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Qual é o papel feminino no despertar das masculinidades saudáveis e positivas?

Saiu no site VOGUE

 

Veja publicação original: Qual é o papel feminino no despertar das masculinidades saudáveis e positivas?

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Ainda sem respostas claras sobre como enfrentar a masculinidade tóxica, os homens têm que se adaptar às novas regras do jogo enquanto as mulheres vão dando o tom

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Por Filipe Batista

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A caminho da terceira década do século XXI, o que podemos compreender por feminilidade e masculinidade? É surpreendente notar que, apesar de tudo que já foi discutido e conquistado, alguns ainda não suplantaram a necessidade de discriminar o que esperar da mulher e do homem em termos socioculturais e psicológicos. E pior, insistem em atribuir valores tóxicos às suas expectativas.

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Numa sociedade patriarcal, o imaginário predominante sobre masculinidade inclui visão e expectativas distorcidas sobre os homens: fortes, agressivos, insensíveis, sexualmente ativos, provedores e bem sucedidos. Nesse cenário, resta pouco ou quase nenhum espaço para manifestar sensibilidade, vulnerabilidade e empatia, características atribuídas às mulheres.

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Num primeiro olhar, os atingidos são os próprios homens, embora nem sempre reconheçam. A ordem “seja homem”, expressa desde a infância, revela a necessidade precoce de alinhamento a modelos limitantes de masculinidade. O resultado? Dificuldade em admitir e externar fragilidade, negação de sentimentos, embotamento, afirmação de práticas intimidadoras e violentas.

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É comum entre amigos homens, por exemplo, que crises pessoais jamais sejam compartilhadas ou que a expressão de afetos seja reprimida — padrão reproduzido nos vínculos familiares e amorosos. Estamos falando também de mortes por causas violentas e suicídio (as taxas são maiores dentre os homens) ou por doenças que poderiam ser evitadas. Outra questão surge quando a autoafirmação da virilidade leva, inversamente, à disfunção sexual em homens ansiosos e preocupados com a performance.

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Por outro lado, embora a masculinidade tóxica não contribua em nada para o homem (presumivelmente branco e heterossexual), para a mulher e outros grupos identitários seus efeitos podem ser ainda mais graves: encorajamento à violência, estupro, homofobia, misoginia e racismo. Em última análise, discutir masculinidades diz respeito não somente aos homens, mas a todo entorno.

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Segundo a OMS, o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo, crime motivado por violência doméstica ou discriminação de gênero. O País também está entre os que mais matam LGBTQ+. Homens que contribuem igualmente com as tarefas de casa (taxados como “dominados” pela lógica machista) ainda são exceção, o que repercute diretamente na vida de mulheres que assumem a missão heroica de conciliar carreira e o trabalho doméstico não remunerado.

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Embora a masculinidade tóxica seja uma expressão atual, o fenômeno que descreve é tão antigo quanto a formação do machismo, ao qual se encontra intimamente ligada. Na verdade, a reivindicação por masculinidades mais saudáveis surgiu a partir do empoderamento crescente de grupos historicamente cerceados, como as mulheres, negros e LGBTQ+.

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Para o imbróglio da masculinidade tóxica, que traz prejuízos aos próprios homens e ao mesmo tempo alimenta o machismo e suas consequências destrutivas, talvez só haja uma saída possível: despertar para as diversas masculinidades, de modo mais livre, saudável e positivo.

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Com esse intuito, é imprescindível reivindicar a participação ativa dos homens em atividades domésticas e no cuidado dos filhos, além de repensar a educação de meninos desde a infância. Não só o que mães e pais dizem, mas como se relacionam e dividem as tarefas de casa, também fundamentam a percepção da criança sobre masculinidade. Paternidade ativa significa ultrapassar a noção de simples proteção, e dedicar-se ao cuidado e divisão real de obrigações.

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A casa e a escola devem ser um ambiente seguro para livre expressão de emoções, sem julgamentos. Jamais incentivar ou autorizar violência como resposta a conflitos, ensinando a buscar apoio quando preciso. Meninos aptos a se expressar, trocar e dividir saberão mais tarde, quando adultos, reconhecer seus limites, sentimentos e respeitar o corpo, a individualidade e as decisões das mulheres. Além disso, precisam ser estimulados desde cedo a se apropriar do espaço doméstico, que também é responsabilidade deles, e a brincar livremente, sem qualquer forma de inibição ou constrangimento, independente de suas preferências. Sem dúvida é um trabalho que requer dedicação e persistência, afinal, o mundo em que vivemos ainda é marcadamente machista.

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Esse panorama, que cobra do homem contemporâneo implicação e reconhecimento da igualdade de direitos e obrigações, gera nele também um crise identitária: como se reconhece e que lugar ocupa hoje na sociedade? Ainda sem respostas claras, os homens estão tendo que se adaptar às novas regras do jogo e, enquanto buscam situar-se, as mulheres vão dando o tom. Elas, fundadoras desse movimento, seguem exercendo pressão por mudança e não aceitarão nada menos que equidade, respeito e espaço.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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