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Médium mascarava abusos sexuais como parte de “cura espiritual”, diz MP-SP

Saiu no site COTIDIANO UOL

 

Veja publicação original: Médium mascarava abusos sexuais como parte de “cura espiritual”, diz MP-SP

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Por Janaina Garcia

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O Ministério Público de São Paulo recebeu até a manhã desta quarta-feira (12) pelo menos 50 relatos de mulheres que afirmam ter sido vítimas de abuso sexual e estupro praticados pelo médium João Teixeira de Faria, 76, conhecido internacionalmente como João de Deus e “John of God”, em Abadiânia, interior de Goiás.

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Segundo a Promotoria, que iniciou a tomada de depoimentos nessa terça-feira (11) e prossegue com eles até janeiro, em comum, as mulheres relataram que os abusos cometidos eram camuflados pelo médium como parte de um suposto tratamento espiritual a quem seriam submetidas.

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Os casos apresentados ao MP paulista correspondem a praticamente um quarto das mais de 200 denúncias apuradas por uma força-tarefa instaurada pelo MP de Goiás para levantar as supostas vítimas em todo o país.

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As denúncias começaram a vir a público na última sexta-feira (7) pelo programa “Conversa com Bial”, da TV Globo. Como as vítimas estão em diferentes estados da federação, os depoimentos são prestados nessas localidades e encaminhados a Goiás.

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médium reapareceu em público nesta quarta-feira pela primeira vez desde que os casos começaram a ser revelados e disse ser inocente (leia mais abaixo).

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Em São Paulo, segundo a coordenadora do Núcleo de Gênero do MP, Valéria Scarance, têm sido tomados e agendados, em média, de cinco a seis depoimentos por dia. Além dela, participam das oitivas também as promotoras Silvia Chakian e Gabriela Manssur, ambas, do Gevid (Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica).

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De acordo com Scarance, as mulheres que encaminharam relatos têm em média 30 anos, sofreram os abusos há anos, ou mais recentemente, são de diferentes estratos socioeconômicos e estavam vulneráveis, física ou emocionalmente, quando buscaram, a ajuda do médium.

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“São dezenas de relatos muito semelhantes de mulheres que sequer se conhecem – é como se estivéssemos ouvindo sempre a mesma história, mudando apenas a vítima”, observou a promotora.

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Os depoimentos já tomados e os relatos que chegaram pelos canais de informação do MP, segundo ela, apontam que as vítimas “ficavam sem reação” ao serem submetidas a práticas que, ainda que denotassem abuso, eram inseridas no contexto de um “trabalho espiritual”.

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“Como isso era tratado pelo médium como trabalho espiritual, elas relatam que ficavam sem reação e não ofereciam resistência, pois temiam pelo processo de cura se reagissem. Falamos de mulheres com doenças crônicas, tristes, desesperançadas, ou seja, muito vulneráveis”, conta a promotora.

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“Mas todas perceberam depois que tinham sido efetivamente abusadas. Uma maioria se manteve em silêncio. As que buscaram ajuda nas próprias famílias ou foram apoiadas, mas não levaram isso à polícia ou foram desacreditadas, taxadas de loucas”, descreve Scarance.

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“O fato é que esses abusos aumentaram a vulnerabilidade dessas vítimas e trouxeram consequências, como traumas profundos, a todas”, completa.

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Médium rezava durante abusos, relata vítima

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Como o caso é investigado sob sigilo, as identidades das vítimas e quaisquer detalhes que possibilitem identifica-las não são informados. Mesmo os depoimentos, explica a promotora, têm sido tomados em uma área reservada do MP a fim de resguardar o sigilo dos trabalhos e a privacidade dessas mulheres.

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Indagada se algum detalhe dos depoimentos já tomados marcou mais as promotoras envolvidas no trabalho em São Paulo, Scarance contou que uma das vítimas relatou que os abusos eram permeados por orações do médium.

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“Uma das vítimas relatou que, enquanto acontecia o abuso, o investigado fazia orações e rezava em voz alta. Isso criou uma confusão nela se seria ou não parte do processo de cura. Essa mulher disse ainda que, depois desse episódio, nunca mais conseguiu ficar sozinha em um ambiente com um homem. Outra vítima contou à família e foi abandonada. O abuso relatado por ela foi severo”.

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Se entre as vítimas o padrão se comportamento se repete, o mesmo foi observado pelo MP-SP no caso do suposto abusador. “Os abusos aconteceriam sempre em uma sala específica do centro onde ele atende. Ele agia sempre sozinho”, destaca a promotora. Ela conclui: “O sentimento que acomete os promotores, como um todo, é de muita surpresa e muita tristeza”, diz.

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Médium reaparece e diz que é inocente

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João de Deus apareceu em público nesta quarta-feira pela primeira vez na Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual criado por ele em Abadiânia, desde que os relatos vieram à tona. Sob aplausos, cumprimentou o público e disse que “queria cumprir a lei brasileira”.

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“Agradeço a Deus por estar aqui. Ainda sou irmão de Deus. Quero cumprir a lei brasileira. Estou nas mãos da lei. João de Deus ainda está vivo”, afirmou a fiéis. Ele permaneceu no local apenas dez minutos e, ao sair, disse a jornalistas que era inocente.

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Defesa reage a acusações

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O advogado de João de Deus, Alberto Toron, afirmou ao jornal “Folha de S.Paulo”, nessa segunda (10), que o médium recebeu com “indignação” a notícia de que é acusado de crime sexual e está à disposição das autoridades para esclarecimentos.

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Em nota enviada ao programa “Conversa com Bial”, a assessoria de imprensa do médium negou as acusações contra ele. “Há 44 anos, João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia, praticando o bem por meio de tratamentos espirituais. Apesar de não ter sido informado dos detalhes da reportagem, ele rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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