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Projeto do Senado promove inclusão de vítimas de violência no mercado

Saiu no site CORREIO BRAZILIENSE

 

Veja publicação original:   Projeto do Senado promove inclusão de vítimas de violência no mercado

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Independência financeira ajuda a enfrentar os desafios de sair do ciclo de agressões

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Por Mariana Machado

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“Vivi 20 anos com ele. Foram 20 anos passando por violência física e psicológica até finalmente conseguir me livrar.” Esse é o relato de Carla*, 39 anos. Ela passou por momentos de desespero no casamento com um homem que tinha ciúmes de tudo e de todos. Há dois anos, eles estão separados e ela sente que renasceu. Carla é uma das 17 mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência doméstica contratadas por uma empresa terceirizada que presta serviços ao Senado Federal. A iniciativa parte do Programa de Assistência, que determina que 2% das vagas nos contratos de prestação com mais de 50 trabalhadores sejam destinadas a essas pessoas.

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No caso de Carla, o novo emprego representa também uma nova vida. Com o salário, ela se sente segura para cuidar dos quatro filhos, três dos quais têm por pai o ex-marido, que não paga pensão alimentícia. “Depois de 10 anos juntos, ele se tornou pastor, deixou de usar drogas e eu achei que aquilo era uma obra de Deus, que tudo mudaria e eu poderia viver a minha vida em paz. Estava enganada”, lamenta.

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A família morava em uma casa em Brazlândia onde não havia água encanada nem luz. Por ciúmes, ele a torturava de várias maneiras: trancava Carla em casa e a proibia de sair. “Uma vez, eu chamei socorro, mas o policial que foi até lá disse que nós iríamos para a delegacia e sairíamos de lá de mãos dadas. Disse que não daria em nada. Naquele dia, eu apanhei tanto… Meus seios, barriga e costas ficaram sangrando porque ele me derrubava por barrancos de pedra.”

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Quem convivia com o casal não acreditava nas denúncias. Por duas vezes, ela solicitou medida protetiva, mas só obteve na segunda tentativa. “Na igreja, ouvi pessoas dizendo que colocariam a mão no fogo por ele. No altar, ele era uma pessoa, mas, em casa, mostrava que era lobo em pele de cordeiro”, relata. A gota d’água foi o dia em que ele a trancou no quarto, ameaçou estuprá-la e largá-la nua na rodovia.

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Por meio do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), Carla soube do processo seletivo do Senado e se candidatou para a vaga de auxiliar administrativo e sonha em terminar a faculdade.

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Segurança

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A iniciativa teve início em 2016 e se inspira em um projeto do Governo do Distrito Federal, o Com que bolsa eu vou, em que pessoas doavam bolsas recheadas de produtos de higiene e cuidados femininos a mulheres. Ao visitar o projeto do GDF, diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, que levou a ideia à Casa Legislativa, foi abordada por uma mulher cujo patrão estuprava rotineiramente a filha de 14 anos, desde a infância. Mesmo assim, a mãe queria voltar para a casa onde vivia, já que ela não tinha outro lugar para ir. “Voltei pensando no que fazer para mudar aquela realidade e percebi que, embora não seja a única solução, a independência financeira é importante. O que o Senado poderia fazer era encontrar vagas de trabalho que não fossem subempregos”, pondera. Assim nasceu o Ato da Comissão Diretora nº 4/2016, que deu uma nova oportunidade de vida a Carla e tantas outras. Ao todo, são 60 vagas.

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Hoje, a Câmara Legislativa do Distrito Federal e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) manifestaram interesse em replicar a ação. “A cada 90 dias, o GDF tem que nos dar uma declaração atestando o cumprimento dos 2% da cota. Um laudo precisa ser feito dizendo que as empresas estão cumprindo a determinação”, detalha a diretora-geral. “É uma excelente iniciativa, mas é preciso gestão.”

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Assim que uma mulher é contratada, é preciso informar se há uma medida protetiva de urgência em voga e, sendo o caso, as portarias do Senado são informadas a proibir a entrada do indivíduo em quaisquer edifícios do órgão.

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Nathália*, 39, foi uma das primeiras vítimas de violência doméstica a conquistar uma vaga. Ela tem uma medida protetiva contra o homem que a agrediu por 16 anos. “Desde que entrei só tive melhoras. Ele ainda me persegue, mas não pode entrar no Senado. Se tentar, é barrado, então aqui eu me sinto segura.”

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Ela se casou aos 15 anos com um homem com o dobro da idade dela. Desde o começo, viu-se acuada. “Tive de sair da escola porque ele disse que eu não podia estudar. Fui trabalhar aos 19 por muita insistência, mas onde eu ia, ele ficava ligando o tempo inteiro. Quando eu parava de trabalhar, virava refém, porque não tinha dinheiro nem para a passagem de ônibus”, recorda.

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Por cinco anos ela tentou a separação, que só conseguiu por meio de um acordo. “Falei que íamos passar um tempo separados, mas depois voltaríamos. Só assim ele saiu da minha casa.” Em uma noite, ele invadiu o terreno e, quando Nathália pediu que fosse embora, ele a espancou. Foi aí que ela conseguiu a medida protetiva. “Mas a partir daí você não tem norte, então eu fui procurar os órgãos competentes que me orientaram e procurei a Casa da Mulher Brasileira (CMB).”

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Hoje, ela mora em um local sigiloso. O agressor foi condenado a quatro meses e meio em regime aberto. “Agora eu estou bem, posso tocar a minha vida, trabalho e tenho crescido, tanto de forma profissional, como pessoal.” Recém-formada em administração, agora foca nos estudos para concurso público.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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