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Marta superou Klose, e precisamos desfrutar do feito

Saiu no site GLOBO ESPORTE

 

Veja publicação original:  Marta superou Klose, e precisamos desfrutar do feito

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Por Ana Thaís Matos

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Artilharia em Copas do Mundo volta para o Brasil pelos pés de uma mulher. O feito vai muito além do machismo escancarado e das comparações

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O gol da vitória do Brasil sobre a Itália que foi marcado por Marta fez a Rainha do futebol chegar a marca de 17 tentos anotados e com isso ser a pessoa a ter marcado mais gols na história da competição entre homens e mulheres. Marta também superou, e faz tempo, o número de gols de Pelé com a camisa da seleção brasileira (107 gols em 146 jogos dela; 95 gols em 113 jogos do Rei). O feito acendeu uma grande polêmica nas redes sociais com muitas pessoas (maioria homens) incomodadas com o fato e relacionarem automaticamente algum tipo de comparação de gênero entre Marta e Klose, um grande equívoco que passa pelo entendimento do que é comparação e o que são fatos.

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Marta bate o pênalti que rendeu o recorde de gols em Copas — Foto: ReutersMarta bate o pênalti que rendeu o recorde de gols em Copas — Foto: Reuters

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1 – Não existe comparação de gênero

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O que isso quer dizer? Destacar os números de Marta, ou de Serena Willians (maior vencedora de grand slams da era aberta com 23 títulos entre homens e mulheres) não é dizer que ambas são melhores que os homens, e sim destacar os números, pois dentro da dificuldade encontrada no futebol feminino e no tênis feminino ambas chegaram a marcas históricas. Enaltecer o feito é dar sentido de igualdade para as conquistas. É isso que se busca. Comparação de gênero é chamar Marta de Pelé de saias, ou usar termos masculinos para se referir a Serena (como Serenão). Isso estabelece competição entre homens e mulheres, e não é essa a causa, buscamos igualdade de condições.

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2 – ‘Copa do Mundo feminina é mais fácil que a masculina’?

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Oi? É mais fácil para quem, cara pálida? Para a realidade masculina a Copa do Mundo é mais difícil para os homens, e na realidade das mulheres a Copa do Mundo feminina é dificílima. E isso a gente desenha com os números de Marta e Klose. Marta no Mundial do Canadá em 2015 marcou apenas um gol, em 2003 no primeiro Mundial da Rainha ela anotou apenas três. Para quem julga facilidade em Copa do Mundo, por achar que a masculina é mais difícil por ser disputada por homens e ‘a dinâmica ser diferente’ me surpreende (dentro desse pensamento) como a camisa 10 do Brasil não marcou os 17 gols numa única edição de Mundial, não é mesmo? Percebam o equilíbrio dos números e claro, a dificuldade encontrada por ambos em suas respectivas competições.

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A Rainha segue quebrando marcas — Foto: ReutersA Rainha segue quebrando marcas — Foto: Reuters

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Marta em Copas (17 gols em 19 jogos)

2003 – 3 gols

2007 – 7 gols

2011 – 4 gols

2015 – 1 gol

2019 – 2 gols (até o momento)

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Klose em Copas (16 gols em 24 jogos)

2002 – 5 gols

2006 – 5 gols

2010 – 4 gols

2014 – 2 gols

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3 – ‘Então coloca a Marta na Copa masculina para ver se ela consegue’

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Mas, minha gente… Esse ponto é o mais triste de ler. Uma mulher não precisa superar um homem para provar seu valor. O que se pede é igualdade, que deem a Marta e à todas as mulheres praticantes de futebol as mesmas condições de desenvolver a modalidade como deram e dão aos homens (categoria de base, peneiras, permissão pra poder jogar na rua, escolinhas, estímulo desde a infância, etc). O futebol feminino foi proibido durante anos no Brasil e no mundo, e é só mais um fator de resistência no sentido de igualdade das mulheres na sociedade, como poder votar, poder usar calças, entre outros. Nessa largada, as mulheres também saíram em desvantagem, entendem? Não dá pra comparar nada que surge numa origem desigual.

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4 – A Marta não é o Pelé de saias e a Cris não é Cristiane Ronaldo.

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Entendo o fato que para enaltecer uma mulher ainda usamos figuras masculinas. Afinal, como já disse acima o futebol feminino não tinha outras Martas com números tão expressivos (maior campeã do prêmio de melhor do mundo da FIFA – seis vezes, também superando Messi e Cristiano Ronaldo) para ter referências. Isso é o que está mudando, e com a evolução do esporte e da sociedade vamos ter agora Marta como parâmetro, e outras mulheres como referências. Como não temos muitas narradoras, comentaristas, ministras e qualquer posição de destaque, já que o filtro social boicotou e ainda boicota mulheres. Isso não é vitimismo, mas um fato (baseado em conhecimento de causa). O que não dá mais é para exaltar uma mulher usando figuras masculinas como referência. É um vicio de todos nós, mas faz parte da desconstrução diária de antigos paradigmas e que mostra que para evoluir o pensamento basta querer.

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5 – Copa é coisa de craque

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Aqui entre nós uma piadinha pra descontrair, não dava pra artilharia de Copa do Mundo ficar para o Klose, não é mesmo? Era de Ronaldo Fenômeno e agora volta para nós através dos números de Marta. Acho que um certo camisa 9 concorda. Então vamos desfrutar!

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