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Martha Rocha, deputada estadual que teve carro alvejado no Rio, já afirmou não ter medo de morrer: “Quando você faz a coisa certa, ganha uma armadura, um colete natural que a protege”

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:   Martha Rocha, deputada estadual que teve carro alvejado no Rio, já afirmou não ter medo de morrer: “Quando você faz a coisa certa, ganha uma armadura, um colete natural que a protege”

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A delegada – primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro – e deputada estadual, teve seu carro atingido por tiros no domingo (13) na Penha, na Zona Norte do Rio

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Por Marina Caruso

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A delegada – primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro – e deputada estadual Martha Rocha (PDT-RJ) já recebeu diversas ameaças de morte. O carro onde estava a parlamentar, um Toyota Corolla Branco blindado, foi atingido por tiros no domingo (13) na Penha, na Zona Norte do Rio.

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Em entrevista exclusiva à Marie Claire, publicada em abril de 2011, Martha afirmou não ter medo morrer: “Quando você faz a coisa certa, ganha uma armadura, um colete natural que a protege”. [Leia abaixo a entrevista na íntegra]

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Em entrevista ao O Globo, Martha contou que só em novembro de 2018, ela sofreu três ameaças de morte e, de acordo com o jornal, a polícia — que trabalha com a hipótese de tentativa de assalto — tem um suspeito de atirar contra o veículo. Um traficante do Complexo da Penha, envolvido também com assaltos. Já há uma ordem de prisão contra este suspeito, por outro crime.

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Em junho de 2011, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas do Rio de Janeiro cumpriu 14 mandados de prisão e 25 de busca e apreensão contra milicianos. O vereador André Ferreira da Silva (PR), o Deco, foi apontado pelo Ministério Público como responsável por planejar o assassinato de Marcelo Freixo (PSOL) e Martha Rocha, que era chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro.

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Marie Claire, na época, Martha comentou o incidente: “Em 2007, quando estava à frente da 28ª DP, investigávamos, entre outras coisas, milícias daquela área de Jacarepaguá. O Disque-Denúncia recebeu três notícias de um possível atentado contra mim. Entre essas três notícias, uma trazia até a placa do meu carro. Eu saí da 28ª DP, o inquérito teve andamento e, nesse momento, ainda não posso dizer se as pessoas detidas estão linkadas àquele Disque-Denúncia”.

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Martha Rocha (Foto: Agência Globo)

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Esqueça qualquer estereótipo de policial feminina. Martha Rocha, 52 anos, é delicada, carinhosa e tão fã de Nossa Senhora que, no peito, ao lado de uma estrelinha com o distintivo da polícia, carrega uma medalha com a imagem da santa. Criada em uma família simples no bairro da Penha, no Rio, formou-se em direito pela UFRJ e entrou para a polícia como escrivã, em 1983. “Não sabia o que faria da vida, mas tinha convicção de que não seguiria o padrão”, diz, referindo-se às colegas casadoiras dos tempos de magistério. “A maternidade nunca me encantou.” Mas Martha — com “h” porque o pai achava que seis letras traziam mais sorte — é extremamente maternal. Todos os dias antes de ir do apartamento onde mora, na Tijuca, para o prédio da polícia, no Centro, prepara o café da manhã do sobrinho Luis Felipe, 17. “Ele está morando comigo porque fica mais perto do cursinho”, afirma. “Tenho trabalhado 13 horas por dia, mas não abro mão de fazer seu café. Isso é carinho.”

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Na polícia, o grande trunfo da delegada parece ser justamente sua capacidade de aliar delicadeza e força. Em 1993, então à frente da Delegacia Geral de Polícia Especializada, ela depôs contra o então namorado e chefe de gabinete ao descobrir que ele ganhava propina de bicheiros. “Me senti tão traída que fui sua testemunha de acusação”, diz, com a lisura de quem perde o romance, mas não a honra. “Preferia ter sido traída com outra mulher. Doeria menos.” Em entrevista exclusiva a Marie Claire, a primeira mulher do país a chefiar a polícia do Rio fala dessa e de outras dores e conquistas; do hábito de rezar em cenas de crime e das mudanças que pretende fazer na corporação.

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Marie Claire. Como é ser a primeira mulher a chefiar a polícia do Rio?
Martha Rocha. É uma responsabilidade enorme. A cobrança não vem da polícia, mas de todas as mulheres que torcem por mim: da minha mãe àquelas que me encontram na rua e, sem me conhecer, me abraçam e dizem que estão rezando para que tudo dê certo. Tenho de fazer benfeito por todas elas.

