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O mistério da mulher que estampou a primeira cédula emitida pelo Banco do México

Saiu no site R7

 

Veja publicação original:  O mistério da mulher que estampou a primeira cédula emitida pelo Banco do México

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Ela já foi conhecida como ‘Gloria, a cigana’ e movimentou a economia mexicana de 1925 a 1970

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A mulher que estampou a primeira nota de cinco pesos emitida pelo Banco do México alimentou um mistério que, para muitos mexicanos, dura até hoje.

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Com os olhos grandes e claros, feições delicadas, brincos grandes e joias em volta da cabeça e do colo, sua imagem circulou durante quase meio século, de 1925 a 1970.

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A nota não traz uma linha sequer sobre sua biografia.

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Desde que a cédula entrou em circulação, há um rumor de que a mulher – conhecida popularmente como “a cigana” – seria amante do secretário de Fazenda da época, Alberto J. Pani, que ocupou o cargo entre 1923 e 1927.

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Plutarco Elías Calles assume a presidência; ao seu lado, Alberto J. Pani

BBC NEWS BRASIL
Getty Images Alberto J. Pani (esq.) foi secretário de Fazenda no governo Plutarco Elías Calles (dir.)

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Seu suposto romance com uma atriz catalã chamada Gloria Faure, pivô de um escândalo que quase abalou as relações entre México e Estados Unidos, só reforçou a lenda.

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Para alguns, inclusive, a moça que estampa a cédula é “Gloria, a cigana”.

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Mas quem é ela realmente e como foi parar na nota?

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O Banco Central do México explicou à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

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Escândalo internacional

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Pani levou a atriz de origem catalã Gloria Faure como sua acompanhante a uma viagem que fez a Nova York como ministro de Estado em setembro de 1925 com o objetivo de fechar acordos com banqueiros de Wall Street.

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Sabia-se, na época, que eles tinham um caso, como mostra a pesquisa de Mariana Saucedo, especialista em numismática do Banco do México e autora de Extraordinárias Mulheres nas cédulas do México.

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A informação também aparece no livro Behind the Throne: Servants of Power to Imperial Presidents, 1898-1968 (“Por detrás do trono: servos do poder para presidentes imperiais 1898-1968”), de Robert Freeman Smith.

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Pani (esq.) era um dos homens fortes do governo de Calles
BBC NEWS BRASIL/Getty Images

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Ambos os especialistas ressaltam que a presença de Faure e sua relação com o titular da pasta passou a ser um problema durante as negociações com os banqueiros, entre eles Thomas W. Lamont.

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“Em Nova York, os ultraconservadores contrataram detetives privados para seguir o ministro da Fazenda. Os relatos de suas idas e vindas com Gloria Faure (…) foram enviados a Lamont”, destaca Freeman Smith.

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Ainda que os banqueiros não tenham dado muita atenção às denúncias de adultério, passaram o que sabiam à imprensa, segundo o autor.

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Na edição de 14 de outubro daquele ano, o jornal New York Daily Mirror destacava “uma fotografia de uma bela mulher de cabelos pretos posando com um vestido provocativo com comprimento acima dos joelhos intitulada ‘O senhor Pani é um amante encantador'”, diz Freeman Smith.

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Thomas W. Lamont (esq.) era um dos banqueiros que negociavam com o secretário Pani em 1925Thomas W. Lamont (esq.) era um dos banqueiros que negociavam com o secretário Pani em 1925
BBC NEWS BRASIL/Getty Images

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A notícia virou um escândalo e o ministro chegou até a ser acusado de tráfico de pessoas, conforma a pesquisa de Saucedo.

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“Pani foi detido em seu quarto de hotel e colocado à disposição das autoridades. Foi um papelão: o ministro esteve a ponto de se demitir e as relações entre os dois países quase foram rompidas”, explica a especialista.

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As notícias chegaram ao México e, no Congresso, os deputados criticaram duramente a postura de Pani durante a missão oficial em Nova York.

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A origem do rumor

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O rumor sobre as relações extraconjugais de Pani e a mulher da nota de 5 pesos surgiu a partir desse episódio.

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“Conforme a lenda numismática, Pani, envergonhado pela humilhação que sofreu no país vizinho, teria entregue a foto de sua amante à American Bank Norte Company para que estampassem as primeiras cédulas emitidas pelo Banco do México”, afirma Saucedo.

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A nota de 5 pesos que circulou por 45 anos no México foi chamada de 'cédula da cigana'

BBC NEWS BRASIL/Banco de México

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Isso porque a empresa americana foi responsável pelo desenho e impressão das notas, diz o diretor geral de emissões do Banco do México, Alejandro Alegre. O Banco Central do México foi criado em 1925, mas apenas a partir de 1969 o país passou a imprimir a própria moeda internamente.

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Até então, ela era produzida fora do país. A primeira cédula foi de 5 pesos, mas na sequência foram emitidas também notas de 10, 20, 50, 100, 500 e 1.000 pesos.

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Verso da primeira nota de 5 pesos mostra monumento da independência mexicana

BBC NEWS BRASIL/Banco de México

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“A American Bank Note Company propunha, a pedido do banco, os desenhos que estampariam frente e verso das cédulas”, ele pontua.

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Quem é a mulher?

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O responsável pelo desenho foi Robert Savage, considerado um dos gravuristas de maior destaque dos Estados Unidos do século 20.

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A gravura estampada com buril (ferramenta de aço para gravação em madeira e ferro) foi criada em 1910 – 15 anos antes, portanto, da impressão da cédula – pelo artista e está registrada com o nome “cabeça ideal de uma jovem argelina” com o código C-1031.

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“Dentro das propostas apresentadas havia esse retrato da jovem argelina. Com certeza a imagem caiu no gosto de quem tinha o poder de decidir como as cédulas seriam adornadas”, resume Alegre.

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Ainda assim, nem os especialistas em numismática do México nem os dos Estados Unidos conseguiram determinar quem foi a mulher imortalizada por Savage.

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“O mito surge a partir da fofoca política da época, do hábito comum em muitos países de se comentar, além das capacidades e talentos dos servidores públicos, suas vidas pessoais”, ressalta.

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O estilo da gravura é semelhante ao de outras que retratavam na época mulheres argelinasO estilo da gravura é semelhante ao de outras que retratavam na época mulheres argelinas
BBC NEWS BRASIL/Getty Images

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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