão de seus movimentos.
Adriana Carranca falou do poder da narrativa, inclusive do poder a escolha entre as muitas narrativas Possíveis, ao trazer uma visão completamente fora da caixa em relação à sua convivência pessoal com mulheres do Egito, Irã, e Emirados Árabes; tanto quanto a sua visão critica de jornalista presente a grandes guerras e cenários de conflito, que tão frequentemente trazem à tona, não apenas o pior, mas tantas vezes o melhor e o mis nobre dos seres humanos em momentos extremos de empatia; solidariedade e entendimento. Aberto pela perspectiva da narrativa de Adriana, o público recebeu a seguir Talal al-Tinawi, imigrante Sírio que deixou toda uma vida para trás e trouxe sua família para São Paulo, em busca de colocar meio mundo de distância entre a guerra e aqueles a quem ama. O relato de Talal; feito num português de poucos meses, simples e direto, atingiu em cheio a conexão da empatia; e não foram poucos os olhos marejados na sala São Paulo.
Renato de Paiva Guimarães seguiu aprofundando o tema da escolha das narrativas; denunciando o papel tantas vezes tenebroso das mídias sociais em propagar medo; discursos de ódio e negatividade, ao mesmo tempo instigando as pessoas a respirar fundo e avaliar com calma antes de abraçar debates vazios de compaixão e entendimento; e ressaltando o papel do indivíduo na construção de uma visão mais positiva e equilibrada de mundo.
Esse momento reflexivo foi estendido e aprofundado pela Lama Tsering Everest; responsável pelo Templo Odsal-ling de uma das linhagens do Budismo Tibetano. Estendido pelos minutos iniciais em silencio, olhando nos olhos da platéia com uma calma e equilíbrio que pareceu colocar toda a audiência em sua própria vibração. Falando em inglês, sem tradução simultânea, para um público que pareceu compreendê-la completamente, falou sobre a profundidade e simplicidade das conexões reais e verdadeiras que podemos estabelecer com o mundo, uma vez que tenhamos estabelecido essas conexão com nós mesmos, lembrando que o mundo é um mero reflexo daquilo que trazemos em nosso interior.
Natalia Leite fechou o programa com leveza e alegria, trazendo as histórias de transformação pessoal criadas através do seu projeto Escola de Você. Amizade e simplicidade; modificando vidas e despertando pessoas comuns, com vidas comuns, através de atitudes extraordinárias, a conexão com o poder de cada indivíduo, por menor e mais comum que pareça; uma vez que se determina a fazer a diferença na sua vida, e por conseqüência, no seu mundo.
Há que se reconhecer que Elena Crescia fez uma curadoria nada menos que brilhante para o TEDxSão Paulo. Conseguiu permear todo o evento com o seu olhar sensível e transformador, unindo falas tão diversas quanto uníssonas, em seus reconhecimentos do poder das narrativas positivas, das escolhas; da compaixão e da empatia entre os seres humanos. O tema “Conexões”, ao final do evento, me parecia resumir a própria personalidade da curadora; um ser humano com uma capacidade impressionante para conectar outros seres humanos, suas histórias e vivências, colocando o melhor da experiência humana no centro de um evento positivamente transformador.

Fonte original da matéria: http://saopaulotimes.r7.com/sp/tedx-sao-paulo-a-conexao-da-forca-feminina/

 

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