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MC. De que maneira ser mulher ajuda nessa árdua missão?
MR. Não fui escolhida por ser mulher, mas por uma trajetória de 27 anos na polícia. Além disso, sou apaixonada pelo Rio de Janeiro e pela Polícia Civil. Não sou uma tábua de salvação, mas posso prometer que, no que depender do meu orgulho de ser carioca e do meu senso de justiça, resgataremos a segurança do estado.

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MC. A senhora é tão delicada que é difícil imaginá-la em ação…
MR. Sou delicada, mas não sou frágil. Sou firme, determinada. Não tenho medos, mas preocupações. Já denunciei gente importante e não tive medo de morrer por isso. Quando você faz as coisas certas, ganha uma armadura, um colete natural que a protege.

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MC. Já foi ameaçada de morte?
MR. Já. Apurava uma questão de milícia em um morro e chegaram três denúncias anônimas. Uma delas dizia que um grupo [de milicianos] queria me pegar e dava a placa do meu carro. Aumentei o reforço policial e continuei trabalhando normalmente. Virou manchete, mas não deu em nada.

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MC. Como foi sua educação?
MR. Não tenho 1,80 metro de altura, não sou loura, linda nem nasci para ser rica. Sempre dei duro. Nasci na Penha [zona norte do Rio] e cresci vendo meus pais trabalharem na padaria da família. Não tinha dinheiro para me fantasiar no carnaval nem para dançar quadrilha com roupinha de caipira. Não tive Susies como as minhas amigas. Minha única boneca foi uma Pedrita, dos Flintstones, que ganhei da minha madrinha, mas dividia com a minha irmã. Agora [faz uma pausa professoral], ninguém ficou com trauma, tá? Faltou dinheiro, mas nunca faltou amor.

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MC. Seus pais deram força para a senhora entrar na polícia?
MR. Meu pai, que era um feminista sem saber, deu muita força. Ele dizia: “Você tem de trabalhar para não depender de marido e poder se separar”. Ao contrário das mulheres da minha geração, eu não achava que ia casar e ter filhos. Vamos falar sério? Se eu tivesse me casado e tido filhos, não teria chegado até aqui…

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MC. E por que a senhora preferiu entrar para a polícia?
MR. Desde garota trago comigo um senso de justiça. Uma das coisas mais fantásticas de ser delegada é fazer justiça. Comecei como escrivã em 1983 e, antes disso, esse universo policial já me fascinava. Meu personagem preferido é o Bat Masterson [lenda norte-americana]. “No Velho Oeste ele nasceu e entre bravos se criou” [cantarolando]. Por aí você já vê meus ideais. Bat Masterson era inteligente, elegante, justo. Era tudo o que eu quero dos homens da polícia: inteligência, capacidade de investigação e sofisticação no tratamento com as pessoas.

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MC. A senhora quer policiais mais educados e barbeados?
MR. Claro. Se gentileza gera gentileza, elegância gera elegância. Entrei na delegacia outro dia e falei: “Bom dia, que bom seria se o senhor levantasse pra me cumprimentar”. Não é porque sou a chefe de polícia, é porque eu sou mulher e prezo a educação.

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MC. A senhora já fez análise?
MR. Não, só faz análise quem não tem amigo [risos]. Prefiro cantar um “Não quero dinheiro, eu só quero amar”, do Tim Maia, e falar sozinha. Falar sozinha é minha forma de análise.

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MC. Quais decisões foram mais difíceis de tomar ao longo desses 28 anos de polícia?
MR. As pessoas sempre me perguntam quais foram meus casos mais difíceis, o do menino João Hélio [arrastado violentamente em um assalto por bandidos, em 2007] ou o do ônibus 174 [sequestro seguido de morte, transmitido, ao vivo, em rede nacional, em 2000]. Mas o que mais me marcou foi o de uma menina de 13 anos que tentou se suicidar. Ouvi da boca dela que queria se matar porque tinha sido estuprada pelo padrasto e engravidado. O pior é que a mãe dela não acreditava. Desesperada, a garota me dizia: “Tia, me ajuda”. A mãe saía para trabalhar à noite e era nessa hora que o padrasto abusava da menina. Felizmente, comprovamos o abuso e encaminhamos o caso para o Poder Judiciário. Ela fez o que tinha de fazer [aborto]. Mas nada apagará o trauma que ela viveu.

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Martha Rocha (Foto: Agência Globo)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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